PSDB se une à ‘frente antibolivariana’
Presidente do partido, senador Aécio Neves, passou a integrar grupo contrário às violações de direitos humanos cometidas pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro
O PSDB passou a integrar uma espécie de ‘frente bolivariana’. O presidente do partido, o senador Aécio Neves, compareceu, nesta quinta-feira, ao Seminário Internacional América Latina: Desafios e Oportunidades, em Lima, capital do Peru, que denunciou violações de direitos humanos cometidas pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. O senador também teve um encontro com as mulheres de dois presos políticos venezuelanos: Lilian Tintori, casada com Leopoldo López, e Mitzy Capriles Ledezma, mulher do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma.
Detido desde fevereiro do ano passado, López é ex-prefeito do município de Chacao – que integra a Grande Caracas- e foi acusado de ter incitado violência nas manifestações contra o chavismo naquele mesmo mês – os protestos em todo o país terminaram com saldo de 43 mortes. Ledezma foi preso por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) em janeiro, sob a acusação de integrar uma conspiração para derrubar Maduro do poder.
Leia também:
Dilma aceita credenciais da Venezuela e repete discurso de não interferência
Durante a conversa, a mulher de Leopoldo López agradeceu com entusiasmo ao brasileiro pela presença no evento – ele foi o único representante do Brasil. Aécio destacou a importância de um esforço internacional de pressão pela libertação de todos os detentos políticos da Venezuela – estão encarcerados também, além de figuras proeminentes da oposição, dezenas de estudantes acusados de violência nas manifestações. Tanto Lilian quanto Mitzy cobraram mais envolvimento dos governos da região e pressão contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro. “Quem se cala é cúmplice e tenho certeza de que toda a América Latina vai se pronunciar”, afirmou a mulher de López.
Pouco depois de conversar com Aécio, Lilian Tintori anunciou que continuará seu giro pelo mundo pedindo apoio à causa. Sem detalhar os próximos destinos, disse que levará “a cada canto da nossa América Latina” sua mensagem. Nesta sexta-feira, Aécio ministra palestra no seminário no painel Entre o Populismo e a Liberdade, ao lado do escritor Álvaro Vargas Llosa, filho do prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa.
Críticas – Mario Vargas Llosa, colunista do jornal O Estado de S. Paulo, também discursou e condenou a postura do presidente peruano, Ollanta Humala, que não recebeu as dissidentes venezuelanas em sua visita à capital. “Que vergonha que na América Latina haja tão poucos governos que condenaram a ação repressora do oficialismo venezuelano”, disse. Além do senador brasileiro e dos escritores, participam do evento o principal candidato derrotado à presidência do Uruguai na eleição de outubro, Luis Lacalle Pou; o ex-presidente uruguaio Jorge Batlle, cujo mandato foi de 2000 a 2005; o ex-presidente colombiano Andrés Pastrana, que governou de 1998 a 2002; e o escritor cubano Carlos Alberto Montaner.
Divisões – A ofensiva do PSDB na questão da Venezuela parece atender a um chamado que dividiu grupos organizadores dos protestos do último dia 15. Um vídeo que circulou pela internet horas antes das manifestações acusava uma das organizações, o Vem Pra Rua, de ignorar o combate às ideias bolivarianas no continente. A mensagem acusava o principal partido da oposição de ter se “vendido”.
As cobranças por resposta mais firme do governo brasileiro ante a escalada repressiva do chavismo dentro da Venezuela, no entanto, não são novas. Desde o início das manifestações de 2014 em Caracas, partidos da oposição brasileira instaram o Executivo a se manifestar claramente. No âmbito da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o senador tucano Aloysio Nunes (SP) chegou a propor, no início da semana, que a embaixadora venezuelana no Brasil, María Lourdes Urbaneja, fosse convidada a dar explicações. A ideia não prosperou. O Planalto tem demonstrado insatisfação crescente com o recrudescimento da repressão no país vizinho, mas as manifestações oficiais têm sido tímidas e quase sempre restritas aos contextos das reuniões emergenciais da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
(Com Estadão Conteúdo)