Planalto escala Jaques Wagner para rebater Cunha: “Quem mentiu foi ele”
Ministro da Casa Civil confirma reunião com aliado do peemedebista, mas nega ter negociado engavetamento do impeachment
Responsável pelas negociações do governo federal com deputados aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner (PT), foi escalado pelo Palácio do Planalto para rebater as declarações do peemedebista, segundo quem a presidente Dilma Rousseff “mentiu” no pronunciamento que fez após a abertura do processo de impeachment. Ele negou que Dilma tenha participado de reuniões com aliados de Cunha para tentar evitar a deflagração do processo.
“Quem mentiu foi o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O André Moura não esteve ontem com a presidente Dilma. Esteve comigo. Ele disse que o deputado teria estado com a presidente levado por mim”, disse o ministro nesta quinta-feira. “Eu conversei com o deputado André Moura, é verdade. A pauta que ele trazia da parte do presidente [Cunha] sempre foi a questão do Conselho de Ética. Mas os fatos estão aí, nós conseguimos votar o que precisávamos e ele não conquistou aquilo que ele alardeia que seria motivo de chantagem. Eu não sou obrigado a ser verdadeiro com alguém que usa seu próprio poder para paralisar um país e a vida do Congresso Nacional.”
André Moura (PSC-SE) é um dos principais aliados e defensores do presidente da Câmara. Segundo o ministro, Cunha enviava o emissário para debater “pautas econômicas” que o Planalto tinha interesse em aprovar. Mais cedo, Cunha afirmou que o Planalto tentou negociar com ele a aprovação da CPMF e que Dilma faz um “governo de barganha.”
“Como emissário do presidente da Câmara, sempre discuti com ele pautas econômicas. A DRU, a CPMF, a repatriação, o PLN-5. Essas matérias tive êxito e havia uma resistência do presidente da Câmara, que acabou concordando em aprovar”, disse Wagner. “Nunca conversei com o deputado André Moura, e ele seguramente irá confirmar, sobre arquivamento ou não de pedido de impeachment. Sou da tese de que não podemos sustentar um governo o tempo todo ameaçado com a entrada ou não de um pedido de impeachment. Sempre disse que como presidente da Casa ele decida o que quiser que nós colocaremos número no plenário para barrar o impeachment sem causa que virou a pauta única de alguns segmentos no Brasil.”
Jaques Wagner acusou Cunha de tentar chantagear constantemente a oposição e o governo com ameaças de abertura do processo de impeachment. Cunha só deu aval ao prosseguimento de uma denúncia contra Dilma horas depois de a bancada do PT anunciar que votaria contra ele no processo disciplinar a que o peemedebista responde no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.
“Ele já disse que vai prorrogar as CPIs. Sempre é a ferramenta da ameaça, que é a prática do presidente da Casa. Sempre ameaçando para conquistar o que quer. Acaba com as chantagens com governo e com oposição”, disse o chefe da Casa Civil. “Ele tentou interditar o funcionamento do Conselho de Ética”, disse o ministro. “Creio que ele perdeu a legitimidade para estar sentado na presidência da Casa que o está julgando.”