Para entender o conceito de hegemonia
Por que a hegemonia na sociedade põe os alicerces democráticos em risco
Nesta semana, um documento divulgado pela Comissão Executiva do Partido dos Trabalhadores (PT) com diretrizes para o segundo governo de Dilma Rousseff defendia em determinado trecho que “é urgente construir hegemonia na sociedade”. Em sentido estritamente etimológico, hegemonia significa liderança, derivada diretamente de do termo grego hēgemonia (liderança), que por sua vez, vem do verbo hēgeisthai (liderar). O termo, no entanto, ganhou um segundo significado, desenvolvido pelo teórico comunista italiano Antonio Gramsci (1891 – 1937) e designa um tipo específico de dominação.
Segundo a acepção de Gramsci, hegemonia é uma dominação consentida, especialmente de uma classe social ou nação sobre seus pares. Na visão do italiano, quanto mais difundida uma determinada ideologia, mais sólida fica a hegemonia e há menos necessidade do uso de violência explícita. Qualquer semelhança com a sociedade criada por George Orwell em sua distopia 1984 não é mera coincidência.
“Em Gramsci, a hegemonia exige o consentimento. As estruturas de poder e autoridade devem ser amplamente aceitas como naturais e legítimas”, diz Karen Buckley, especialista na obra do italiano da Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha. Karen explica que politicamente, a hegemonia gramsciana é “mantida por ideias, meios institucionais e materiais não necessariamente democráticos”.
A hegemonia política de Gramsci constrói a concepção de um ‘Estado ampliado’, regido por um partido que seria o ‘moderno Príncipe’ – em referência ao príncipe déspota esclarecido descrito na obra de Nicolau Maquiavel. O processo de construção de consciência gira em torno daquilo que convém ao partido que comandaria a sociedade.
“O moderno Príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para aumentar o seu poder ou para opor-se a ele”, escreveu Gramsci.
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