Perícia não detecta sinal de veneno nos restos mortais de João Goulart
Resultados de exames efetuados após a exumação do corpo do ex-presidente foram divulgados pela Polícia Federal
A análise pericial efetuada nos restos mortais de João Goulart não detectou sinais de envenenamento no organismo do ex-presidente, morto durante exílio na Argentina, em 1976. Em novembro do ano passado, o seu corpo foi exumado a pedido da Comissão Nacional da Verdade. O resultado do laudo pericial foi anunciado nesta segunda-feira pela equipe de peritos responsável pela análise e pela ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
O perito médico da Polícia Federal Jeferson Evangelista Corrêa afirmou que não foram identificadas substâncias tóxicas ou medicamentosas que possam ter causado sua morte. Apesar disso, disse, não está descartada a possibilidade de envenenamento, porque o corpo passou por muitas mudanças químicas desde a morte, na década de 1970, o que influencia no resultado da perícia. Familiares do ex-presidente acreditam que ele foi envenenado por oficiais uruguaios a mando do governo brasileiro em uma ação da Operação Condor.
O perito cubano Jorge Perez, designado pela família de Jango para acompanhar os trabalhos, disse que não é possível comprovar que a morte de Jango tenha decorrido de um infarto, como está registrado nos documentos oficiais. Também não é possível, segundo ele, dizer se foi uma morte natural. “As duas possibilidades se mantêm. É conveniente a continuidade dos estudos”, declarou Perez. “Os resultados podem concluir que as circunstâncias são compatíveis com morte natural. O infarto pode ser compatível, mas a morte pode ter sido causada por outras cardiopatias”, informa trecho do relatório final do laudo. “A negativa [da presença de veneno] não permite negar que a morte tenha sido causada por envenenamento”, afirma outra parte do texto. O filho de Jango, João Vicente Goulart, declarou que já era previsível a inconclusão das análises, e cobrou do governo brasileiro o compartilhamento de documentos com outros países e o depoimento de agentes americanos, que supostamente contribuíram com a ditadura militar brasileira.
A ministra de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, ressaltou que o relatório da perícia não encerra as investigações sobre as causas da morte de Jango. “Um laudo pericial é parte de um processo de investigação e não uma conclusão em si. Há uma investigação que está em curso pelo Ministério Público. Já que morte de Jango ocorreu na Argentina e como há a suspeita de que ela esteja relacionada à Operação Condor, o Ministério Público da Argentina também está analisando o caso”, disse.
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(Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)