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Obra da Jornada da Juventude alaga casas em Guaratiba

Organização do evento culpa a prefeitura do Rio. Município, por sua vez, informa que cabe ao responsável pela obra drenar a área. Peregrinos correm o risco de caminhar na lama se São Pedro não colaborar

Por Pâmela Oliveira
Atualizado em 10 dez 2018, 10h30 - Publicado em 7 jun 2013, 11h01

“Passei dias chorando, deprimida. Fiquei realmente desesperada. Nem os livros do meu filho nós conseguimos salvar”, contou Raimunda.

Aos 80 anos, Olga Coutinho recebeu como uma bênção a notícia de que um papa celebraria missa bem ao lado de sua casa. A certeza de que o papa Francisco realmente passaria por Guaratiba durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ 2013) só veio quando começou a movimentação de tratores e caminhões revolvendo a terra e o mato da área que receberá 2 milhões de fiéis no dia 28 de julho. Por enquanto, o terreno de 3,5 milhões de metros quadrados ainda é um descampado com poças e montes de terra. Para Olga e outras 20 famílias vizinhas ao local escolhido para o Campus Fidei, no entanto, as obras já trouxeram uma mudança definitiva: com a alteração na topografia da área, a região, que não tem água nem esgoto tratado, passou a ser alagada quando chove. A terraplanagem deixou o terreno preparado para a JMJ ligeiramente mais alto, e as casas ficaram bem no caminho do escoamento da chuva.

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Olga e as famílias afetadas moram entre o terreno da Jornada e a encosta – ou seja, numa vala. Na última segunda-feira, quando uma chuva fina e persistente atingiu o Rio, as marcas do alagamento estavam por toda a casa, nas paredes, na gaveta cheia de objetos molhados e no sofá onde Olga costuma passar as tardes. Moradora da região há mais de quatro décadas, ela afirma que, apesar dos problemas de saneamento, sua casa nunca tinha sido alagada.

“Minha casa ficou cheia de água e de lama. As roupas, o fogão, tudo foi destruído. A água chegou à altura dos meus joelhos. Eu não queria sair da minha casa, mas minha filha me convenceu. Eu voltei, e quando chove eu fico nervosa, vigiando a altura da água”, disse Olga, que mantém o plano de assistir à celebração comandada pelo papa Francisco.

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Quem conhece o terreno aponta, sem titubear, outro problema causado pela obra. Da janela de casa, a empregada doméstica Raimunda Maria da Silva, 44 anos, acompanhou as modificações do terreno. Como conta, o movimento de caminhões destruiu os canais naturais por onde escoava a água, impedindo a vazão durante as chuvas. A casa de Raimunda foi invadida pela água por três vezes, inutilizando a cama, o colchão, os armários, o fogão e a geladeira. Desde a primeira invasão, em março, Raimunda e o filho Leonardo Augusto Silva de Araújo, 14 anos, foram obrigados a abandonar o andar térreo da casa em construção e passaram a morar, de forma improvisada, no terraço.

“Passei dias chorando, deprimida. Fiquei realmente desesperada. Nem os livros do meu filho nós conseguimos salvar”, contou Raimunda.

Vizinho de Raimunda, o artista plástico Paulo Sérgio Pinto, 64 anos, conta que, devido aos sucessivos alagamentos, duas famílias deixaram suas casas. “Além do prejuízo com os móveis e utensílios destruídos, um dos vizinhos perdeu a criação de galinhas e patos. A água subiu rápido e não foi possível retirar todos os animais”, conta Paulo.

Sem água – Na outra ponta do Campus Fidei, ao lado do haras que hoje concentra engenheiros e técnicos responsáveis pela obra coordenada pela organizadora da JMJ, a Dream Factory, cerca de 12 famílias temem perder o poço que abastece todas as casas da pequena comunidade. Desde que os caminhões começaram a aterrar o local, uma mistura de água e esgoto se acumula próximo ao poço da vila, que existe há pelo menos 50 anos, mas nunca teve água encanada. Há poucas semanas, a prefeitura asfaltou a estrada Capoeira Grande. O asfalto, no entanto, parou na entrada da vila.

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Procurada pelo site de VEJA, a assessoria de imprensa da Dream Factory negou que os organizadores do evento, responsáveis pela obra no terreno de Guaratiba, sejam os responsáveis pela inundação das casas e afirmou que o problema seria da prefeitura do Rio. A Rio Eventos, em nota, informou que “a empresa responsável pela realização do evento no Campus Fidei é responsável pela drenagem do terreno”. Disse ainda que “cabe à Prefeitura, por intermédio da Rio-Aguas, dragar o Rio Piraquê, obra que está sendo feita”.

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Sem saber mais a quem recorrer, Olga e seus vizinhos contam agora com a providência divina e rezam para não chover. Uma das medidas possíveis é apelar para São Pedro para que não chova mais – o que, aliás, convém também aos organizadores da JMJ. A toque de caixa, as obras em Guaratiba, atrasadas no início do ano justamente pelas chuvas, tentam aprontar o terreno para receber a multidão. O chão, como se sabe, será de terra batida. Mas o solo por onde passaram os tratores e caminhões não é exatamente uma planície para caminhadas. O que se via, até o início da semana, eram poças, grandes áreas alagadas e muita lama.

https://www.youtube.com/watch?v=zgvmbpy_sbg

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O cronograma para as obras nos terrenos de Guaratiba teve de ser refeito este ano. Entre alguns dos motivos, estão as chuvas incessantes que atingiram a região no mês de março e atrapalharam os prazos para a terraplanagem do solo. Outras questões mais nobres também explicam a revisão das datas de entrega das fazendas, como algumas mudanças para tornar mais moderno o palco onde o papa Francisco celebrará a missa final do evento. Agora, pelo novo cronograma, as obras no terreno voltam a ficar dentro do prazo – diferentemente do início do ano.

Apesar da lama formada quando chove nas duas fazendas de Guaratiba, quem acompanha a obra diz que é apenas uma camada superficial, e que a terra não está mais fofa. O problema, agora, seria pontual, mais especificamente algumas poças que se formam com os temporais. Isso, ao que tudo indica, será um trabalho constante até os dias da invasão dos católicos ao terreno. E, se continuar a chover na semana da Jornada, será impossível que os peregrinos encontrem um solo seco para estender os seus sacos de dormir. Uma das formas de minimizar o lamaçal tem sido o uso de bombas de sucção que, ainda assim, não têm conseguido livrar o terreno da água.

Depois de passar pela fase da terraplanagem, as obras entram, agora, no segundo momento, o de colocação das estacas que servirão de base para as tendas onde haverá comida e bebida para os peregrinos. Começa esta semana também a montagem da estrutura do palco. Já há o traçado das vias que serão construídas pelas duas fazendas para a passagem do papamóvel e para o transporte de alimentos e água até as tendas. Essas novas ‘ruas’ serão as únicas, em todo o terreno, a receber uma espécie de cascalho para evitar serem encobertas pela lama.

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