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Teste revela a ideologia dos políticos (ou a falta dela)

Um trabalhista contra direitos trabalhistas. Jair Bolsonaro na esquerda. PT e PSDB lado a lado. É o retrato da política partidária brasileira

Por Gabriel Castro e Laryssa Borges
10 jun 2012, 08h23

O quadro político brasileiro espelha o mais completo caos. A base aliada é capitaneada por um partido histórico de esquerda, mas abarca até mesmo o PP, herdeiro da antiga Arena – que ajudou a perseguir os fundadores do PT. O bloco de oposição coloca no mesmo barco uma legenda liberal clássica, o DEM, e um herdeiro do Partido Comunista, o PPS. No Congresso e nos governos, o debate de ideias tem sido substituído pela mais pura e pragmática disputa de poder. E se, em meio a esse cenário, os políticos brasileiros fossem submetidos a um exame de “pureza” ideológica?

O site de VEJA aplicou a nomes influentes dos 13 maiores partidos do Brasil o teste do Politicômetro, criado para avaliar com critérios objetivos a orientação ideológica dos eleitores. O resultado mostra um relativo consenso em temas relativos às liberdades individuais e uma ampla variedade de opiniões quando o assunto é a economia – com uma visível vantagem para os esquerdistas.

Entenda – Os conceitos de direita e esquerda, liberalismo e conservadorismo são objeto de intensa discussão teórica. O teste de VEJA adota critérios adaptados ao cenário brasileiro. Quanto mais defensor da economia livre e do estado mínimo, mais direitista. Quanto mais enfático apoiador da economia gerida pelo estado e do controle dos meios de produção, mais esquerdista.

O eixo vertical, que vai do “liberal” ao “antiliberal”, diz respeito às liberdades individuais. Alguém que defenda a legalização da maconha, por exemplo, ganha pontos na escala de liberalismo. Quem é a favor do ensino religioso nas escolas caminha no sentido oposto.

O quadrante inferior esquerdo – dos que defendem uma economia gerida pelo estado e, ao mesmo tempo, são flexíveis em relação aos costumes, foi o mais frequentado no teste de VEJA: oito representantes. A direita-liberal, circunscrita ao quadrante inferior direito, teve quatro afiliados. São entusiastas do mercado como condutor da economia que, ao mesmo tempo, mantêm noções relativamente progressistas em temas ligados aos direitos individuais.

O quadrante superior esquerdo teve apenas um representante. Nesta área, ficam os defensores de um estado forte, intervencionista na economia, e intransigentes em relação a temas como a legalização das drogas e o aborto.

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O conservadorismo clássico, que alinha o liberalismo econômico à defesa dos valores tradicionais, é representado no gráfico pelo quadrante superior direito – o único que ficou vazio. Esse vácuo parece ser uma particularidade brasileira. “A democracia é um regime de palavras e os políticos têm a obrigação de dizer a que vieram, pelo que lutam, o que defendem”, diz o cientista político Paulo Kramer. “É uma anomalia que ninguém se assuma como de direita conservadora”.

Para Kramer, a herança dos anos de ditadura e a falta de cultura política entre os brasileiros (e mesmo entre parlamentares) contribuem para o preconceito de se declarar direitista. “Há um atraso político e ideológico no Brasil”, acredita. “Parece que o muro de Berlim caiu no quintal da esquerda brasileira e ainda não removeram o entulho”.

Flash

Incongruências – Uma análise detalhada dos resultados obtidos pelo Politicômetro mostra algumas curiosidades. O senador Valdir Raupp, presidente do PMDB, foi marcado como liberal de centro-direita no exame. E não gostou: “Eu queria ter ficado mais para a esquerda”, disse. O peemedebista pediu para refazer a avaliação, orientado por um assessor. Dessa vez, saiu-se como centro-esquerdista e ficou satisfeito. O site de VEJA, entretanto, considera que a primeira versão do teste foi a mais sincera. É a que aparece na imagem.

Preocupado com o resultado do próprio teste, outro parlamentar pediu sigilo para fazer uma proposta: só aceitou participar da avaliação sob a condição de que, se fosse taxado como de direita, o resultado não seria publicado. No fim das contas, não precisava temer. Ele é dos centro-esquerdistas.

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Há, também, incongruências que mostram a falta de identidade ideológica que atinge as legendas. O deputado Sílvio Costa (PTB-PE), um dos protagonistas da CPI do Cachoeira, embora pertença ao Partido Trabalhista Brasileiro, tem ideias surpreendentes: é a favor, por exemplo, de que benefícios como o 13º salário e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) sejam retirados da lei e negociados caso a caso. Ele acredita também que deve haver cobrança de mensalidades em universidades públicas. Apesar disso, não se vê como um liberal de direita. “Defendo o estado mínimo, mas sou de centro-esquerda”, diz.

Outro caso curioso é o do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). Foi marcado como um representante da esquerda antiliberal. O deputado é a favor, por exemplo, da aplicação de métodos violentos na tentativa de obter confissões de criminosos. Economicamente, entretanto, está mais perto do PT do que do DEM. “Acho mesmo que o estado tem que gerir a economia”, explica. “Mas costumo me identificar como conservador”.

Para o cientista político David Fleischer, a frouxidão ideológica dos partidos subsiste, em parte, porque o eleitor também não demonstra interesse pela macropolítica. “Alguns partidos políticos tenuamente tentam se filiar a uma ideologia, mas com tantas legendas, essas ideologias não ficam muito evidentes”, diz. “Para a maioria, estar em um partido ou outro não tem a ver com ideologia. E o eleitor também não liga muito para isso na hora do voto”.

PT e PSDB – Em meio à falta de identidade ideológica dos partidos, o PSD se tornou um símbolo do pragmatismo entre os partidos brasileiros. É, nas palavras de seu comandante Gilberto Kassab, uma sigla “nem de esquerda, nem de direita, nem de centro”. Ironicamente, foi um representante da legenda o político que se posicionou mais claramente à direita no teste: Guilherme Campos, líder do PSD na Câmara. Egresso do DEM, defensor do livre mercado e um cético quanto à intervenção do estado em matéria de valores, ele se encaixa no perfil do liberal clássico. E diz que a frase de Kassab se justifica não porque faltem bandeiras, individualmente, aos integrantes do partido, mas porque o perfil dos adeptos do PSD é variado. “O partido ainda é muito heterogêneo e deve passar a ter uma cara mais definida na próxima eleição”, diz.

Há quase duas décadas, PT e PSDB protagonizam as disputas políticas em plano nacional. Mas, programaticamente, têm mais semelhanças do que diferenças. O teste do Politicômetro confirma isso. Alvaro Dias (PSDB-SP), líder tucano no Senado, e o veterano senador petista Eduardo Suplicy (SP), apareceram próximos um do outro, na centro-esquerda liberal. Dias afirma que o resultado corresponde ao que pensa da própria atuação: “Costumo dizer que sou camisa 10, caindo para a centro-esquerda”. Suplicy também saiu satisfeito – cobrou apenas a inclusão de uma pergunta sobre o programa Renda Mínima no exame.

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Veja quem participou do teste:

PT: senador Eduardo Suplicy (SP)

PSDB: líder do partido no Senado, Alvaro Dias (PR)

PMDB: presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO)

PSB: senador Rodrigo Rollemberg (DF)

PSD: Guilherme Campos (SP), líder do partido na Câmara

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DEM: presidente do partido, senador José Agripino Maia (RN)

PTB: Sílvio Costa (PE), deputado e integrante da CPI do Cachoeira

PDT: deputado Reguffe (DF)

PR: líder do partido na Câmara. Lincoln Portela (MG)

PSOL: senador Randolfe Rodrigues (AP)

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PCdoB: senadora Vanessa Grazziotin (AM)

PPS: presidente do partido, deputado Roberto Freire (SP)

PP: deputado Jair Bolsonaro (RJ)

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