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Polícia rastreia ligações de ex-diretor da Odebrecht para Instituto Lula

Assessor de Lula combinava com ex-diretor da Odebrecht as respostas que o instituto daria à imprensa sobre as relações do ex-presidente com a empreiteira

Por Hugo Marques, Robson Bonin e Pieter Zalis
14 dez 2015, 20h09

Preso pela Operação Lava Jato em junho, o ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar atuava em parceria com o ex-presidente Lula para tentar desmoralizar a cobertura da imprensa sobre o petrolão e as investigações do Ministério Público Federal sobre as relações do petista com a empreiteira. Perícia realizada pela Polícia Federal no iPhone de Alexandrino revela que um dos assessores de Lula, José Chrispiniano, era o responsável por informar o ex-diretor da empreiteira sobre cada passo dado pelo Instituto Lula ao divulgar notas oficiais e versões favoráveis ao ex-presidente e à empreiteira. Entre janeiro e junho desse ano, Chrispiniano e Alexandrino Alencar trocaram 58 telefonemas. O ex-diretor da Odebrecht também telefonou 16 vezes para o Instituto Lula. No auge das revelações das relações comerciais de Lula com a Odebrecht, em abril, o assessor de Lula e Alexandrino se encontraram em São Paulo. Alexandrino chegava a dar a palavra final sobre alguns dos textos que o instituto iria divulgar à imprensa.

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No aplicativo de mensagens usado por Alexandrino, os investigadores também encontraram várias conversas entre o assessor de Lula e o ex-diretor. Em uma das trocas de mensgaens, ocorrida em abril deste ano, Chrispiniano relata para Alexandrino a resposta que enviaria à imprensa sobre reportagens que mostravam a relação de proximidade de Lula e a Odebrecht. “Gostei muito”, diz Alexandrino. Em outro trecho, Alexandrino diz ao assessor de Lula que o “chefe ligou p…” ao ler uma reportagem sobre as relações da empreiteira com Lula. Não fica claro se Alexandrino se refere a Marcelo Odebrecht ou Lula, a quem ele também costumava chamar de “chefe”. Ainda no mesmo mês, o assessor de Lula combina com Alexandrino as respostas que deveriam ser enviadas a VEJA, sobre os pagamentos milionários da empreiteira pelas palestras do ex-presidente Lula.

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No material analisado pela Polícia Federal, Alexandrino também conversa com o deputado federal Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e amigo de Lula. O deputado se diz “um soldado” da Odebrecht e mostra que também fazia a ponte da empreiteira com Lula. Numa troca de mensagens de março, Alexandrino fala com o deputado sobre uma reunião com Lula. “O instituto ainda não confirmou a reunião de sexta-feira, estou cobrando. Se não puder, pode ser segunda-feira?”, pergunta Alexandrino ao deputado. “Pode”, diz Sanchez que então sugere que a reunião com Lula seja no sábado. “Não sei, acho difícil porque acho que vai pro sítio”, diz Alexandrino, possivelmente se referindo ao sítio usado por Lula em Atibaia. Em outra conversa, o deputado petista e Alexandrino falam sobre o doleiro Adir Assad, também preso na Lava Jato: “Como chama o doleiro?”, pergunta Sanchez. “Assad”, responde o ex-diretor.

Alexandrino foi preso na 14ª fase da Lava Jato, junto com o dono da empreiteira, Marcelo Odebrecht. O ex-diretor é acusado de ser o responsável por organizar com o doleiro Alberto Youssef o esquema de pagamento de propina no exterior para os corruptos do petrolão. Alexandrino era o diretor mais próximo do ex-presidente Lula. As investigações do petrolão já revelaram conversas telefônicas em que o ex-presidente Lula trata com o ex-diretor dos movimentos da Odebrecht para tentar evitar a prisão do seu então presidente Marcelo Odebrecht.

Outro lado – Por telefone, o assessor do Instituto Lula José Chrispiniano se recusou a explicar a natureza de suas relações com o ex-diretor da Odebrecht. “Não vou falar nada, não. Se quiser perguntar, pergunte por escrito”, disse o assessor, que também não quis responder se atuava a mando do ex-presidente Lula ao combinar com o empreiteiro a redação das notas oficiais divulgadas pelo instituto. O deputado petista Andrés Sanchez também não quis comentar o conteúdo do relatório da Polícia Federal. “Sobre Lava Jato só falo pessoalmente e com gravador na mesa”, disse o deputado.

O site de VEJA também entrou em contato com a Odebrecht, que enviou o seguinte comunicado:

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“A Construtora Norberto Odebrecht (CNO) lamenta que se repita o expediente do vazamento de mensagens descontextualizadas de ex-executivos da empresa sempre que se avizinha alguma decisão judicial envolvendo sua liberdade, como forma de pressionar e evitar a livre expressão de julgamento de magistrados.

As mensagens citadas expressam fatos absolutamente normais. Como no caso de contatos entre duas partes que mantêm conversas no sentido de emitir um posicionamento público. Ou do fornecimento de informações e subsídios para viagens oficiais para países onde as empresas brasileiras mantêm operações comerciais, como acontece na diplomacia de todas as nações do mundo. Finalmente, tenta-se promover uma leitura maliciosa de mensagens em que o ex-presidente da holding Odebrecht se mantém informado sobre investimentos do acionista (o que era parte de suas atribuições) em projetos que envolvem mais de uma empresa do Grupo, dando a entender que ele teria alguma ingerência sobre a autonomia da direção de cada uma das empresas. Previsões de mercado também são propositalmente confundidas com informações privilegiadas.

A CNO tem confiança de que magistrados não se deixarão influenciar pelo vazamento de véspera, malicioso, sobre comentários e mensagens que sequer constam do processo em questão.”

Relatório da PF mostra fotos do assessor José Chrispiniano e do deputado Andrés Sanchez
Relatório da PF mostra fotos do assessor José Chrispiniano e do deputado Andrés Sanchez (VEJA)
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