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O repentino interesse do PRB nos Esportes

Depois de turbinar sua bancada de deputados, partido adere ao governismo e consegue trocar uma pasta de terceira linha por um ministério repleto de convênios e de forte visibilidade eleitoral

Por Felipe Frazão 18 jan 2015, 19h49

Fundado e dirigido por líderes religiosos da Igreja Universal do Reino de Deus, o Partido Republicano Brasileiro (PRB) começou o ano com uma estratégia nova: lançar tentáculos nos esportes. A sigla, que tenta desvincular eleitoralmente sua imagem da igreja evangélica, conseguiu aumentar seu poder no Executivo por meio da barganha de cargos de primeiro escalão. Acompanhando o salto no número de deputados – elegeu oito em 2010, e 21 no ano passado -, o PRB deixou um ministério de terceira linha, a Pesca, e fisgou outro com mais verba – e muito mais holofotes. O partido ocupou o Ministério do Esporte no governo Dilma Rousseff e quatro secretarias de Esportes pelo país: em São Paulo, Minas Gerais, Ceará e no Distrito Federal. Alocado na Cultura em Roraima, o PRB ainda pleiteia o deslocamento das atividades esportivas para sua pasta.

Nas negociações com a presidente e o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), o PRB exigiu a ampliação do espaço na Esplanada, mas abriu mão do Ministério da Previdência Social, ofertado por Dilma. A pasta do Turismo também era almejada, segundo o presidente nacional do partido, Marcos Pereira. Ele afirma que o Esporte foi o ministério “possível”, mas que estava “dentro do planejado”. O dirigente explica que, caso tivesse ficado com a pasta do Turismo, por exemplo, adotaria a mesma estratégia de alinhar as secretarias estaduais.

“Naturalmente que buscamos um espaço maior e de mais visibilidade. E os bons resultados alcançados no Ministério da Pesca, quando dobramos a produção de pescado no Brasil, qualificaram o PRB para qualquer função”, disse Pereira ao site de VEJA, por e-mail. “O esporte é uma importante vitrine hoje. Nossa ideia é fazer uma gestão eficiente que nos proporcione uma marca. Não tem segredo ou mistério nisso.”

Até então, talvez a maior afinidade do PRB com o meio esportivo fosse a legenda do partido na Justiça Eleitoral – número dez, o mesmo tradicionalmente usado pelos craques do futebol brasileiro. A escolha de George Hilton, um ministro sem nenhuma familiaridade com a área, como ele próprio admitiu, escancara que o PRB priorizou os compromissos com sua bancada no Congresso, antes do desenvolvimento da prática esportiva no país.

Deputado federal por Minas Gerais e presidente do diretório local da sigla, Hilton foi alçado à condição de ministro sob críticas de entidades e personalidades esportivas. Até agora resistiu, com o argumento de ser um “bom articulador” e outro um pouco mais estranho: “entender de gente”. Pastor da Igreja Universal, Hilton era líder do PRB na Câmara, onde demostrou rigor duvidoso com gastos públicos de seu gabinete, conforme revelou o site de VEJA. Em 2006, chegou a ser flagrado pela Polícia Federal no Aeroporto da Pampulha com 600.000 reais em dinheiro vivo – segundo ele, fruto do pagamento do dízimo para a igreja. O desgaste do episódio lhe rendeu a expulsão do PFL, atual DEM.

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“A escolha levou em conta a capacidade de agregar do George Hilton e sua experiência política”, argumenta Pereira. “Um bom gestor público é aquele que sabe dialogar e convergir. Ele tem essa característica. José Serra é considerado o melhor ministro da Saúde da história sendo economista.”

O critério político-religioso parece ter norteado a maior parte das demais indicações. Quase todos os secretários estaduais de Esporte do PRB são ligados à Universal e possuem mandato parlamentar: o vereador paulistano Jean Madeira (SP), ex-judoca e um dos ícones da Força Jovem, ala de juventude da igreja; e os deputados estaduais e pastores Davi Durand (CE) e Carlos Henrique Silva (MG) – este vice-presidente do partido em Minas e também flagrado com Hilton no episódio dos 600.000 reais.

Não que o PRB não tivesse nomes mais familiarizados com o setor em seus quadros. Coordenador nacional do PRB Esporte, seção do partido dedicada ao fomento da prática esportiva, o ex-boxeador e deputado federal Acelino Freitas, o Popó, foi preterido para cargos no Executivo. Também presidente da Frente Parlamentar Mista do Esporte, Popó não se reelegeu na Bahia e vai deixar a Câmara dos Deputados na próxima legislatura. Outra atleta aposentada que tenta carreira política no PRB, a medalhista olímpica com a seleção brasileira de vôlei Leila Barros também passou distante da Esplanada, embora vá trabalhar mais próximo a ela. Mesmo sem ter sido eleita deputada distrital, Leila assumiu o cargo de secretária de Esporte no Distrito Federal. Na prática, o partido manteve no governo Rodrigo Rollemberg (PSB) o controle da secretaria que comandou na gestão do antecessor, Agnelo Queiroz (PT).

Em Brasília, o PRB atestou o potencial eleitoral de controlar as secretarias de Esporte. Neófito em eleições, o ex-secretário Júlio Cesar Ribeiro (PRB), empresário e também pastor evangélico da Universal, foi o deputado distrital mais votado em outubro, com 29.384 votos. Artífice da estratégia de ocupar tantos cargos executivos ligados ao Esporte quanto possível, o presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, diz que a legenda tem de crescer agora “na capacidade e na excelência de gestão”: “Não nos basta ocupar cargo aqui e ali pelo simples fato de ocupá-los”. O PRB aposta agora que conseguirá uma nova identidade e que ganhará visibilidade eleitoral ao comandar as ações esportivas em alguns dos principais Estados brasileiros.

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Caberá ao ministro George Hilton administrar um orçamento federal de 2,3 bilhões de reais em 2015. Apenas para investimento direto nas ações dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, as cifras federais do Ministério do Esporte e da Autoridade Pública Olímpica superam 1,5 bilhões de reais, a maior parte para obras de infraestrutura esportiva.

Parte dessa verba, porém, é aplicada em convênios com Estados e municípios, por meio de ONGs, setor ao qual o partido já está familiarizado. Centralizar o investimento de recursos federais de convênios foi um dos argumentos que a sigla usou para convencer os aliados a controlar a pasta do Esporte. O secretário da Casa Civil do governo de São Paulo, Edson Aparecido (PSDB), diz que o presidente do PRB argumentou que gostaria indicar o secretário de Esportes caso tivesse a confirmação da presidente Dilma de que o ministério seria entregue ao partido. “Ao pular da Pesca para o Esporte, eles foram para um estrutura que tem uma capilaridade muito mais forte e visibilidade”, avalia o tucano. “Eles disseram que ter essa participação facilitaria buscar parcerias, canalizar e ir atrás de recursos federais, que foi algo que o governador Geraldo Alckmin pediu a todos os secretários.”

Um ministro do governo Dilma que acompanhou de perto as negociações para montagem da nova equipe ministerial complementa: “Eles acreditam que com o esporte podem avançar mais na área social e por isso pediram esse ministério a Dilma”. Com o cargo federal, os interesses do PRB vão de encontro aos da Igreja Universal. A denominação busca atrair um público jovem com campanhas sociais e de combate ao uso de drogas. Os secretários do PRB e o próprio ministro defendem o fomento da prática esportiva como forma de inclusão social e de combate às drogas, bandeiras apoiadas pela Universal.

O novo assento na Esplanada dos ministérios põe o PRB em destaque ainda no Rio de Janeiro, um dos Estados em que o partido e Universal têm mais influência. A preparação das Olimpíadas de 2016 colocará o PRB (Ministério do Esporte) de um lado e PMDB (prefeitura e governo do Rio) de outro dividindo o controle da Autoridade Pública Olímpica, consórcio federativo que gere a preparação dos jogos. Os partidos foram adversários no Estado no ano passado, com a campanha do senador Marcelo Crivella (PRB), derrotado pelo governador reeleito Luiz Fernando Pezão (PMDB), apoiado pelo prefeito carioca Eduardo Paes (PMDB).

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As Olímpiadas são a menina dos olhos da TV Record, que assim como o PRB possui fortes vínculos com a Universal. Para galgar o segundo lugar nacional em audiência na TV aberta, a emissora apostou alto nas transmissões de competições esportivas e tirou da TV Globo, por meio de contratos de exclusividade, as Olimpíadas de Vancouver (inverno) 2010, Londres (verão) 2012 e Sochi (inverno) 2014, além dos Pan-americanos de Guadalajara (2011) e Toronto (2015). No ano que vem, Globo, Record e Band transmitirão os jogos no Rio. Em um cenário dividido como esse, qualquer posto de influência pode se tornar um trunfo.

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