O show de calouros da prefeitura do PSOL
Ex-cortador de cana eleito em Itaocara, no estado do Rio, Gelsimar Gonzaga faz assembleias com a população para que secretários sejam aclamados. Primeira medida do novo alcaide será cortar o próprio salário e o de seus assessores diretos
“Atualmente vivo com 545 reais por mês. Eu não preciso de quinze mil. Não há necessidade”, diz Gelsimar
Ex-cortador de cana, ex-sindicalista, agente de saúde, Gelsimar Gonzaga, 49 anos, conquistou, na eleição de 3 de outubro, a primeira prefeitura da história do PSOL. Os 6.796 votos que obteve fincaram na pequena Itaocara, cidade de 23.000 habitantes, 270 quilômetros a noroeste do Rio, a bandeira amarela e o sol vermelho do partido de Heloísa Helena, Marcelo Freixo, Babá, Jean Wyllys, Chico Alencar, Randolfe Rodrigues e Luciana Genro. O PSOL fez Itaocara ser notícia no país, e Gelsimar, ao que tudo indica, vai manter o partido no noticiário ao longo do próximo quadriênio.
O PSOL também conquistou, no segundo turno, a prefeitura de Macapá, que será governada a partir de 2013 por Clécio Luís. Mas é na pequena Itaocara que tem se manifestado o que a página do partido na internet chama de “modo PSOL de governar”. Gelsimar escolheu quatro, dos 14 secretários, em praça pública, pelo voto popular. O sistema de votação funciona assim: um carro de som convoca os eleitores para a quadra. Os ‘candidatos’ a secretário escolhidos pelo partido são apresentados e, tal qual em programas de auditório, são eleitos por aclamação. Segundo Gelsimar, cada votação reúne cerca de mil pessoas – as fotos não mostram essa gente toda. A primeira sessão de escolha de secretários ocorreu em 7 de novembro, e coroou o professor Marco Aurélio Guerreiro e a técnica administrativa Margareth Mello nas pastas da Educação e da Saúde.
Dizendo-se “um funcionário dos eleitores”, Gelsimar decidiu submeter os nomes dos secretários de Saúde, Educação, Obras e Agricultura à população porque, segundo ele, são as pastas mais importantes para a cidade. Por isso, explica, só conquista a pasta aquele que tem a aprovação da maioria dos que participam da votação na quadra de esportes.
“Eu chego à quadra com dois nomes previamente selecionados. Apresento o primeiro e peço que os que concordam com a nomeação levantem a mão. Para confirmar aquele nome como secretário, é preciso que metade mais um concordem. Caso contrário, anuncio o próximo nome e faço a mesma coisa. A população também pode apresentar outro. É importante que todos participem”, explica.
Para secretário de Obras, o primeiro nome proposto por Gelsimar é o do motorista bombeiro Eduardo Moreno. Questionado sobre a experiência de Moreno para ocupar a pasta, o futuro prefeito teve dificuldades para se explicar. “Ele trabalha na Defesa Civil. Está acostumado com problema de enchente, deslizamento, socorro. Essas coisas, desentupir bueiro, é questão de obra mesmo. A Defesa Civil trabalha muito com o pessoal da obra”, afirma, certo de que fez uma boa escolha.
A primeira medida do novo governo está decidida. Uma mudança no salário do prefeito e dos secretários. Não um aumento, mas um corte, claro. Num país em que deputados e senadores têm até o Imposto de Renda de seus 14º e 15º salários pagos pelo contribuinte, a medida é bem-vinda. A intenção de Gelsimar é reduzir seu próprio salário e o do primeiro escalão. O prefeito de Itaocara ganha, atualmente, 15.000 reais, enquanto secretários recebem 4.500.
“Atualmente vivo com 545 reais por mês. Eu não preciso de 15.000. Não há necessidade. Eu tenho que me comparar com outros trabalhadores. Sou um trabalhador e acho que a diferença salarial é muito grande. Não sei se a redução vai ser 10%, 5% ou 20%. Vai ser nessa média”, disse Gelsimar ao site de VEJA, na sexta-feira, pouco antes de seguir para outra eleição de secretários.
Turismo Ideológico – Certo de que Itaocara será vitrine do PSOL para o país, Gelsimar sonha com o crescimento do que chama de “turismo ideológico” na cidade. O nascimento dessa modalidade de visitação deve ocorrer já na posse. Jovens militantes do PSOL prometem ocupar Itaocara no dia 1º de janeiro.
“Esse é um momento histórico para o PSOL. Estamos organizando uma excursão para a cidade. Fretaremos ônibus para sair no dia 1º de manhã do centro do Rio, para um ato na posse do novo prefeito. O que ele está fazendo é muito diferente. A gente costuma ver troca de favores e alianças espúrias. E o que teremos é uma gestão participativa”, afirma Rose Messias, membro da executiva estadual do PSOL-RJ.
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