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Orlando Silva ganha tempo após conversa com Dilma

Dilma Rousseff nunca teve predileção especial por Orlando Silva, mas adota com ele cautela que teve com outros ministros atingidos por denúncias de corrupção

Por Gabriel Castro
16 out 2011, 08h44

Ao saber das revelações de VEJA sobre o ministro Orlando Silva, do Esporte, a presidente Dilma Rousseff telefonou para o subordinado. A conversa se deu ainda na noite de sexta-feira. A petista cobrou explicações de Silva, que adotou a estratégia de desqualificar os denunciantes. Dilma perguntou se o ministro está seguro de que não participou de nenhuma irregularidade. Ouviu uma resposta positiva. Em vez de afastar o comunista do cargo, a comandante decidiu ter cautela: “A verdade se impõe”, teria dito a presidente.

O procedimento é parecido com o adotado antes da queda de outros quatro ministros neste ano. Mas, numa comparação fria, Orlando Silva está mais para Pedro Novais do que para Antonio Palocci: a indicação dele ao cargo não saiu da própria presidente. O integrante do PC do B, nomeado ainda no governo Lula, ficou no cargo por inércia, quando poucos apostavam em sua permanência. Além disso, pesa o desgaste que o ministro tem sofrido nos últimos meses, com as falhas na organização da Copa do Mundo de 2014. Por isso, há quem aposte que o cargo ficará vago nos próximos dias: “Uma cabeça deve rolar nesta semana”, aposta o líder tucano no Senado, Alvaro Dias (PR) .

Outro fator pode jogar contra o comandante do Esporte: em episódios anteriores, especialmente nos casos de Alfredo Nascimento, dos Transportes, e Pedro Novais, do Turismo, a postura dúbia de Dilma lhe rendeu dividendos políticos: a presidente, oficialmente, não demitiu ninguém. Aguardou os subordinados caírem sozinhos, quando a situação se tornou insustentável. Mas, para a opinião pública, ficou a imagem da propalada “faxina ética” do governo. Se Orlando Silva (mais uma parte da herança maldita do governo Lula) cair, o mito da presidente implacável com a corrupção deve ganhar força.

Reação – Diante do surgimento de graves revelações sobre o ministro do Esporte, a oposição deve reagir. E o roteiro não será surpresa, já que houve outros precedentes no governo Dilma: pedir que o Ministério Público Federal investigue o caso e tentar levar o ministro para depor no Congresso. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Corrupção, longe de sair do papel, também deve retornar à pauta. Mas, ao menos para os tucanos, o escândalo, somado às passeatas recentes contra a corrupção, podem dar novo fôlego a algumas bandeiras éticas.

Neste sábado, DEM emitiu uma nota pedindo a exoneração imediata do ministro. E foi além: “A demissão de Orlando Silva não é o bastante. Polícia Federal, Procuradoria Geral da República e Tribunal de Contas da União precisam investigar a fundo esse esquema no Ministério do Esporte”, afirma, no texto, o líder da bancada do partido na Câmara, ACM Neto (BA).

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O PPS vai pedir, já nesta segunda-feira, que a Procuradoria-Geral da República investigue o caso. “Mas o governo não faz isso e aí temos que ir ao Ministério Público para cobrar o que tem que ser cobrado. Seria o caso de o governo chamar a sociedade e dizer que nao vai mais tolerar isso. Que, em caso de denúncia, vai afastar quem quer que seja”, diz o líder do partido na Câmara, Rubens Bueno (PR).

Para Alvaro Dias, o caminho passa pela Justiça. “Vamos dar desdobramento à denúncia e convocar a autoridade judiciária responsável pela instauracao do inquérito a fim de buscar a responsabilizacao civil e criminal”, afirma. O PSDB também pedirá a convocação de Orlando Silva na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. Se o governo repetir o procedimento que usou nos últimos casos, vai aceitar a ida do ministro ao Parlamento desde que a convocação seja transformada em convite.

Clima – Alvaro Dias também acredita que a nova denúncia, somada às passeatas recentes pedindo o fim da corrupção no país, criam um clima favorável à votação de propostas do gênero, como projeto que transforma a corrupção em crime hediondo, que já tramita no Congresso. Para o líder, as revelações trazidas por VEJA só mostram que, mesmo com a tática governista de esfriar os escândalos, os casos acabam voltando à tona mais cedo ou mais tarde. Para ele, a pressão popular pela ética na política pode ganhar corpo nos próximos dias.

“Na CPI dos bingos, houve uma blindagem incrível. O relator era o senador Inácio Arruda, do PC do B. Não tivemos condicoes de aprofundar a investigacao no Ministério dos Esportes”, lembra Alvaro Dias, em referência à comissão que investigou fraudes na pasta durante o governo Lula. “Eles apostam no esquecimento. E o que é pior: reconduzem o ministro ao cargo. É evidente que um dia a casa cai”, aponta o senador. Embora a tarefa seja hercúlea, ele também deve retomar a coleta de assinturas para a criação da CPI da Corrupção no Congresso.

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Rubens Bueno também se queixa da forma como o governo mobiliza sua maioria folgada no Congresso para abafar casos de corrupção. O representante do PPS diz, por exemplo, que já não acredita que a convocação do ministro vá resolver algum problema: “Eu até posso pedir, para ter algum efeito. Mas esse negócio de levar o ministro na Câmara é um horror. Eles botam uma média de quatro deputados por um contra nós e conduzem tudo”, diz o parlamentar.

Esquema – A edição de VEJA que chegou às bancas neste sábado mostra como João Dias Ferreira, policial e militante do PC do B em Brasília, acusa Orlando Silva de coordenar um esquema milionário de desvios em convênios com Organizações não-governamentais (ONGs). Para receber o valor a que tinham direito, as entidades precisavam pagar 20% do valor em questão a integrantes da pasta.

João Dias, que chegou a ser preso durante uma operação que descobriu desvios no ministério durante o governo Lula, também acusa Orlando Silva de ter recebido uma caixa repleta de dinheiro vivo, originário do esquema. A maior parte dos recursos desviados teria sido usada para cobrir gastos de campanha do PC do B – inclusive despesas com a coalização que, em 2006, levou Luiz Inácio Lula da Silva ao poder.

Apesar de sua assessoria ter sido procurada na quinta-feira por VEJA, só após o fechamento da revista, na noite de sexta-feira, é que Orlando Silva fez contato com a reportagem.

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O ministro se disse “chocado”. Afirmou que sabia das ameaças do policial há algum tempo. “Durante um ano esse sujeito procurou gente do ministério e fez ameaça, insinuação. E qual foi a nossa posição? Amigo, denuncie, fale o que você quiser. Por quê? Porque como nós temos convicção de que o que foi feito foi o correto, nós não tememos. E falávamos para ele: não nos interessa. Ele falava que existia um dossiê, que ia denunciar… A resposta era: faça, procure o Ministério Público, a polícia, a justiça, faça o que você quiser fazer”, afirmou.

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