O “acerto” e a fraude
Mensagem relata que medidas provisórias suspeitas foram combinadas diretamente entre as montadoras, Lula e a presidente Dilma
No ano passado, quando a Polícia Federal já investigava um grupo envolvido com a compra de medidas provisórias, Lula pediu a um aliado que fizesse o possível para proteger o lobista Mauro Marcondes, preso na Operação Zelotes. Imaginava-se que a intenção do ex-presidente era apenas resguardar o filho mais novo, Luís Cláudio, que recebera 2,4 milhões de reais do lobista como pagamento por serviços jamais prestados. Mas era também para se autopreservar. Os investigadores encontraram no computador de um dos suspeitos de integrar a quadrilha a seguinte mensagem: “A MP 512 foi um acerto do Lula com a Fiat. Ela foi editada bem no fim do governo dele, mas com a Dilma já eleita, combinado que ela cuidaria da sua aprovação”. O texto foi escrito pelo advogado Vladimir Spíndola, filho de Lytha Spíndola, uma ex-funcionária da Casa Civil, por onde transitam todas as medidas provisórias. Os dois, mãe e filho, são acusados pelo MPF de ter praticado crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A MP 512 está no epicentro do escândalo. Segundo a Receita Federal, ela provocou um prejuízo de 12 bilhões de reais aos cofres públicos, foi concebida pelo governo em menos de 24 horas e não passou por crivo técnico. Os investigadores já sabem que os lobistas “vendiam” a seus clientes influência e acesso ao governo – o que de fato tinham. Mauro Marcondes, condenado a onze anos de cadeia na semana passada, era amigo íntimo de Lula. Mas, como indica a mensagem do advogado do grupo, a MP suspeita foi “um acerto” direto com o ex-presidente. Lula é oficialmente investigado no caso, assim como o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, idealizador da medida provisória, que teve os sigilos bancário e fiscal quebrados pela Justiça. Procurado, Vladimir Spíndola afirmou que a frase do e-mail “foi retirada do contexto”. A Fiat informou que “a empresa segue os mais elevados padrões éticos e normas nacionais e internacionais de compliance e de transparência na condução de seus negócios”. A montadora Ford, também citada pelo lobista, ressaltou que “tem uma posição forte e clara contra a corrupção em todas as nossas operações ao redor do mundo”.
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