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Para acusação, confissão de Macarrão não livra o goleiro Bruno

Estratégia da defesa pode levar a uma redução de pena do jogador. Advogado do jogador conseguiu condenar, em Minas, PM acusado de crime em que o corpo não foi encontrado

Por Andréa Silva, de Belo Horizonte (MG)
12 mar 2012, 18h18

Todos unidos contra Luiz Ferreira Romão, o Macarrão, ou todos em defesa do goleiro Bruno Fernandes de Souza? Desde que assumiu a defesa do jogador, Rui Caldas Pimenta vem sustentando com unhas e dentes a estratégia de atribuir a responsabilidade na trama do sequestro e assassinato da jovem Eliza Samudio ao amigo e braço direito do atleta. Pelos últimos movimentos dos acusados, o plano parece se concretizar aos poucos. Na manhã desta segunda-feira, o advogado de Macarrão, Wasley Vasconcelos, deixou o caso, alegando apenas questões pessoais. Entretanto, ele havia informando que renunciaria ao cargo se o seu cliente aceitasse participar de qualquer manobra para proteger o goleiro.

A expectativa é de que a qualquer momento Macarrão assuma a autoria do crime, isentando o jogador e ex-patrão de culpa. Formalmente, não há ainda confirmação a respeito de contatos de Rui Pimenta com Macarrão, que é mantido na Penitenciária de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem (MG), onde ele e o goleiro aguardam julgamento. Procurada, a Secretaria de Estado de Defesa Social Minas Gerais (Seds) informou que não poderia confirmar as datas da visita, mas afirmou que o defensor de Bruno está cadastrado para visitar Macarrão.

Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado estadual Durval Ângelo, uma confissão de Macarrão assumindo a autoria da morte da ex-amante do goleiro é mais do que prevista. Em julho de 2010, o parlamentar, acompanhado de colegas da comissão, esteve no presídio para apurar denuncias de que Luiz Romão estaria sofrendo retaliações e ameaças de morte de funcionários da unidade e de alguns detentos, para que ele tomasse a culpa do homicídio.

“Já havíamos cantando essa pedra. Não é nenhuma surpresa. Sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, a defesa do Bruno iria fazer do Macarrão um bode expiatório. Macarrão assumindo o crime, o jogador pode até receber uma condenação, mas com uma pena menor. Como vem sido mantido esse tempo todo na prisão, Bruno pode ganhar em breve sua liberdade e voltar a jogar futebol. Sabemos que há alguns clubes de olho no passe dele”, disse o deputado.

Entretanto, na opinião do parlamentar, mesmo se Luiz Ferreira Romão assumir a autoria da morte de Eliza Samudio, a vida do amigo de Bruno ainda estará correndo perigo. “Mesmo se o Macarrão segurar sozinho as pontas, eles vão tentar eliminá-lo, para não haver o risco de ele se arrepender e depois acabar revelando toda a trama de morte da jovem”.

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Assistente de acusação, o advogado José Arteiro Cavalcanti também disse não se surpreender com a estratégia da defesa. Para ele, o movimento de Rui Pimenta mostra o desespero da defesa por não conseguir sustentar a versão de que, sem corpo, não há crime. “Podem se armar de qualquer maneira, estou preparado. Nenhum deles é inocente, estão todos envolvidos nesse crime macabro. Eles atraíram Eliza para o Rio, depois a sequestraram e a trouxeram para Minas, mantiveram a moça em cárcere privado, a torturaram e depois a levaram para a morte. Como é que o Bruno pode ser inocente nessa história se há provas de que ele estava junto com os comparsas a todo o momento?”, questia Arteiro.

O inquérito policial em que o goleiro Bruno de Souza aparece como o principal articulador da morte de Eliza Samudio foi presidido pelo o chefe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Edson Moreira. Segundo o delegado, não há qualquer dúvida de que a jovem foi executada a mando do ex-amante, porque o goleiro não queria assumir a paternidade do filho que ela esperava – a criança atualmente está com dois anos e vive com avó materna, no Mato Grosso do Sul.

Crime sem corpo – O advogado Rui Caldas Pimenta recentemente atuou em um julgamento de assassinato, em que o corpo da vítima não foi encontrado. O caso foi o da secretária Viviane Andrade Brandão Camargos, de 25 anos, que desapareceu em dezembro de 2002. Segundo investigações da Polícia Civil e denúncias do Ministério Público, a mulher mantinha um relacionamento amoroso com um cabo da Polícia Militar, de 43 anos, e teria sido executada pelo policial e a mulher dele, de 41. Pimenta trabalhou como advogado da acusação e o casal foi condenado pelo desaparecimento e morte da jovem. O acusado recebeu pena de 15 anos de prisão e, a mulher, 14.

Durante o julgamento, Rui Pimenta pediu pena máxima aos acusados. E a noiva de Bruno Fernandes de Souza, a dentista Ingrid Calheiros, acompanhou toda a sessão. Pouco depois, Pimenta assumiu a defesa do jogador. Desta vez, o desafio do advogado será o de provar a inocência do réu. Para isso, Pimenta pretende livrar o jogador e concentrar a autoria sobre Macarrão.

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Para isso, Pimenta começou a construir a imagem de um crime com motivação passional. Em entrevista ao site de VEJA, o defensor de Bruno afirmou que Macarrão é homossexual e teria matado Eliza Samudio em nome do amor que tinha pelo atleta. O advogado Adilson Rocha, conselheiro da seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MG) diz que quando se trata de um crime sem corpo, o cuidado deve ser dos jurados. De acordo com o conselheiro, a lei permite o julgamento independentemente da localização do corpo. “A lei não é ingênua, e não é verdadeira a impressão de que sem corpo não há crime. Tem de haver provas ou indícios com caráter suficiente de crime para convencer os jurados. O réu, para ir a júri popular, não precisa de um contato com o corpo da vítima”, alerta.

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