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Tensão e lei do silêncio imperam no local do linchamento

Polícia enfrenta dificuldades para investigar as circunstâncias que levaram à morte de Edmilson Alves, espancado por frequentadores de baile funk

Por Bruno Huberman
29 nov 2011, 21h03

Há um clima de tensão na praça Francisco Tavares Veloso, no Jardim Planalto, Zona Leste de São Paulo. Ali, na noite deste domingo, 27, o motorista Edmilson dos Reis Alves foi linchado depois de perder o controle do ônibus que dirigia e atingir um pedestre, três carros e três motos. No momento do acidente, aproximadamente de trezentas pessoas tomavam a Rua Torres Florêncio e Rielli, em frente à praça, onde acontecia um baile funk. Cerca de cinquenta frequentadores da festa arrancaram Alves do ônibus, o arrastaram até a rua e o espancaram até a morte. Vestígios do crime ainda integram a paisagem. Nesta terça-feira, os transeuntes tiveram que desviar das manchas de sangue secas na calçada que contorna o terreno de uma escola municipal. Estilhaços do para-brisa do ônibus permanecem ao lado de uma árvore.

Os investigadores do 69º Distrito Policial (Teotônio Vilela), responsáveis pelo caso, encontram dificuldades para apurar novas informações. No Jardim Planalto, a resposta dos moradores é sempre a mesma: ninguém sabe e ninguém viu nada. “Nós sabemos que algumas pessoas filmaram e fotografaram o espancamento”, diz o chefe das investigações, Antonio Pereira do Carmo Neto. “Mas temos muita dificuldade de obter novas informações porque naquela região impera a lei do silêncio.”

Abordados pela reportagem do site da VEJA, muitos moradores se recusaram a comentar a morte de Alves. Segundo um deles, que pediu para não ser identificado, o baile funk que costuma ocorrer aos domingos é organizado pelos frequentadores de um bar chamado “O Canto”, situado nas imediações do local do crime. Eles se reúnem na calçada, ligam o som dos carros no último volume e compram cervejas vendidas no estabelecimento. A aglomeração chega a interromper o trânsito da rua e a dificultar a passagem dos ônibus. Na tarde desta terça-feira, o bar permanecia fechado. Ninguém sabe se haverá baile funk no próximo fim de semana.

O aposentado Lázaro Bueno da Cunha, morador do Jardim Planalto há mais de 30 anos, evita passar pelo local durante as noites em que ocorrem as festas. “Eu vou pela rua de baixo”, diz. “É muito perigoso ficar na praça à noite enquanto acontece essa bagunça. O som é tão alto que chega a estremecer as árvores.” As favelas do Jardim Planalto, Elba e Parque Santa Madalena circundam o local do baile.

Segurança ─ Poucos metros separam a praça Francisco Tavares Veloso do ponto final da linha 4.222/10 – Parque Santa Madalena/Praça João Mendes, à qual pertence o veículo que Alves dirigia quando, segundo a polícia, sofreu um mal súbito. Reunidos num posto de gasolina abandonado na Avenida Primavera de Caienas, nesta terça, os colegas de Alves lamentaram o linchamento. “Alves era um ótimo profissional, sempre chegava na hora. Quando era o momendo do almoço, parava meia hora, com a mulher, que trazia uma marmita todos os dias”, conta Airton Soares Cruz, motorista da Via Sul há dois anos. Alves trabalhava na empresa havia sete anos. Fazia o turno da tarde quando foi morto, na última viagem do dia.

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Os motoristas e cobradores que o conheceram reclamam da falta de segurança no trabalho. “Se tivesse uma câmera dentro do ônibus, como há no metrô, talvez não tivesse acontecido isso com o Edmilson”, reclama Cruz. “Ou, pelo menos, saberíamos quem fez aquilo com ele.” Cruz informou que costuma sofrer assaltos na região. “Segurança é o mínimo que pedimos para trabalhar.” O corpo de Alves foi sepultado no Cemitério da Vila Alpina, também na Zona Leste, na manhã desta terça-feira, dia em que faria 60 anos.

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