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Tráfico lavou dinheiro em conta do Liceu de Artes em SP

Megaoperação da PF apreendeu 3,7 toneladas de cocaína e prendeu 70 pessoas que integravam quadrilhas exportadoras pelo Porto de Santos

Por Felipe Frazão Atualizado em 10 dez 2018, 10h51 - Publicado em 13 abr 2014, 20h22

A Polícia Federal encontrou os primeiros indícios de como os traficantes que tentaram exportar 3,7 toneladas de cocaína pelo Porto de Santos (SP) movimentaram o dinheiro ilícito obtido com a venda da droga para o exterior. Traficantes da Bolívia e da Colômbia receberam pagamentos de criminosos brasileiros em contas bancárias de empresas de fachada, de fabricantes e atacadistas em atividade e até do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, entidade filantrópica com 141 anos de atuação no Estado.

Documentos obtidos pelo site de VEJA revelam que o esquema, com características de lavagem de dinheiro, era operado por pelo menos dois doleiros no Brasil e um nos países andinos. Eles recebiam, em solo nacional, pagamentos destinados aos fornecedores de cocaína bolivianos e colombianos. Depois, repassavam os valores ao exterior. Traficantes e doleiros trocavam mensagens de texto contendo informações das contas correntes e cópias dos comprovantes de depósito. As mensagens escritas em português e espanhol foram interceptadas pela PF ao longo de um ano na Operação “Oversea”, força-tarefa deflagrada na última semana – setenta pessoas foram presas. Os doleiros, porém, continuam soltos.

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Agentes e escrivães da PF conseguiram relatar aos delegados a exata função desempenhada pelos doleiros no intrincado esquema de tráfico. Os policiais identificaram que os pagamentos ao traficante boliviano Rolin Gonzalo Parada Gutierrez eram compensados por dois doleiros – um usava o codinome “Isis” e ainda não teve identidade revelada, e a outra era Maristela Bassan, chamada de “Chris”. Maristela usava um escritório-residência no bairro de Santa Ifigênia, no Centro da capital paulista, para receber valores em espécie. Malas de dinheiro eram entregues no prédio dela. Ambos negociaram, por exemplo, o pagamento de uma carga de 201 quilos de cocaína fornecida em junho do ano passado por Rolin Gutierrez à quadrilha do empresário de jogadores de futebol Angelo Marcos Canuto da Silva.

Isis e Maristela foram responsáveis por indicar e monitorar os pagamentos destinados a Rolin Gutierrez efetivados na conta do Liceu de Artes e Ofícios. Em conversa com um dos doleiros, o boliviano perguntou como o depósito deveria feito. O doleiro respondeu: “Pode ser em três ou quatro vezes, pode ser em diferentes agências ou no mesmo banco. Esse Liceu não precisa de documentos. Aí vai o CNPJ. São empresas grandes”.

Documentos da PF detalham o tráfico de drogas no Porto de Santos

Documentos da PF detalham o tráfico de drogas no Porto de Santos (VEJA)

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Parcelas – A contabilidade dos traficantes revela que a conta bancária do Liceu recebeu oito depósitos que somam 123.000 reais, entre outubro e novembro de 2013. Os seis agentes da PF responsáveis pelas análises de inteligência da Operação “Oversea” recomendaram à Justiça Federal a quebra do sigilo bancário e fiscal do Liceu e de mais duas empresas. Eles querem saber quem são as pessoas autorizadas a efetuar as transações bancárias nas contas. Até o momento, os policiais não apontaram a participação de nenhum funcionário do Liceu, nem das empresas. A investigação estava concentrada apenas em desbaratar o esquema de tráfico internacional por contêineres despachados em navios.

O diretor administrativo do Liceu de Artes e Ofícios, Gualter Braz, disse ao site de VEJA que todos os pagamentos realizados pela entidade são aprovados por dois procuradores de confiança da diretoria e que trabalham no Liceu. “Não desconfiamos de nenhum funcionário”, disse. O centenário colégio da instituição oferece Ensino Técnico profissionalizante e Ensino Médio pago e mantém um centro cultural, atingido por um incêndio em fevereiro. As atividades são bancadas por recursos do braço industrial do Liceu, a LAO Indústria. A planta da LAO em Osasco (SP) fabrica hidrômetros e medidores de gás para exportação na América Latina, inclusive na Bolívia. A indústria costuma receber adiantamentos dos compradores fora do país, como exigência para a entrega do produto no exterior, segundo Braz: “Os valores depositados nas contas bancárias são antecipações de exportações de medidores de água”.

Documentos da PF detalham o tráfico de drogas no Porto de Santos

Documentos da PF detalham o tráfico de drogas no Porto de Santos (VEJA)

Além do Liceu, os traficantes pagaram ao fornecedor boliviano Rolin Gutierrez por meio das contas de uma fábrica de balas e alimentos em Tapejara (RS) e de um comércio atacadista em Curitiba (PR). A quadrilha brasileira também usava uma casa de câmbio para trocar moedas. Os agentes da PF investigam o uso de duas empresas de Angelo Marcos Canuto da Silva, a Stillos Express e a Quality Peças, na lavagem de dinheiro.

Mogi – O terceiro doleiro identificado pela PF é um libanês que se dedicava a intermediar no Brasil as transações clandestinas de quadrilhas de Mogi das Cruzes (SP) e da Baixada Santista, inclusive de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Elas compravam drogas de um produtor colombiano. Além de usar os serviços do doleiro, a célula criminosa de Mogi das Cruzes, liderada pelo traficante Suaélio Martins Leda, registrou imóveis em nome de empresas de fachada para esconder o patrimônio obtido com a venda de drogas. Duas casas em condomínios de classe média alta e um sítio de luxo na Estrada Mogi Bertioga possuem contas em nome da offshore Oklona. A sede da empresa fica no Uruguai.

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