Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Spray de pimenta: arma à venda na web

Por Da Redação
17 mar 2009, 15h04

Por Natalia Cuminale

Originalmente desenvolvido para repelir animais perigosos, o spray de pimenta foi largamente adotado pelos carteiros americanos, que tentavam se proteger de cães ferozes. No Brasil, o item tem conquistado adeptos que o utilizam para se defender de outro tipo de perigo: a criminalidade dos centros urbanos. Apesar de ser classificado como arma não-letal de uso controlado pelo Exército, o spray pode ser facilmente encontrado em sites brasileiros, onde é vendido por cerca de 50 reais, nas apresentações de chaveiro, caneta e até batom. Aceita-se cartão de crédito e boleto bancário na compra.

Até o site de relacionamentos Orkut abriga a comunidade “Eu tenho um spray de pimenta”, com 57 membros. No fórum do site de discussão, pessoas discutem qual é a melhor forma de comprar e até fazem propaganda da venda. Outras revelam ter trazido o produto do exterior.

Spray em canetaEmbora saibam que o comércio e o porte do spray é ilegal, os consumidores alegam que o produto traz mais segurança diante da crescente violência nas grandes cidades. Por conta da pequena dimensão, o item pode ser guardado dentro de bolsas e porta-luvas do carro, além de ser até pendurado junto com as chaves de casa.

Continua após a publicidade

Spray em família – L.M, de 26 anos – que prefere não revelar sua identidade nesta reportagem -, conta que comprou seu primeiro gás de pimenta há seis meses, na Argentina. Atendeu a uma sugestão do marido, que é policial militar, em São Paulo. “Ele sempre me diz para não reagir em hipótese alguma a assaltos, se o criminoso estiver armado. Mas, por exemplo, se eu estou descendo do ônibus e uma pessoa vem me atacar, dá tempo de borrifar, correr, pedir ajuda para o porteiro e entrar no meu prédio”, afirma.

A preocupação com o bem-estar dos familiares é de fato uma das principais responsáveis pela difusão do spray entre os brasileiros. Esse foi o caso de J.V, de 28 anos, diretor-executivo de uma importadora, que ganhou sua primeira arma não-letal do pai, quando tinha 14 anos. “Sou de uma família tradicional de Foz do Iguaçu e, consequentemente, um possível alvo de sequestro”, explica. Acostumado a andar com o produto pendurado na cintura, ele conta que sempre presenteia as pessoas próximas com o spray. Ele garante que já reagiu a dois assaltos, mas nunca foi repreendido por policiais devido ao porte do spray. “Ao contrário: nos dias das ocorrências, os policiais me disseram: ‘Sorte que você tinha um spray�’.”

Vale lembrar que as autoridades condenam a reação a assaltos, como a praticada por J.V. “Não aconselhamos usar nenhum tipo de armamento, que muitas vezes pode acabar sendo usado contra a própria vítima”, orienta o tenente Elço, do 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar de São Paulo. “É preciso manter a calma em um momento de crise e pedir apoio instantaneamente a uma patrulha.”Spray em batom

Continua após a publicidade

Dor inesquecível – Enquanto uns não abrem mão do spray, outros querem distância desse tipo de arma. É o caso da jornalista Thaíla Alves Moreira, de 26 anos, que depois de uma experiência traumatizante passou a abominar o produto. Ela estava com seis amigos na porta de uma casa noturna, quando um de deles mexeu com uma garota de outro grupo. Nervoso, um rapaz que acompanhava a garota foi até o carro, pegou o spray e borrifou a substância em todos os que estavam no local. “Dói tanto que você não sabe o que fazer para evitar aquela sensação: se fica agachado, em pé, se joga água, se tenta abrir o olho. Na hora, só reconhecia meus amigos pelos gritos, porque ninguém conseguia ver o outro”, lembra. “É uma sensação que não se esquece.”

Segundo a jornalista, a situação só melhorou quando todos foram encaminhados para o hospital. “Ficamos deitados nas macas, tomando soro na veia.” Um oftalmologista foi chamado para avaliar eventuais danos à visão das vítimas. “Foram horas com pomadas nos olhos, com os olhos vendados”, diz a jornalista. Quando o problema parecia superado, ela teve de voltar ao hospital, pois havia coçado os olhos e voltou a sentir ardência.

Ninguém foi punido pelo acontecido. Segundo a jornalista, um segurança da casa noturna chegou a anotar a placa do carro do rapaz que usara o spray, mas não foi possível fazer nada. “Alguns dias depois, fomos à delegacia, mas o delegado disse que precisávamos ter feito exame de corpo de delito na hora da agressão. Eu pergunto: como ir ao Instituto Medido Legal fazer o exame se nós mal conseguíamos respirar ou ficar em pé?”, questiona Moreira.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.