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O sindicato conseguiu: protesto de professor agora é na base da pancadaria

Presidente da Câmara dos Vereadores disse ter chamado a polícia somente à noite porque acreditava em ato pacífico. A PM só chegou ao protesto meia hora depois do quebra-quebra

Por Cecília Ritto e João Marcello Erthal, do Rio de Janeiro
8 out 2013, 15h23

Para quem ainda acredita que é possível haver um protesto “pacífico” com a presença de mascarados, duas informações. A primeira: não é verdade que black blocs ou qualquer outra variação romanceada do banditismo estejam interessados em atos sem violência. A outra: no Natal, aquele senhor de barba branca e roupa vermelha era, provavelmente, um parente seu. Na noite de segunda-feira, os professores prestaram pelo menos um serviço ao Rio de Janeiro, sepultando a ingenuidade restante sobre as reais intenções do black bloc. Um repórter da rádio CBN descreveu em detalhes, na manhã desta terça-feira, como foi aliciado para “roubar tablets” em um shopping de informática, no meio do protesto.

Em protesto com fraco policiamento, black blocs atacam

Professores em greve recebem lições de guerrilha pelo Facebook

Os professores sérios que estiverem em folga podem começar o dia dedicando-se a algumas correções de relatos nas redes sociais. Os equívocos mais presentes do momento são: os black blocs “se infiltraram” no protesto e “os mascarados protegem os manifestantes”. Quem acompanha o tema pelo Facebook sabe que os mascarados foram convocados pelos sindicalistas, e, desta vez, caíram em uma armadilha invisível da Polícia Militar. Os PMs, sabendo o que estava por vir, apenas deixaram o grupo à vontade. E, claro, a rapaziada que considera a depredação de agências bancárias uma ação “pacífica”, passou a promover o vandalismo. Desta vez, com um elemento novo, o incêndio de um ônibus.

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O Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio (Sepe) é comandado por mestres que não sabem matemática – eles admitiram, em entrevista ao site de VEJA, não ter calculado os salários com base nos critérios da prefeitura, nem nos padrões propostos por eles próprios. O Sepe saiu-se com a seguinte defesa para a baderna de ontem, como consta em reportagem do jornal O Globo: “O ato promovido pela categoria foi encerrado às 20h”. Ou seja, o sindicato convoca uma centena de mascarados e, no momento em que a quebradeira vai começar, encerra oficialmente suas atividades, isentando-se da culpa.

Se for seguida a letra fria da lei, a PM prevaricou na noite de segunda-feira: no Estado do Rio, é proibido usar máscaras em protestos. E também é dever do policial prender quem depreda o patrimônio público ou privado. O bizarro jogo de propaganda em curso, no entanto, torna difícil entender os movimentos das autoridades. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, definiu o dilema dos policiais que atuam em protestos com a seguinte sentença: “Nós estamos tratando de turba, de ações muito difíceis e muito complexas, que por vezes colocam a polícia entre a prevaricação e o abuso de autoridade”. No caso de ontem, prevaleceu a prevaricação, em favor do objetivo de criar um desgaste para o movimento grevista a exemplo do que houve com o protesto que varreu ruas do Leblon e de Ipanema, atacando lojas e mobiliário urbano.

Claudia Costin: “Estão fazendo a leitura errada do plano”

A estratégia do presidente da Câmara dos Vereadores, Jorge Felippe (PMDB), foi alinhada com a da polícia: deixar a confusão tomar conta do entorno do legislativo carioca e depois mostrar os efeitos dos black blocs sobre a cidade. Durante o quebra-quebra do lado de fora, enquanto manifestantes tentavam derrubar o portão e jogavam coquetel molotov em direção ao legislativo, um grupo da brigada de incêndio e de guardas municipais tentavam conter os vestígios que chegavam dentro da Câmara. Segundo Felippe, eram 400 black blocs.

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Nesta terça-feira, o presidente disse ter chamado a PM às 19h30, quando os mascarados começaram a pressionar o portão. O fato é que, em todas as manifestações no entorno do prédio – seja em reuniões da CPI dos Ônibus ou em sessões para discutir o plano de cargos e salários dos professores -, Felippe pediu ajuda com antecedência à policia, que montou um cerco e não permitiu que o protesto chegasse à porta da Câmara. No Rio, foi-se o tempo em que protestos não terminavam em confusão, bombas e corre-corre. No Facebook, as páginas que promovem a baderna davam o sinal de que não seria diferente o protesto encabeçado pelos professores. Felippe, no entanto, disse que ainda acreditava em um ato pacífico e que, por isso, não acionou a PM com antecedência. “Imaginávamos que seria uma manifestação pacífica, e não que os Black Blocs se multiplicariam e viriam com violência”, afirmou. O comportamento do presidente da Casa também é curioso. Na ocupação de uma semana atrás, ele pediu diretamente ao governo do estado a ação da PM.

Na greve dos professores, predomina a intransigência

“Conversei com o comandante da Polícia e pedi reforço na noite de segunda. Fomos atendidos. Os black blocs agiram de forma dispersa, com grupos de cinco ou seis. Isso dificultou o controle da polícia. Chegaram a tentar invadir o quartel general da PM, mas a polícia se rearticulou e pôde evitar a invasão à Câmara”, disse Felippe, afirmando que os manifestantes usaram material de guerrilha. O resultado dos trinta minutos sem qualquer intervenção policial é visto com indignação por quem passa pela Cinelândia nesta terça. Ninguém mexeu no cenário da destruição, e os destroços do protesto agora servem de antipropaganda para os grevistas. Os vidros do ponto de ônibus ainda estão no chão. As agências bancárias continuam sem tapumes, escancarando os caixas depredados, a fiação solta, as pichações com o nome “Black Bloc” e montes de sujeira misturados aos restos de portas e janelas.

Os símbolos do anarquismo e do marxismo também se espalharam pelo quadrilátero da Câmara, cujas pichações na fachada exaltam os vândalos e pedem a saída do governador Sérgio Cabral, do prefeito Eduardo Paes e da secretária municipal de Educação, Claudia Costin. Outras inscrições pedem “BB’s (Black Blocs) no poder” e “morte aos corruptos”. O portão preto da lateral do legislativo está revestido com tons de vermelho e uma parte ficou retorcida de tanta pressão dos manifestantes. Dentro, houve principio de incêndio em duas salas. Policiais fizeram a perícia na manhã desta terça-feira.

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No cerimonial, segundo o diretor da brigada de incêndio da Câmara, Ward Gusmão, foi arremessado um sapato com fogo. Na sala da liderança do DEM, há resquícios de bomba e de objetos queimados. Felippe colocou a culpa nos black blocs, tirou o peso dos professores e pediu a compreensão da categoria: “Quem fala a verdade não merece castigo. A cidade do Rio não tem como pagar o salário que o sindicato quer”, afirmou. Nesta terça, os vereadores arranjaram mais um motivo para não pisar no legislativo. As salas da lateral que ficaram danificadas fizeram a Câmara suspender os trabalhos por hoje.

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