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‘Time reserva’ do PT entra em campo no Congresso

A falta de renovação e as sucessivas baixas por escândalos obrigaram o PT a indicar para postos-chave figuras que sempre estiveram em segundo plano

Por Gabriel Castro e Marcela Mattos, de Brasília
1 mar 2015, 07h26

O Partido dos Trabalhadores é o mais importante do Brasil: comanda a Presidência da República há 12 anos, elegeu a bancada mais numerosa da Câmara dos Deputados e possui o maior número de filiados. Ainda assim, dentre os muitos sinais da decadência recente da sigla estão a falta de renovação de líderes. A cúpula petista na Câmara é o melhor exemplo disso.

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Hoje, os três homens mais influentes do Partido dos Trabalhadores na Casa não são figuras respeitadas por sua experiência nem jovens lideranças em ascensão. A elite do PT é composta por nomes oriundos do banco de reservas. O trio é formado por Sibá Machado (AC), o líder do PT, José Guimarães (CE), líder do governo, e Luiz Sérgio (RJ), o relator da CPI da Petrobras.

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Sibá chegou à liderança do PT depois de vencer apenas duas eleições na vida. A primeira foi em 2010, também para a Câmara. Até então, ele havia feito carreira em cargos de confiança do partido em seu Estado. Passou uma temporada no Senado durante o governo Lula porque era suplente de Marina Silva, escolhida como ministra do Meio Ambiente. Dentre seus momentos mais marcantes, está sua renúncia à presidência do Conselho de Ética exatamente quando o colegiado se preparava para julgar o pedido de cassação contra Renan Calheiros (PMDB-AL).

Quem passou o bastão para Sibá foi outro nome que, até pouco tempo atrás, fazia parte do segundo time da bancada: Vicentinho (SP). Embora tenha uma carreira mais longa do que dos três acima, o deputado nunca foi um líder entre seus pares. Seu histórico diz tudo. No auge da crise do mensalão, por exemplo, Vicentinho subiu à tribuna para acusar o colega Pauderney Avelino (DEM-AM) de racismo. O deputado amazonense havia usado as expressões “noite negra” e “denegrir”. “Não podemos permitir que determinadas palavras desqualifiquem uma raça”, argumentou o petista.

Há dez anos, José Guimarães era um deputado estadual quando seu principal assessor foi preso em um aeroporto com dinheiro na cueca. O líder petista tem outra peculiaridade: é irmão de José Genoino, um dos nomes fortes do PT no Congresso que acabou alijado do poder após o mensalão.

Já o fluminense Luiz Sérgio chegou à Câmara há 16 anos, mas ainda não conseguiu ver um de seus projetos aprovado. Uma das poucas virtudes políticas do ex-carregador de malas do mensaleiro José Dirceu é a capacidade de cumprir ordens sem se queixar – é apelidado de “garçom, aquele que só anota pedidos -, o que explica sua passagem malsucedida pela Secretaria de Relações Institucionais, seu rebaixamento para o Ministério da Pesca e, agora, a escolha de seu nome para comandar as investigações na CPI mais temida pelo governo.

A falta de renovação e a ausência de peso político na linha de frente do PT na Câmara tem mais de uma explicação.O natural e constante processo de substituição de lideranças foi prejudicado por casos de corrupção que derrubaram figuras como Antonio Palocci, José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha. Dois nomes que emergiram no período pós-mensalão também caíram em desgraça: Cândido Vacarezza, que foi líder do governo na Câmara, e André Vargas, que chegou a ser vice-presidente da Casa, foram varridos por causa de seu envolvimento com personagens do petrolão.

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Dos seis líderes mais importantes da Câmara, Sibá é o mais velho. Guimarães é o segundo. O deputado acreano tem 57 anos; o colega cearense, 56. A oposição, por exemplo, tem como líder o jovem Bruno Araújo, de 43 anos. No PMDB, o escolhido foi Jorge Picciani, de apenas 34 anos. O do DEM é Mendonça Filho, com 48. O do PSD, Rogério Rosso, com 46. O do PSB, Fernando Coelho Filho, 31. O do PP, Eduardo da Fonte, 43. O líder do PSDB, Carlos Sampaio, é o mais experiente: tem 52 anos

Os três deputados do PT que se destacam pela experiência e desfrutam de algum respeito entre os colegas foram parar em segundo plano. Arlindo Chinaglia (SP) perdeu a disputa pela Presidência da Câmara depois de uma articulação atrapalhada do governo. Henrique Fontana (RS) deixou a liderança do governo porque o novo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB), se recusava a negociar com ele. Marco Maia (RS) recusou a relatoria da CPI da Petrobras por falta de disposição para exercer uma função tão desgastante.

A falta de figuras de destaque parece atingir também a cúpula do governo. Os três ministros mais importantes do entorno da presidente Dilma acumularam derrotas nos dois primeiros meses do segundo mandato. Aloizio Mercadante, da Casa Civil, Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral, e Pepe Vargas, de Relações Institucionais, estão entre as poucas pessoas com acesso direto à chefe do Executivo. Caberia a eles tocar o dia a dia do governo, especialmente o relacionamento com o Congresso e a sociedade. O que se viu até agora, entretanto, foi uma articulação política débil, que conseguiu não só perder a eleição para a Presidência da Câmara ainda no primeiro turno como irritar o presidente eleito, Eduardo Cunha, e desmoralizar um dos poucos quadros graduados do PT na Casa, Arlindo Chinaglia.

Até mesmo os caminhoneiros conseguiram deixar o governo na berlinda nesta semana, depois que o Executivo fechou um acordo fictício com entidades que não representavam o movimento grevista. E não há muitos sinais de que a sorte do PT e do governo será muito diferente nos próximos meses.

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