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“Só fiz o que era republicano”, diz Demóstenes

Senador fala há mais de três horas ao Conselho de Ética, onde responde a processo de cassação, e afirmou que desconhecia crimes de Cachoeira

Por Gabriel Castro e Laryssa Borges
29 Maio 2012, 13h58

Durante o depoimento ao Conselho de Ética do Senado, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) disse ser vítima de um “conluio” entre o Ministério Público Federal e a Polícia Federal. Depois de falar por cerca de duas horas, Demóstenes passou a responder perguntas dos integrantes do colegiado. O parlamentar alega que as gravações que mostraram sua relação com o contraventor Carlinhos Cachoeira são ilegais. “Há um conluio entre Ministério Público e a Polícia Federal para se fazer investigação em cima de um parlamentar”, afirmou. “A investigação deve ser feita pelo STF. As provas são totalmente ilegais. O processo foi todo montado”.

Ao responder as perguntas do relator do processo de cassação, senador Humberto Costa (PT-PE), Demóstenes disse que não estranhou quando recebeu de Cachoeira um aparelho radiocomunicador Nextel. “Hoje, voltando no passado, é óbvio que eu jamais faria isso novamente”, declarou. Demóstenes admitiu que a conta do aparelho era paga pelo próprio Cachoeira: “Uns 50 ou 60 reais por mês”.

Dada a gigantesca quantidade de conversas indicando que Demóstenes colocou o mandato a serviço da quadrilha, o senador baseou sua defesa na tese de que não atendeu todos os pedidos feitos pelo contraventor. “Nem tudo o que se diz se faz”, justificou. “Fiz tudo o que achei que era republicano. O resto não fiz”. O senador também disse que se sente traído por Cachoeira. “Todo mundo que se relacionou com ele não tinha conhecimento (das atividades criminosas)”. A veracidade da tese do senador foi colocada à prova durante o próprio depoimento, já que ele foi suplente da CPI dos Bingos, comissão de inquérito que, ao final dos trabalhos, indiciou o próprio Cachoeira.

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Demóstenes afirmou que se aproximou de Cachoeira quando foi secretário de Segurança de Goiás, entre 1998 e 2002, e lembrou que, na ocasião, o grupo do contraventor tinha o monopólio legal dos jogos de azar no estado. “Ele cobrava de mim e de outras autoridades a atuação contra outros exploradores que eram, naquele contexto, considerados ilegais”.

Apelando mais uma vez para o discurso emocional, Demóstenes disse ter “vergonha na cara”. “Posso dizer que nunca sofri tanto na minha vida”, declarou. “Sou um homem que tem vergonha na cara. Fiquei um mês para entrar no Senado para ter coragem de olhar para os senadores. Ninguém pode usar o nome de deus em vão para defesa. Sou um carola, fiquei esse tempo meio perdido. É um momento dificílimo na minha vida”.

Poucos parlamentares, além do relator, decidiram formular perguntas a Demóstenes Torres na sessão do Conselho de Ética. “Como convive nove anos com um contraventor do jogo do bicho e não sabe que é bicheiro?”, questionou o senador Mário Couto (PSDB-PA).

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No depoimento, Demóstenes negou que tenha utilizado contas bancárias de outras pessoas para receber recursos ou aceitado cartões internacionais de débito para compras. Assim como havia defendido no início da oitiva, disse que não conhece e não tem “nenhum interesse” com o ex-presidente da construtora Delta, Fernando Cavendish.

Procurador-geral – Embora alvejado por seguidas denúncias de envolvimento com o esquema de Carlinhos Cachoeira, Demóstenes acusou, durante o depoimento, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de prevarização e improbidade administrativa. Para ele, o chefe do Ministério Público agiu deliberadamente para não levar adiante as investigações e tampouco arquivá-las.

“Não tem o procurador-geral da República o condão de dizer que não vai ou vai atuar”, afirmou. “Ou ele pede o arquivamento ou oferece denúncia ou requer diligências. O que fez o procurador-geral foi uma inação. Creio que ele, mais dia menos dia, vai ter que explicar por que fez dessa forma. A atitude foi totalmente desarrazoada e não tem amparo jurídico”.

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Orquestração – Mais cedo, Demóstenes falou seguidamente por quase duas horas e apresentou sua versão às principais acusações que sofre. Demóstenes começou a falar às 10h20. Com a fisionomia abatida, ele apelou para o sentimentalismo, disse passar por uma crise pessoal e citou a família. “Devo dizer a vossas excelências que vivo o pior momento da minha vida, um momento que jamais imaginaria passar”, afirmou. “A partir de 29 de fevereiro deste ano, hoje estamos inteirando três meses do episódio, passei a enfrentar algo que nunca tinha enfrentado na minha vida: depressão, remédios para dormir e que não fazem efeito, fuga dos amigos e talvez a campanha sistemática mais orquestrada da história do Brasil”.

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