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O dilema das UPPs: ocupar é mais fácil do que manter

Tranquilidade com que as forças de segurança entraram no Complexo do Caju contrasta com os problemas de insegurança de unidades que já deveriam estar consolidadas

Por Da Redação
Atualizado em 10 dez 2018, 11h31 - Publicado em 4 mar 2013, 16h58

O desembarque das tropas do estado e das Forças Armadas no Complexo do Caju, na manhã de domingo, se deu em absoluta tranquilidade. Em 25 minutos, sem um tiro sequer, as 13 favelas do Caju e a favela da Barreira do Vasco estavam “controladas” pela polícia, com 1.300 homens da PM, 200 policiais civis e 200 fuzileiros navais. Quanto menos traumáticas as operações policiais, melhor para a população. E esse é um ponto positivo da era das UPPs. O efeito colateral desse modo de agir, que consiste também em avisar quando e onde a ocupação vai ocorrer, é a fuga de traficantes em débito com a Justiça – algo que a polícia do Rio ainda não conseguiu resolver e que, em última análise, consiste em empurrar a quadrilha para outro canto, como vem ocorrendo.

Desde a entrada dos blindados pelas ruas do conjunto de favelas do Alemão, em dezembro de 2010, ninguém duvida que a polícia é capaz de subir morro – e ficar por lá. A dúvida, agora, é outra: o quanto e por quanto tempo é possível manter a ‘pacificação’? E quanto os policiais são capazes e estão dispostos a manter a bandidagem fora dali?

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As UPPs enfrentam uma tradição perversa e difícil de combater: a corrupção policial. Ao jornal ‘Folha de São Paulo’, o secretário Beltrame reconheceu, no domingo, que os fuzis voltaram ao Alemão – ele não diz quantos – e que há problemas em algumas UPPs. O mais gritante deles ocorreu na UPP dos morros Fallet/Fogueteiro, em 2011, onde foi descoberto um esquema de mesada para que policiais fizessem vista grossa para o tráfico de drogas, com envolvimento de um capitão. Segundo Beltrame, o processo nessas favelas teve que recomeçar do zero, pois a contaminação atingiu um nível capaz de comprometer o trabalho do estado.

No Alemão, o tráfico resiste e enfrenta o estado

As autoridades de segurança sabem que existem UPPs em diferentes graus de amadurecimento. Desde que foi criada a primeira UPP, no Morro Santa Marta, em dezembro de 2008, foram presos 52 policiais dessas unidades. Toda a tropa do programa de UPPs vem de turmas recém-formadas da PM, mas com a mesma base de treinamento – há pequenas diferenças, mas algo longe da reforma necessária para mudar o padrão de qualidade do policial.

Havia a crença de que, nos morros menores, principalmente na Zona Sul, a migração da lógica do tráfico para a da lei seria algo mais rápido e menos conflituoso. O Santa Marta se mantém como exemplo máximo de transformação das UPPs, com movimento de turistas e festas que atraem moradores ‘do asfalto’. Por outro lado, o Complexo do Alemão, onde uma policial foi morta por bandidos; Rocinha, onde os traficantes volta e meia dão sinais de que estão vivos e operantes; e a Cidade de Deus, longe dos olhos da Zona Sul e, portanto, muito mais sujeita aos refluxos do tráfico, são áreas mais problemáticas.

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O que se vê nos dias de hoje no Leme, numa encosta com uma das vistas mais deslumbrantes da orla de Copacabana, mostra que mesmo as “favelinhas” estão em perigo. No mês passado, bandidos expulsos pela UPP voltaram a atuar. A fação Amigos dos Amigos (ADA), segundo reportagem da Folha de São Paulo, perdeu inclusive o medo de circular com armas expostas no morro Chapéu Mangueira. Acabar com o poderio armado, e não com o tráfico, é o verdadeiro papel das UPPs. Por isso o Leme hoje representa uma ameaça das grandes ao processo.

As UPPs avançam, e crescem os problemas

VEJA mostrou, em janeiro, onde fica um dos esconderijos dos bandos que escapam das UPPs. O Complexo do Lins, um conjunto de 11 favelas, que tinha papel secundário para os bandidos do Comando Vermelho, passou a concentrar criminosos refugiados de outros morros. Um vídeo mostra a liberdade com que a quadrilha se desloca, com armamento pesado, e sacos de droga e dinheiro, comandados pelo bandido Paulo César Souza dos Santos, 41 anos, o PL, também conhecido como Paulinho Muleta.

Na segunda-feira após o carnaval, dia 18 de fevereiro, outro exemplo de que a bandidagem não está disposta a recuar ‘na conversa’: dois homens não identificados roubaram a pistola e o celular de um policial militar que estava em frente à unidade da PM do Morro do Tuiti, que integra a UPP da Mangueira, na Zona Norte do Rio. O comércio daquela área ficou fechado – e uma imagem mostra que nem em frente à UPP os comerciantes tiveram coragem de desafiar a ordem dos traficantes.

O fechamento do comércio na Mangueira – uma forma de ‘protesto’ da bandidagem que já foi mais frequente no Rio – contrasta com um projeto ousado que se desenha para o Complexo do Alemão. Associados, empresários e líderes comunitários planejam criar um shopping na favela, numa iniciativa que geraria trabalho desde a construção até o funcionamento das lojas, praças de alimentação e cinemas. Se a iniciativa sair do papel, estará dado, no Alemão, um passo tão importante quanto ocupar o espaço que antes era das bocas de fumo. O problema é convencer empresários de que a situação está realmente sob controle. Quem hoje acompanha o noticiário, sabe que o cenário no Alemão e nas demais favelas com UPP é o seguinte: a polícia está lá, mas os bandidos, volta e meia, aprontam das suas. Mais: os bandidos que estavam no morro A podem reaparecem no morro B, é só esperar.

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