O que a retórica de cada presidenciável revela a seu respeito
Longe de exibirem uma oratória arrebatadora, Dilma, Marina e Aécio se desdobram para construir uma imagem positiva a partir de seus discursos
“Não é um discurso. É uma vida.” Chama atenção o fato de um dos pronunciamentos mais célebres da campanha presidencial de 2014 – feito por Marina Silva durante um comício realizado no mês passado em Fortaleza – trazer consigo uma espécie de aversão a algo que integra a própria natureza da política. Ao fazer a distinção entre “discurso” e “vida”, a candidata do PSB procurava reiterar a distância que a separaria de seus adversários, a fim de se legitimar como a verdadeira “expressão da mudança”, o “novo”, em oposição ao continuísmo, o “velho”. E isso a partir da premissa de que, em política, o “discurso” exprime a mentira – enquanto “uma vida” não se pode inventar. Curiosamente, no entanto, a intervenção de Marina só provocou o efeito avassalador que se verificou porque seguiu uma diretriz básica da retórica, a arte do bem falar: o discurso será tão mais convincente quanto mais o orador puder transmitir uma imagem confiável de si. Sistematizada pelos sofistas, a retórica teve em Aristóteles (384-322 a.C.), gigante da filosofia da Grécia antiga, um incontornável estudioso, e no ateniense Demóstenes (384-322 a.C.) e no latino Cícero (106-43 a.C.) sua autêntica personalização. Segundo Aristóteles, autor de uma obra notável sobre o assunto, o ethos, a imagem que o orador constrói de si mesmo, consistiria no primeiro dos elementos-chave para convencer uma plateia. “É ao caráter moral (do orador) que o discurso deve quase todo o seu poder de persuasão”, escreveu ele. As outras variáveis seriam o páthos, ou seja, a capacidade de a palavra falada “levar o auditório a uma certa disposição de espírito” (emoção); e o lógos (domínio da razão), instância referente ao próprio discurso, “no que diz respeito ao que ele demonstra ou parece demonstrar”. Naturalmente, todos os políticos buscam transmitir uma imagem confiável de si. É preciso, porém, observar como esse ethos opera em consonância com o páthos e o lógos. Seja como for, está-se falando sempre em nível de discurso. “O discurso político não esgota, de forma alguma, todo o conceito político, mas não há política sem discurso”, anota o linguista francês Patrick Charaudeau no livro intitulado justamente Discurso Político.
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