População não confia nos policiais
Pesquisa mostra que as polícias militares têm as piores imagens. Polícia Federal é a melhor avaliada
As polícias militares são as menos confiáveis, na opinião da maioria dos 2.770 entrevistados – 70,7% deles não confiam ou confiam pouco nelas
A sequência Tropa de Elite, estrelada por Wagner Moura no papel de capitão Nascimento, modificou a noção de bem e mal nas relações entre polícia e criminosos. Nascimento tornou-se herói, assim como o grupo de policiais que participou da ocupação do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, na última semana. No entanto, a convicção de que a polícia tem uma banda podre, composta por agentes desonestos e envolvidos com o crime, continua forte entre os brasileiros. De acordo com a pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada nesta quinta-feira, a maioria da população confia pouco ou nada nas instituições policiais.
De acordo com o levantamento, as polícias militares são as menos confiáveis, na opinião da maioria dos 2.770 entrevistados – 70,7% deles não confiam ou confiam pouco nelas. A instituição que apresentou maior grau de confiabilidade foi a Polícia Federal – 48,9% dos que responderam às perguntas disseram confiar em seu trabalho.
Quando afirmações sobre a atuação policial foram apresentadas aos brasileiros ouvidos, a maioria chegou às seguintes conclusões:
- 55,4% acreditam que a polícia, no geral, é incompetente;
- 63,2% dizem que ela não respeita os direitos do cidadão;
- 66,5% afirmam que ela é desrespeitosa na abordagem;
- 61,7% dizem que ela não atende a emergências via telefone de forma rápida;
- 51,8% acreditam que a polícia não registra as denúncias de maneira eficiente;
- 69,3%, a polícia não é ágil nas investigações sobre crimes; e
- 65,3% define a polícia como preconceituosa.
Juventude – Se os entrevistados são separados por idade, observa-se que os mais jovens são mais críticos em relação às instituições policiais. Entre os brasileiros de 18 a 24 anos, 71% acreditam que a polícia não respeita os direitos civis, enquanto 51,1% dos maiores de 54 anos dizem o contrário.
Apesar de terem alguma desconfiança da polícia, somente um de cada dez entrevistados que teve contato com um policial vivenciou alguma experiência ruim. Somente 5,8% disseram ter sido ameaçados; 10,8% ofendidos verbalmente; 3,4% agredidos fisicamente e 4,1% extorquidos por um agente da polícia.
O chefe da assessoria técnica da do Ipea, Milko Matjascic, ressalta que as entrevistas foram feitas em maio, portanto antes das ações da polícia na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. “É muito provável que a opinião pública tenha se alterado depois desse episódio”, acredita.
Esperança – Para a psicanalista e coordenadora da clínica da violência da Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Júnia de Vilhena, a expulsão de criminosos dessas favelas cariocas pode ter sido a chance de a confiança na polícia ser resgatada. “Seria ótimo se a partir desse episódio se pudesse ter uma virada nessa visão. Isso é bom para a população e para os policiais, que ganham mal e se colocam em situação de risco e, pela primeira vez, estão sendo elogiados”, comenta.
A pesquisadora lamenta a existência de policiais associados à criminalidade. “Os abusos existem em qualquer situação e devem ser punidos exemplarmente, assim, aos poucos, a própria postura da polícia vai mudando”, diz Junia Vilhena.
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