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Protesto contra a corrupção não poupa servidores públicos

Manifestação convocada pelas redes sociais reúne 2.500 pessoas na Cinelândia, com pauta de reivindicações que inclui exigência de ficha limpa para os cargos de confiança

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 set 2011, 19h47

Os discursos são cheios de improviso, não há oradores inflamados – ou pelo menos não se vê profissionais do microfone. À primeira vista o que se vê indica certa heterogeneidade de pensamentos. Apesar do formato ainda um tanto indefinido, o recado está claro. Os brasileiros que tomam as ruas desde o último 7 de setembro reprovam a corrupção e os mecanismos que a alimentam. A versão carioca do protesto, criada no Facebook e batizada de Movimento Todos Juntos Contra a Corrupção, reuniu algo perto de 2.500 manifestantes na Cinelândia na tarde e início da noite desta terça-feira no Rio. A pauta de reivindicações, expressa em pequenos folhetos, inclui o fim do foro privilegiado para autoridades acusadas de crimes, a exigência de ficha limpa para cargos de confiança, fim das indicações políticas para cargos técnicos e o bloqueio de bens de políticos envolvidos em atos de corrupção até o julgamento da causa.

Diferentemente dos movimentos nascidos com orientação partidária, os protestos contra a corrupção em curso não temem segmentos específicos da sociedade que, quando atacados, podem gerar perdas de votos. Assim, servidores públicos deixam de ser tratados como uma casta intocável e recebem críticas. “Tem muita gente no serviço público acomodada, sem fazer nada, sem cumprir seu papel”, cobrou um orador anônimo.

Os protestos de agora também diferem muito de qualquer falatório do período eleitoral, quando os ônibus costumam lotar os arredores do movimento – sempre financiados por alguma instituição, sindicato ou, lamentavelmente, governos. A ideia, aqui, é diferente. Desde o início da tarde, os manifestantes isolados, ou em pequenos grupos, ocuparam a praça da Cinelândia e as escadarias da Câmara Municipal do Rio. Os 2.500 manifestantes são por conta da Polícia Militar, que levou homens do Batalhão de Choque e deixou a cavalaria a postos. Os organizadores estimam a frequência em 4 mil pessoas.

Os políticos são minoria. E acabam falando bem menos. Fernando Gabeira preferiu aparecer na condição de jornalista. “Eu ajudo escrevendo”, disse, sobre sua ocupação atual. “O Brasil tem crescido e pode crescer muito mais. Corrupção é um obstáculo a esse crescimento. Perdemos muito com a corrupção. Alguns dados indicam que em sete anos perdemos o equivalente ao PIB da Bolívia. Isso significa dinheiro que poderia ir também para a luta contra a miséria”, disse o blogueiro que já foi deputado e disputou o governo do Rio nas eleições de 2010. O deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL, também apareceu na Cinelândia. “A população não pode abrir mão de frequentar a rua, de cobrar e de ir ao parlamento”, afirmou Freixo, que pediu pela reforma política e por uma maior fiscalização no judiciário.

A Cinelândia foi, literalmente, do povo na tarde de terça-feira. Arams Brito, 46 anos, veio com grupo de 10 pessoas de Itaguaí, a cerca de 70 quilômetros do Rio. Todos são integrantes da igreja protestante Projeto Água da Vida, que tem nove sedes no estado. “Escrevo manifestos semanais contra a corrupção. Somos uma entidade altamente politizada, mas ainda sem ligação com partidos”, explicou. Há duas semanas, Arams se filiou ao PSC, mas ainda não decidiu sobre sua entrada na política. “Neste momento, é injusto falar de Dilma porque o tempo ainda é curto. Mas é inegável que ela está presa a um corporativismo político bem estruturado pelo Lula e pelo José Dirceu”, afirmou.

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Nilcéa Costa Sá, 51 anos, é bancária e mora em Teresópolis, uma das cidades atingidas pela tragédia das chuvas de janeiro, na região serrana do Rio. Como está de férias, tirou o dia para ir até a Cinelândia. Ela organiza, também pelo Facebook, um protesto semelhante na cidade que teve o prefeito afastado, por envolvimento num esquema de corrupção com dinheiro que deveria ser aplicado na reconstrução do que foi destruído pelo temporal.

O protesto na cidade serrana deve ocorrer em 12 de outubro, feriado, com o título de Marcha Contra a Corrupção em Teresópolis. No Facebook, conta Nilcéa, já são 1.800 confirmações. “Não sabia como dar o pontapé inicial. Estamos entrando em ano eleitoral e em Teresópolis as coisas estão complicadas. Temos um prefeito inexperiente e uma dificuldade muito grande. Aumentou muito o número de moradores de rua e os furtos, desde a tragédia da região serrana”, disse.

A declaração da bancária resume boa parte do que se viu nesta tarde no centro do Rio. Como todo movimento que dá voz à população, misturam-se indignações e bandeiras. No início da noite, por volta das 18h, juntou-se ao grupo um contingente de bombeiros militares que há duas semanas acampa no outro extremo do centro do Rio, em frente à Assembléia Legislativa.

O ator Sérgio Marone, o Marcos da novela ‘Morde e Assopra’, marcou posição nas escadarias da Câmara Municipal. Empunhava uma das vassouras do movimento Rio de Paz – que pede faxina contra a corrupção – e uma faixa com a inscrição ‘Gota d’Água’. O protesto é contra a instalação da usina de Belo Monte. “Isso é indignação. É um basta a essa situação. Servimos ao governo e o governo não nos serve. É uma inversão de papal. Belo Monte não pode ser construída”, protestava.

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