Presidente dos Correios corta diálogo com grevistas
Wagner Pinheiro avisou que só haverá conversa se a greve for interrompida, retirou a proposta feita nesta terça-feira e disse que salários serão descontados
A direção dos Correios avisou nesta quarta-feira que só haverá diálogo com os funcionários se a greve for interrompida. Um comunicado interno foi enviado aos 109.000 funcionários da empresa. Sob o título “Negociação só com volta ao trabalho”, o documento informa que a proposta feita na noite de ontem também foi retirada e que os salários dos grevistas terão os dias de greve descontados. A empresa também insiste para que os empregados voltem ao trabalho.
“Em função da paralisação parcial dos serviços, a empresa conclama os trabalhadores que aderiram ao movimento a reconsiderarem sua decisão”, diz a nota. “A Diretoria confia no discernimento e bom senso de seus trabalhadores e, a fim de que as negociações possam ser restabelecidas, conclama os que aderiram ao movimento para que retornem ao trabalho”.
Para o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos (Fentect), José Rivaldo da Silva, o anúncio da interrupção das negociações “faz parte do xadrez político”. No comando da paralisação a nível nacional, Rivaldo garantiu que os grevistas vão continuar em ação e farão de tudo para tentar impedir os funcionários de trabalhar. “Vamos manter a greve e não vamos deixar as pessoas entrarem na empresa”, disse Rivaldo. “Vou tentar falar com o presidente Wagner Pinheiro amanhã”. Mais de cinco milhões de encomendas deixaram de ser entregues hoje.
Propostas ─ Os grevistas pararam as atividades à meia-noite desta quarta-feira. A Fentect engloba 35 sindicatos em diversos estados brasileiros. Segundo a federação, a greve tem adesão de 70% dos funcionários (cerca de 100.000) ─ a maioria formada por carteiros. No entanto, nesta quarta-feira, o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, contrariou a informação. Segundo ele, somente 32% dos empregados (cerca de 35.000) aderiram à paralisação.
A pauta de reivindicações foi apresentada em 26 de julho, durante o 30º Conselho Nacional de Representantes dos Trabalhadores dos Correios (Conrep), realizado em Brasília. Desde então, não houve acordo. Entre outras reivindicações, os grevistas pedem aumento real de 400 reais, piso salarial de 1.635 reais e reposição de 7,16% referente à inflação entre os anos de 1994 e 2002, o que totalizaria 24,76%. Na noite desta terça-feira, antes da paralisação, a direção dos Correios propôs aumento real de 50 reais, reajuste de 6,87% e abono salarial de 800 reais ─ proposta que, com a deflagração da greve, foi retirada.
Leia a íntegra da nota enviada nesta quarta-feira aos funcionários em greve:
ACORDO COLETIVO
NEGOCIAÇÃO SÓ COM VOLTA AO TRABALHO
Em função da paralisação parcial dos serviços, a empresa conclama os trabalhadores que aderiram ao movimento a reconsiderarem sua decisão e retornarem às atividades para que o processo de fortalecimento, modernização e melhoria das condições de trabalho na empresa possa ter continuidade.
Em menos de nove meses, firmamos, através do diálogo, dois acordos de PLR, o que trouxe enormes benefícios para os trabalhadores. A Diretoria lamenta que o diálogo tenha sido substituído pelo confronto. A rejeição da melhor proposta em negociação no momento no setor público e a deflagração da greve interromperam o diálogo.
A empresa deixou claro nas negociações que a manutenção da proposta estava condicionada à sua aprovação nas assembléias e à normalidade da prestação dos serviços. Com a deflagração da greve, a proposta está retirada.
A Diretoria confia no discernimento e bom senso de seus trabalhadores e, a fim de que as negociações possam ser restabelecidas, conclama os que aderiram ao movimento para que retornem ao trabalho.
Por fim, a Diretoria dos Correios informa que, em respeito à lei e aos empregados que continuam trabalhando, não terá alternativa senão descontar os dias parados dos grevistas.
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