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PM do Rio cria Facebook ‘fofo’ para mudar desconfiança

Em estratégia para alterar imagem de uma das piores do país, Polícia Militar do Rio de Janeiro mostra dia a dia de policiais e ignora ocorrências

Por Da Redação
6 jun 2015, 13h42

Ela costuma postar sobre como se sente, usa hashtags, emojis (os bonequinhos inseridos nos textos), comemora seu “Bday” e fala “night” e “tamo junto”, gírias bem cariocas. Pode parecer uma jovem internauta, mas se trata do perfil oficial da Polícia Militar do Rio, que começou a usar o Facebook há três meses. Na rede, deixou os fuzis de lado e se municiou de corações e rostinhos felizes.

Em um esforço para se aproximar da população, a corporação tenta deixar “offline” a rotina de tiros e violência – e ignora ocorrências graves. A estratégia é também uma forma se contrapor ao histórico de policiais militares com postagens que incitam a violência em redes sociais e contribuem para o descrédito da instituição. Em pesquisa do Datafolha divulgada em 2013, a PM do Rio de Janeiro aparece em antepenúltimo lugar no índice de confiança da população, uma das piores imagens públicas do país, à frente apenas das PMs do Pará e do Amazonas.

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Na rede, a PM quer compartilhar seu lado bom. Nas fotos e vídeos postados, há policiais treinando, doando sangue, abraçando crianças. Filhos de agentes aparecem uniformizados como os pais. Dentro dessa estratégia, o perfil no Facebook já produziu a primeira celebridade: em dois vídeos, a soldado Aniara Rangel, fardada e maquiada, aparece cantando em inglês uma canção de Whitney Houston e outra da banda U2.

Somadas, as duas performances tiveram 3,02 milhões de visualizações até as 13 horas de sexta-feira: “TheVoicePMERJ”, brincou a PM, em uma das postagens na rede social.

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Desde que nasceu, a fanpage raramente é usada para retratações ou esclarecimentos sobre operações com feridos. Em maio, uma única “autocrítica” foi postada sobre um vídeo divulgado na imprensa que flagra policiais do Batalhão de Polícia Rodoviária pedindo suborno a motoristas. “A #PMERJ repudia a corrupção!!!”, afirmou a publicação.

Ainda no mês passado, esteve de fora do Facebook qualquer menção à guerra de facções criminosas que tomou os morros da região entre Santa Teresa e o Centro – em uma semana, doze pessoas morreram. Nos quatro primeiros meses deste ano, foram registradas 260 mortes em decorrência de ações policiais, aumento de 37% em relação às 189 do mesmo período do ano passado. O assunto também não ganhou postagens.

A linguagem informal aproxima a página da polícia do Rio, alimentada por dois policiais e uma jornalista, à da prefeitura de Curitiba, criada em 2013 e que se tornou referência pelas piadas e memes.

Policial com foto de cassetete quebrado, supostamente depois da manifestação dos professores no Rio
Policial com foto de cassetete quebrado, supostamente depois da manifestação dos professores no Rio (VEJA)

​O novo objetivo da equipe da PM é unificar as mais de trinta páginas de Facebook que já existem sob responsabilidade de batalhões. Será criada uma cartilha de boas práticas para tentar evitar imagens de feridos e detidos que ainda pipocam nesses perfis administrados pelos PMs.

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Para tentar “humanizar” a figura dos policiais, como disse uma fonte da corporação, foi gravado vídeo para o Dia do Abraço (22 de maio), chamado #AbraceUmPolicial. Nele, PMs oferecem abraços “grátis” pela cidade. Tudo acontece ao som de Aquele Abraço, de Gilberto Gil.

A maioria dos comentários nas postagens é formada por elogios, muitos de policiais e seus familiares. Os administradores respondem com agradecimentos. A equipe de redes admite que a ideia inicial era fazer uma página para os policiais e “elevar o moral da tropa”.

Nem sempre a estratégia funciona. “Só peço que vocês se lembrem de nos abraçar quando nós, professores, fizermos greve por melhores condições de trabalho. Na última vez, só veio porrada e gás de pimenta”, escreveu um internauta, em resposta ao vídeo dos abraços.

“O perfil da PM não é um perfil cômico. É um perfil fofo. O problema é que falta contato com o mundo real”, analisa o professor de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Afonso de Albuquerque. “A minha sensação é que a página é voltada para o público interno, de policiais e famílias de policiais, e não para o público geral.”

O coordenador do Instituto de Tecnologia e Sociedade, Fabro Steibel, diz acreditar ser positiva a iniciativa. “Acho importante que a polícia tenha um canal que valorize o PM, desde que esteja disposta a falar sobre seus problemas também”, diz. “A policia está aprendendo como se abrir e a falar. Vai ajudar a PM a pensar como ela se comunica com a sociedade.”

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(Com Estadão Conteúdo)

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