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Só 3,8% dos municípios brasileiros têm plano de transporte

Má qualidade dos serviços foi a gota d’água dos protestos que levaram milhões às ruas. Segundo IBGE, apesar de haver órgãos públicos, a gestão é inoperante

Por Pollyane Lima e Silva
Atualizado em 10 dez 2018, 10h52 - Publicado em 3 jul 2013, 10h01

O descaso dos governos com o transporte público – estopim das manifestações que ainda sobrevivem nas ruas de todo o Brasil – é um problema crônico das gestões municipais. De todas as 5.565 cidades do país, somente 210 têm um plano de transporte, o que equivale a míseros 3,8%. O levantamento foi feito pela Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) 2012, divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que entende como plano de transporte todo o planejamento da estrutura viária, as tarifas e a política de transporte de passageiros. A questão, portanto, não é só o reajuste de poucos centavos nas passagens de ônibus, como cansou de repetir quem protestava, mas sim a baixíssima qualidade da gestão e dos serviços. Na Munic de 2008, quando a mesma pergunta foi feita, 3,1% tinham concluído o projeto. Ou seja, em quatro anos, quase nada evoluiu.

Tema em Foco: Protestos no Brasil

O índice cresce consideravelmente apenas no recorte das grandes cidades, com mais de 500.000 habitantes: 55,3% das prefeituras informaram ter plano de transporte. Mas entre as 27 capitais brasileiras (incluindo Brasília), dez não possuem planejamento. Seis delas estão na Região Norte, onde apenas Macapá (AP) concluiu o projeto. No Nordeste, as prefeituras de Salvador (BA) e João Pessoa (PB) não registram nenhum avanço nesse sentido. O mesmo acontece com Florianópolis (SC), no Sul, e Cuiabá (MT), no Centro-Oeste. Na Região Sudeste, todas as capitais têm plano específico para o setor. São Paulo é o estado com o maior número de cidades preocupadas com o transporte urbano, 41. Tocantins e Acre têm apenas um município com plano de transporte – e não é a capital em nenhum dos casos, e sim cidades de até 10.000 habitantes, Aparecida do Rio Negro e Manoel Urbano respectivamente.

O professor da Coordenação de Programas em Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da UFRJ Paulo Cezar Ribeiro lembra que a elaboração de um plano diretor de transporte e mobilidade é “obrigatória” para municípios com uma população maior do que 500.000 pessoas, “fundamental” aos com mais de 100.000 “e importantíssimo para todos os municípios brasileiros”, conforme determina o Plano Diretor de Mobilidade (PlanMob), do governo federal. Desenvolvido pelo Ministério das Cidades em 2007, o PlanMob é um guia criado para estimular e orientar os municípios nesse planejamento. “Um projeto desse tipo tem a missão de pensar ações que aumentem a mobilidade, a eficiência e o conforto dos serviços – exatamente o que pedem os brasileiros nos protestos. É preciso estabelecer formas de movimentação racionais e eficientes”, destaca Ribeiro. “Impressionante imaginar que uma cidade de grande porte não tenha o plano.”

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Legislação – O quadro é tão alarmante que o governo federal sancionou em janeiro do ano passado uma lei que exige das prefeituras a elaboração de um planejamento específico para o setor até 2015. “O Plano de Mobilidade Urbana deverá ser integrado ao plano diretor municipal, existente ou em elaboração”, detalha o texto, que prevê até punição a quem não cumprir o prazo: recursos federais que seriam destinados à área de transportes serão cortados até que sejam atendidas as determinações. A obrigatoriedade, neste caso, é para municípios com mais de 20.000 habitantes. A coleta de informações para esta edição da Munic foi realizada entre maio e dezembro de 2012, ou seja, depois que a legislação já estava em vigor.

Entre os tópicos que precisam estar contemplados no projeto, detalha o documento, estão os serviços de transporte público coletivo, a circulação viária, as infraestruturas do sistema de mobilidade urbana e a acessibilidade para pessoas com deficiência. “O transporte deve ser inserido em um contexto mais amplo, o da mobilidade urbana, que relaciona qualidade de vida, inclusão social e acesso às oportunidades da cidade”, diz a lei, que exige ainda revisão e atualização do plano pelo menos a cada dez anos. “Instrumentos nós temos. Resta às prefeituras seguir as orientações estabelecidas. E tão ruim quanto não ter um plano é ter e não colocar em prática”, observa o professor da Coppe/UFRJ.

A pesquisa detecta, no entanto, que as estruturas – ou seja, secretarias, pessoal e órgãos públicos criados para este fim – existem formalmente: 74,3% dos municípios (4.133) declararam ao IBGE ter um órgão gestor específico para cuidar do tema. Destes, 98,2% são ligados à administração direta (integrada ao gabinete do prefeito), 19,4% na forma de secretaria municipal exclusiva, 25,7% como pasta em conjunto com outra, 40,7% com setor subordinado a outra secretaria e 12,4% como setor subordinado ao prefeito. Mas isso não quer dizer que o trabalho esteja bem direcionado, como constatou a Munic 2012: “As prefeituras tradicionalmente concentram suas ações na implantação e manutenção de vias públicas, têm pouca atuação na gestão de trânsito e se limitam a administrar a tarifa dos serviços de ônibus. Para solucionar as periódicas crises que envolvem os setores da população que mais dependem do transporte coletivo, os governos, em geral, apresentam respostas superficiais”.

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Confira outros dados da Munic 2012

Comunicação e Informática

14,2% das prefeituras garantem acesso à internet por meio de conexão wi-fi.

90,5% dos municípios têm política ou plano de inclusão digital.

76,8% instalaram computadores na rede pública de ensino.

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É a primeira vez que o tema é abordado em uma Munic.

Cultura

97% dos municípios têm bibliotecas públicas. É o principal item adquirido pelas prefeituras ao longo da série histórica que vai de 1999 e 2012.

Assistência Social

Praticamente 100% das prefeituras têm estrutura organizacional de política municipal na área.

Segurança Alimentar e Nutricional

39,3% dos municípios possuem estrutura organizacional na área.

17,7% têm plano municipal.

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16,4% têm recursos orçamentários municipais previstos para o financiamento de políticas específicas, exceto contrapartidas de convênios com os governos estadual e federal.

27,1% possuem conselho municipal – instrumento adequado para trazer a gestão da segurança alimentar e nutricional à sociedade civil.

5,2% têm câmara intersetorial para promover a articulação e integração entre os órgãos e entidades da administração pública e garantir a execução das políticas do setor.

É a primeira vez que o tema é abordado em uma Munic.

Segurança e Justiça

Em 2,75% dos municípios, a guarda municipal usa arma de fogo

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37,2% deixam a estrutura de segurança diretamente ligada ao gabinete do prefeito. Em 2006, o índice era maior, de 48,6%.

81,8% das cidades têm delegacia de polícia geral. O número caiu (em 2009, era 83,7%), mas o de especializadas aumentou no período. Isso é resultado, avalia o IBGE, de políticas públicas direcionadas a determinados públicos, como mulheres, idosos e crianças e adolescentes.

Meio ambiente

37,2% das prefeituras têm fundo específico para o setor (em 2002, o índice era 1,5%).

88,5% têm algum tipo de estrutura na área ambiental (secretaria, setor ou órgão de administração indireta).

67,4% possuem comitês de bacia hidrográfica.

55,4% têm legislação específica para a área ambiental.

24,4% têm Unidades de Conservação Municipais.

21,8% possuem lei de parcelamento do solo para fins urbanos, definindo zonas prioritárias para proteção ambiental.

11,8% concluíram plano de contingência ou emergência para casos de desastres ambientais.

7,5% realizam pagamento por serviços ambientais, como estímulo à recuperação, manutenção e melhoria dos ecossistemas.

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