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Relatório mostra siglas de Odebrecht para políticos e tática para obstruir Lava Jato

Trocas de mensagens do celular do empreiteiro indicam esforço para ocultar nomes – e o amplo leque de contatos do executivo. Há menções a ações com dissidentes da PF

Por Da Redação
21 jul 2015, 13h45

Relatório da Polícia Federal com base em mensagens extraídas do celular de Marcelo Bahia Odebrecht, apreendido na 14ª fase da Lava Jato, revelam o amplo leque de políticos, da base do governo e da oposição, com os quais o empreiteiro tinha algum contato, sua preocupação com a operação da Polícia Federal e, sobretudo, seu esforço para utilizar siglas e mensagens codificadas para se referir a políticos e registrar algumas transações. De acordo com o documento, Odebrecht lançou mão de uma estratégia de confrontar as investigações da Lava Jato que contaria com “policiais federais dissidentes”, dupla postura perante a opinião pública, apoio estratégico de integrantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ataques às apurações internas da Petrobras. A PF avalia que o objetivo do empreiteiro buscava criar “obstáculos” e “cortinas de fumaça” contra a operação.

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“O material trazido aos autos aponta para o seu conhecimento e participação direta nas condutas atribuídas aos demais investigados, tendo buscado, segundo se depreende, obstaculizar as investigações”, informa o delegado da polícia federal Eduardo Mauat da Silva, um dos coordenadores da equipe da Lava Jato. Nas 64 páginas do relatório ainda pendente de dados sob análise, a PF traça um panorama a partir das anotações feitas pelo próprio Marcelo Odebrecht em seu telefone celular, a partir dos e-mails e materiais apreendidos, para apontar tal conduta do indiciado.

Um dos pontos mais graves da conduta atribuída a Odebrecht para tentar neutralizar as investigações seria a “utilização de ‘dissidentes’ da Policia Federal”. No Relatório de Análise 417/2015, da PF no Paraná, consta: “Marcelo ainda elenca outros passos que devem ser tomados identificando-os como ‘ações B’, tido aqui como uma espécie de plano alternativo ao principal”.

Dissidentes – “Dentre tais ações estão ‘parar apuração interna’, ‘expor grandes’, ‘desbloqueio OOG’ (Odebrecht Óleo e Gás), ‘blindar Tau’ e ‘trabalhar para anular (‘dissidentes PF’). Chama a atenção esta última alternativa, cuja intenção explícita de Marcelo Odebrecht, conforme suas próprias palavras, é para/anular a Operação Lava Jato”, prossegue o relatório.

Em outro ponto das anotações do empreiteiro analisadas pela PF, foi identificada a menção a “dissidentes PF”. “Uma referência clara à Polícia Federal, ou pelo menos a alguns de seus servidores, ora, ao que parece pela leitura do todo (anotações), Marcelo teria a intenção de usar os ‘dissidentes’ para de alguma forma atrapalhar o andamento das investigações, e, se levarmos em consideração as matérias (grampo na cela, descoberta de escuta, vazamento de gás, dossiês) veiculadas nos vários meios de comunicação, nos últimos meses, que versam sobre uma possível crise dentro do Departamento de Polícia Federal, poder-se-ia, hipoteticamente, concluir que tal plano já estaria em andamento.”

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Siglas – O maior empreiteiro do país utilizava em seu aparelho siglas como GA (referência ao governador paulista Geraldo Alckmin, segundo a PF), MT (Michel Temer, vice-presidente), GM (Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda), JS (neste caso a Polícia Federal utilizou uma tarja preta para não identificar o contato), FP (a PF usou também uma tarja preta para não identificar o contato) e algumas mais óbvias como ECunha, em referência ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Há também referência direta ao ex-presidente Lula e a outros apelidos como “Dida”, para se referir a Aldemir Bendine, presidente da Petrobras, e “Beto”, em referência ao secretário nacional de Justiça Beto Ferreira Martins. Na análise de 31 páginas, a Polícia Federal limita-se a transcrever as anotações da agenda do empreiteiro.

Em duas ocasiões, como revela a análise do material apreendido na residência de Marcelo Odebrecht, há registros na agenda do celular de encontros com políticos. Ele teria se reunido com Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo, em outubro de 2014, e com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), em 21 de novembro do ano passado, já depois da Juízo Final, etapa da Lava Jato que levou à prisão outros executivos de grandes empreiteiras do país. O detalhamento do encontro com o vice-presidente, contudo, aparece coberto por uma tarja preta no relatório.

Mais abaixo, há ainda o tópico “notas antigas”, no qual há referência “adiantar 15 p/JS” e em seguida a anotação “IPI até dez e pis/Cofins até jan”. Ainda relacionado a este tópico há o título “Contribuição”, a partir do qual surgem várias referências de valores seguidas de siglas que a Polícia Federal ainda não conseguiu identificar claramente.

Petrobras – Outro ponto que seria atacado por essa suposta estratégia da empreiteira de confrontar as investigações seria em relação às comissões internas de apurações da Petrobras. “Chama a atenção também a preocupação de Marcelo em relação as CIAS (Comissão Interna de Apuração) da Petrobras estarem sendo conduzidas por xiitas e, nas palavras dele, com seguinte linha de pensamento: temos que encontrar ‘culpado’ caso contrário vamos ser acusados de ‘incompetentes e/ou coniventes!'”, registra a PF. As comissões internas da estatal passaram a ser abertas após a confissão de dois principais delatores da Lava Jato, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco. A maior parte das já concluídas tem apontado irregularidades e indícios de fraudes em contratos.

“Entretanto, diante da possibilidade de que as informações produzidas pelas CIAs não fossem fidedignas seria de esperar um esclarecimento idôneo por parte da Odebrecht, ao contrário da negativa rasa ou a estratégia de ‘cortina de fumaça’ que tem sido aplicada a cada novo Indicio de ilicitude que surge em relação ao Grupo Odebrecht”, informa o delegado Eduardo Mauat da Silva.

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Suíça – Ao interpretar as mensagens apreendidas no iphone, a PF também destacou trecho em que Marcelo Odebrecht manda que sejam “declaradas já” contas na Suíça, nos bancos Pictet e PKB. De acordo com delatores do petrolão, a Odebrecht pagou propina a ex-diretores da Petrobras, em contas na Suíça, para obter vantagens em contratos com a estatal.

Ele ainda pergunta, de acordo com os agentes da PF, sobre riscos contra o diretor da Odebrecht Rogério Araújo, relacionados às contas na Suíça. “A referência a Rogerio Araújo e conta corrente na Suíça é constante, indicando a preocupação de Marcelo com a mesma, como pode ser observado na anotação ‘RA vs cc Sw (direção fluxo? Delação dos envolvidos?)'”, afirmam os investigadores.

Odebrecht – A empreiteira divulgou nota sobre o pedido de indiciamento: “Embora sem fundamento sólido, o indiciamento do executivo e ex-executivos da Odebrecht já era esperado. As defesas aguardarão a oportunidade de exercer plenamente o contraditório e o direito de defesa. Em relação a Marcelo Odebrecht, o relatório da Polícia Federal traz novamente interpretações distorcidas, descontextualizadas e sem nenhuma lógica temporal de suas anotações pessoais. A mais grave é a tentativa de atribuir a Marcelo Odebrecht a responsabilidade pelos ilícitos gravíssimos que estão sendo apurados e envolveriam a cúpula da Polícia Federal do Paraná, como a questão da instalação de escutas em celas, dentre outras.”

(Com Estadão Conteúdo)

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