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‘O PT fazia o diabo. Nós infernizamos’

Líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes promete embate duro e diz que o governo manobrou para esconder o crime de responsabilidade da presidente

Por Gabriel Castro, de Brasília
7 dez 2014, 17h37

O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), é um dos parlamentares mais combativos da Casa, onde costumam predominar debates menos acalorados do que os da Câmara dos Deputados. O tucano, que foi vice de Aécio Neves na eleição presidencial, tem um repertório extenso de adjetivos para criticar a inépcia do governo. Foi o que ele fez, por exemplo, durante a longa votação da manobra fiscal para acobertar o descumprimento do superávit primário, na última semana. Em entrevista ao site de VEJA, Aloysio diz que a proposta do governo foi feita para “limpar a cena do crime” e garante que a oposição não dará trégua “nem em voto de pesar”.

Qual é o saldo da batalha pela aprovação da manobra fiscal? O saldo é muito negativo para o Brasil, porque isso vai ter como consequência o aumento da taxa de juros. Quando o governo tenta poupar num ano e deixa de abater os juros da dívida interna, esses juros vão se acumulando, se juntando ao capital principal e a consequência é que aqueles que emprestam dinheiro ao governo vão exigir juros cada vez mais altos. É um péssimo exemplo também não só para os cidadãos como pra estados e municípios. Agora vai começar a corrida dos estados e municípios para mudar suas leis de de diretrizes orçamentárias e se livrar das consequências jurídicas do descumprimento das metas.

O governo errou nas contas ou gastou demais deliberadamente por causa das eleições? Não tenho dúvida nenhuma que tem a ver com as eleições. O governo perdeu o controle total. Não levou em conta os relatórios bimestrais que mostravam que a situação fiscal estava se deteriorando e meteu o pé na jaca. Querem apresentar esse descontrole como sendo uma política deliberada, anticíclica. Conversa. Como é que você vai fazer política anticíclica para trás? Essa medida, esta abolição da meta de superávit fiscal vale retrospectivamente para o ano de 2014, não vale para 2015. Tanto é que o governo está propondo na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) uma nova meta fiscal para 2015. É preciso mudar o modelo de ocupação política que gerou a gastança, que gerou desperdício, corrupção, obras paradas, sobrepreço. Mas a Dilma está indo para o mesmo caminho. Na correria para aprovar o projeto de lei que pode livrá-la das consequências da sua irresponsabilidade, ela aprofundou o modelo que vinha sendo seguido por ela e pelo Lula na gestão passada, que é o loteamento político. Para combater um problema ela aprofundou as causas do próprio problema.

A oposição fez o máximo que pôde? O máximo. Não poderíamos ter feito além do que fizemos. Com um número muito reduzido de parlamentares nós levamos o governo à exaustão e conseguimos explicar as razões pelas quais nós éramos contra. Houve um ganho político da oposição. Conseguimos nos sintonizar com setores da opinião pública que, como nós, consideram que essa medida é desastrosa para o governo. E conseguimos esclarecer as pessoas sobre as nossas razões, que não eram meramente regimentais. Era uma razão de fundo. Vencemos a batalha da opinião pública porque, para justificar essa medida eles tiveram que mentir mais uma vez, dizendo que essa mudança era para garantir investimentos no ano que vem. É uma rigorosa mentira. Não tem nenhum efeito sobre os investimentos do ano que vem, que serão condicionados pelo orçamento de 2015 e pela LDO de 2015, não pela LDO de 2014. Era só para limpar a cena do crime. Não tem nenhuma relação direta. Não vai garantir um centavo a mais de investimento para o ano que vem.

Nem garantir empregos, como diz o governo? Claro que não. Essa lei olha para trás, olha para 2014, para absolver a presidente do fato de ter movimentado mais de 20% dos programas do orçamento de 2015 por decreto, não tendo respeitado a meta fiscal, que é o artigo 4º da lei orçamentária. É um crime que já está consumado e ela está mudando a lei para se anistiar. Nada tem a ver com os investimentos do ano que vem. Pelo contrário, vai prejudicar os empregos, porque quando o governo se recusa a poupar ou não tem condições de poupar para abater a dívida interna, ele está se colocando como refém daqueles que emprestam para ele.

O governo ofereceu emendas em troca da aprovação da manobra, mas parlamentares governistas se queixaram. Isso é sinal de que o modelo de cooptação está se esgotando? Não sei até onde vai a pouca vergonha, a falta de respeito por si mesmo, pelas prerrogativas do poder. Essa talvez seja a pior das heranças do governo do PT: a degradação política. Isso não tem limite, não sei onde está o fundo desse poço.

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O contato maior entre a oposição e a população, como aconteceu na votação da manobra orçamentária, é uma herança do período eleitoral? Sim. Houve uma situação objetiva, que foi o esgotamento político desse modelo petista de governar, somado a uma situação econômica ruim. Isso levou a uma sensação de chega, de basta, que alimentou a campanha. E a campanha alimentou essa situação. Pela primeira vez nós tivemos uma correspondência entre a dinâmica da campanha eleitoral e a dinâmica da opinião pública de uma maneira muito forte, e isso continua agora. E o principal desafio nosso é não nos metermos a balão de tentarmos tutelar essa opinião, porque em grande parte é um movimento suprapartidário que não nos pertence. Isso em parte é mérito nosso, mas em grande parte é uma situação objetiva que se criou. Nós temos a compreensão de que nós não podemos nos arvorar a dirigir ou nos apropriar disso, temos que compreender que esse movimento é plural, que tem muitos componentes e que em grande parte está acima dos partidos.

A presença de um líder inconteste, como Aécio Neves, ajuda a agregar a oposição? Sim, O Aécio hoje é um ícone. O nome dele simboliza a mudança, o novo jeito de mudar, o combate à corrupção, uma série de aspirações. Numa sociedade de massas, numa política que é feita via grandes meios de comunicação de massa isso é muito importante. É a personificação, num líder, de uma série de sentimentos que mobilizam a opinião pública.

Mas ele não estava na linha de frente dos embates durante a votação da lei do superávit. Muita gente tem habilidade e expertease nessa guerrilha regimental: deputados como Ronaldo Caiado, Mendonça Filho,Domingos Sávio e Antônio Imbassahy. No Senado nós não temos isso. Mas muitas vezes, sem ir para o confronto no microfone, Aécio ditou nossa linha tática. Frequentemente nós nos reunimos em torno dele no corredor central do plenário para discutir os próximos lances. Ele tem a experiência de presidência da Câmara, de vários mandatos parlamentares.

Até onde a oposição pretende ir com esse ímpeto pós-eleitoral? Vamos ficar na ofensiva o tempo todo, exercendo o papel da oposição. Oposição tem que ser contra o governo. Tem que vigiar, criticar. Esse é o papel. E nós não vamos dar folga.

A chamada oposição propositiva, que enfatizava os pontos de convergência com o governo, saiu de moda? Nessa legislatura, quando eu voltei como senador ao Congresso, em nenhum momento nós demos folga ou entramos na linha do “social-patriotismo”. O problema é que não havia essa conexão com a população. A nossa luta era puramente parlamentar, porque as condições objetivas não haviam sido criadas ainda. Agora você tem essa condição, que é um enorme contingente da população dizendo que não aguenta mais o PT. Isso nasce primeiro na sociedade.

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A principal trincheira no próximo mandato de Dilma vai ser em torno das investigações do petrolão? Sem dúvida. Isso vai continuar, já alimentado pela divulgação das delações premiadas, e vai se expandir, porque não tenha dúvida que virão outros setores do governo envolvidos. A corrupção no governo do PT não é um fato isolado e que atinge uma ou outra empresa. É um método de governo. Essa é a grande diferença entre os governos do PT. É um método de governo e se espraiou, está entranhado em todos os setores da administração.

Muitos oposicionistas avaliam que erraram em 2005, ao não levar adiante um pedido de impeachment contra Lula por causa do mensalão. Se a situação da presidente Dilma se deteriorar, esse erro tem chances de se repetir? Se houver uma acusação grave contra ela, algo com um mínimo de plausibilidade jurídica, é claro que o assunto vai ser colocado. Mas o impeachment é um processo jurídico e também político. Basta ver como funciona. O que é o impeachment? É uma decisão da Câmara dos Deputados, que é tomada por maioria absoluta depois de um exame de uma acusação, com ampla defesa por parte do acusado, por uma comissão especial da Câmara de Deputados. Depois, se a Câmara concluir pela emissão de um decreto de impeachment, o presidente é afastado e julgado pelo Senado. O impeachment só pode prosperar no caso de um colapso da sustentação política do governo. Foi o que aconteceu com o Collor. Ele sequer chegou a ser julgado pelo Senado, renunciou antes. E foi absolvido das acusações que havia contra ele no Supremo. Foi um processo político. Você não pode ter como centro da sua atuação política o impeachment. Porque a presidente tem força política, acabou de ser eleita, é apoiada por uma série de instituições da sociedade. Com cooptação ou não, é apoiada por sindicatos, partidos, por isso, por aquilo. Acho que não se deve colocar o impeachment como objeto da luta política nesse momento. Tem que acompanhar os fatos e, se for o caso, agir conforme as circunstâncias. Lenin dizia que não se pode brincar com a greve geral. Eu diria: não se pode brincar com o impeachment, porque pode botar a oposição num caminho sem saída que pode levar à frustração.

A aprovação do orçamento de 2015 acontecerá ainda neste ano? O ano que vem vai começar o ano sem orçamento. Isso é uma análise fria, objetiva e não é problema da oposição.Pegue a lista de presença da comissão mista de orçamento que você verá. A oposição está lá. Quem não aparece é o governo.

A oposição também vai fazer do orçamento uma queda de braço ou haverá trégua? Trégua nenhuma para nada. Nem em voto de louvor, nem em telegrama de pêsames. Esse é o papel da oposição.

Mais ou menso como o PT fazia no passado? Eles faziam o diabo. Nós não: nós infernizamos, mas não fazemos o diabo.

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