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Pedro Simon sai de cena

Aos 84 anos, 65 deles dedicados à política, o senador prepara a aposentadoria – e os políticos gaúchos duelam por sua herança eleitoral de 1,8 milhão de votos

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 11 ago 2014, 01h50

No último dia 31 de julho, uma quinta-feira gelada típica do julho gaúcho, um comício montado na Praça Montevidéu, em Porto Alegre, por PMDB e PSB, reuniu dezenas de políticos que concorrem a vagas no Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Não é exagero afirmar que quase todas as bandeiras tinham estampado o rosto do senador Pedro Simon (PMDB), há décadas um dos maiores cabos eleitorais do Estado. Aos 84 anos, 65 deles dedicados à política – 32 somente no Senado Federal -, Simon decidiu parar.

A carreira política de Simon se encerra no dia 31 de janeiro, data que celebrará seus 85 anos e concluirá o quarto mandato no Senado. A data já é tratada com certa melancolia pelo peemedebista: “É melhor sair vivo do que morto”. O parlamentar gaúcho planeja um discurso de despedida pregando a renovação da Casa. “Nós não estamos nos dando conta do momento que o Brasil está vivendo. Brasília já teve todo tipo de crise de corrupção, tudo o que se pode imaginar nós já vivemos. Mas hoje é pior: estamos vivendo em função do ‘É dando que se recebe’ e do ‘toma lá dá cá’. Não existe mais partido, ideologia, conteúdo, nada”, afirma.

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Herança política – Nas eleições de 2014, políticos tentam colar a imagem ao legado de Simon em busca da herança eleitoral – 1,8 milhão de votos em 2006. Com o Congresso em recesso, Simon mantém a agenda repleta de compromissos eleitorais, participa das gravações de programas políticos e de atos públicos.

Para o Governo do Estado, Simon apoia o candidato peemedebista José Ivo Sartori, que, a dois meses do pleito, tem apenas 5% das intenções de voto, segundo o Ibope. Para a sua vaga no Senado, foi escalado o deputado Beto Albuquerque (PSB), que também patina nas pesquisas em terceiro lugar. Ele também aderiu à campanha presidencial da dupla Eduardo Campos e Marina Silva, do PSB. Mas não esconde que sua prioridade é eleger o filho mais velho, Tiago Simon, de 44 anos, para a Assembleia Legislativa gaúcha.

Tiago aparece nos spots de campanha sempre ao lado do pai. O lema também remete a um dos mais célebres senadores gaúchos: “A política se renova. Os ideais permanecem”. Simon, no entanto, tem ressalvas com a carreira de Tiago. “Minha família sofreu muito na política. Perdi a mulher e um filho. Foi uma vida muito pesada”, diz, ao lembrar-se de um acidente de carro que tirou a vida de Mateus, à época com 10 anos. Em 1984, no feriado de Finados, Simon havia se comprometido a viajar com a família, mas um contratempo na candidatura de Tancredo Neves o deixou de prontidão em Brasília. A mulher, Tânia, morreu no ano seguinte.

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Simon não consegue falar dos dias atuais sem voltar no tempo. Cita sempre do período da ditadura, que combateu, a campanha pelas eleições diretas e o impeachment de Fernando Collor – para ele, um dos maiores movimentos da história política brasileira. “Essa gurizada que trouxe a democracia deve trazer a moralização. Se eles conseguiram derrotar uma ditadura bárbara e violenta, por que não vão mudar essa roubalheira que está ai?”, diz.

‘Oposição interna’ – Simon já ocupou os diversos cargos políticos: foi vereador em Caxias do Sul, sua cidade natal, deputado estadual, ministro da Agricultura, governador do Rio Grande do Sul e quatro vezes eleito senador. O gaúcho já pleiteou concorrer à Presidência da República, mas o plano não decolou. “Depois do governo de Itamar Franco eu pensei em sair. E, sinceramente, acho que devia ter saído. Acho que ajudava mais fora do que dentro”, diz o senador, que se classifica como independente dentro do “MDB” – até hoje ele refere-se ao partido que ajudou a fundar pelo nome de origem. Há 34 anos, a legenda tornou-se o PMDB. “Do MDB não sobrou nada. Mas eu terminei ficando. Hoje eu sou uma oposição interna que tenta fazer alguma coisa e não consegue.”

No Congresso Nacional, é uma das raras vozes que se posicionam contra os grandes caciques – inclusive os de seu partido. Já subiu à tribuna para defender a saída de José Sarney (PMDB-AP) da presidência do Senado durante o escândalo dos atos secretos, e tentou evitar, anos depois, que Renan Calheiros (PMDB-AL) fosse o sucessor. Resultado: passou a ser escanteado pela Executiva do PMDB, mas, ao mesmo tempo, caiu na graça do eleitor gaúcho e das legendas de oposição.

No segundo casamento, Simon se prepara para deixar Brasília e voltar a viver com a mulher, Ivete, de 59 anos, e o filho caçula Pedro, de 20, em um bairro comercial de Porto Alegre. Voltará a morar no prédio construído durante a adolescência. Terá as duas irmãs, Salém e Ilda, como vizinhas. Vai morar no terceiro e último andar de um edifício sem elevador, mas não hesita em enfrentar os longos degraus para ir à missa, religiosamente às 18h. Segundo a mulher, Ivete, a disposição é fruto das aulas de pilates e caminhadas diárias. “Eu ligo o jornal e coloco a esteira na frente. Ele caminha sem nem ver o tempo passar”, diz.

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