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Sem Thomaz Bastos, Cachoeira encara Justiça nesta 4ª

Contraventor tem depoimento marcado em Brasília, em processo que resultou da Operação Saint-Michel - e em que é acusado de formação de quadrilha

Por Da Redação
1 ago 2012, 07h38

Um dia após o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos deixar a defesa do contraventor Carlinhos Cachoeira, o bicheiro tem um novo encontro com a Justiça. A partir das 14 horas, Cachoeira presta depoimento na 5ª Vara Criminal de Brasília. O processo em questão é resultado da Operação Saint-Michel, deflagrada em abril pelo Ministério Público do Distrito Federal. O processo investiga fraudes operadas pela quadrilha no sistema de transporte público de Brasília.

O contraventor foi preso em 29 de fevereiro, durante a operação Monte Carlo, comandada pelo Ministério Público Federal. A operação Saint Michel, um desdobramento da primeira, resultou em novos mandados de prisão para os integrantes da quadrilha. Além de Cachoeira, serão ouvidas nesta quinta outras sete pessoas.

O MP acusa Cachoeira e os demais integrantes da quadrilha – entre eles o ex-diretor da Delta, Cláudio Abreu – de tráfico de influência e formação de quadrilha. O grupo tentou fraudar o sistema de bilhetagem do transporte público da capital federal.

Investigação – Segundo as investigações, o então diretor da empreiteira Delta para o Centro-Oeste era incumbido de tocar o braço da máfia de Cachoeira que se especializara em fazer contratos com governo. Abreu aparece em diálogos-chave do caso. Consta de uma conversa sua com Cachoeira a referência a um depósito de 1 milhão de reais para o senador cassado Demóstenes Torres. Foi com base nesse grampo que a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a quebra do sigilo bancário do senador.

É também Cláudio Abreu quem telefona a Cachoeira para dizer que iria “amarrar os bigodes” com os dois mais poderosos secretários do governador petista Agnelo Queiroz, Paulo Tadeu e Rafael Barbosa, em encontro em Brasília. “Marca uma p… com eles amanhã aqui em Goiânia. Aí eu chamo as meninas”, devolve Cachoeira. Em outra gravação, Abreu discute com o araponga Dadá o pagamento de propina em troca da nomeação de um aliado da quadrilha no governo do DF. “Vamos dar R$ 20 mil pra ele e R$ 5 mil por mês, pronto! Nós vamos dar R$ 20 mil pra ele agora e R$ 5 mil por mês, entendeu?”, diz Abreu.

Sem Thomaz Bastos – O depoimento de Cachoeira ocorre em meio à crise entre ele e o escritório que, até terça-feira, era responsável por sua defesa. Márcio Thomaz Bastos, mito da advocacia penal que defendia o contraventor, renunciou à causa. Seguiu Thomaz Bastos toda a equipe que o assessorava, inclusive os criminalistas Augusto Botelho e Dora Cavalcanti. “Eu saio por razões que nada têm a ver com o mérito da causa”, declarou MTB.

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Havia pelo menos um mês que o veterano criminalista, de 77 anos, amadurecia a ideia de abandonar a demanda. Ele andava desgostoso com o cliente, temperamental, hostil, exigente, mesmo atrás das grades. “Um sujeito inadministrável”, disse um profissional do Direito próximo ao ex-ministro.

No início de julho, Márcio Thomaz Bastos combinou com familiares de Cachoeira que seus advogados o acompanhariam às audiências na Justiça, realizadas semana passada. Talvez a banca do ex-ministro ficasse por mais algum tempo com o caso, mas precipitou a decisão de Thomaz Bastos em deixar a defesa o impacto provocado pela nova denúncia, agora envolvendo Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira, investigada pela Polícia Federal por chantagear juiz.

A crise – Alvo maior da Monte Carlo e da Saint Michel – missões da PF e da Polícia Civil que revelaram seu poderio no governo Marconi Perillo (PSDB-GO) e nos domínios do senador tucano cassado Demóstenes Torres -, Cachoeira acreditava que logo estaria na rua outra vez.

Não foi por falta de empenho do criminalista que Cachoeira não recuperou a liberdade. Foram muitas as incursões de Thomaz Bastos a todas as instâncias judiciais, em vão. Na sexta feira, 20, ele fez a derradeira ofensiva. Foi ao gabinete do ministro Ari Pargendler, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e a ele entregou pedido para libertação do contraventor. Na segunda, porém, a solicitação foi rechaçada.

Amigos de Thomaz Bastos dizem que o incomodava o desgaste que a pendência provocava em sua biografia, construída em 53 anos de vida forense. O ex-ministro nunca confirmou, mas também jamais desmentiu, os R$ 15 milhões que lhe teriam sido oferecidos por Cachoeira.

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Cifra tão elevada logo despertou a atenção de um procurador da República do Rio Grande do Sul, que pediu investigação por suposta prática de lavagem de dinheiro do contraventor. Ao que consta, porém, Cachoeira deu calote e nada pagou ao ex-ministro.

Críticas a Thomaz Bastos foram prontamente repreendidas pela Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo, que saiu em defesa do ex-ministro. “O advogado é como o padre, que abomina o pecado, mas ama o pecador”, declarou Luiz Flávio Borges D’Urso, presidente licenciado da entidade.

O vendaval Cachoeira derrubou senador, tirou juiz federal do caminho e ameaça governador. Nesta terça, Márcio Thomaz Bastos anunciou formalmente sua saída. Não fez pronunciamentos, apenas disse a conhecidos que “a renúncia é desgaste natural da relação (com o cliente)”.

(Com Agência Estado)

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