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No Rio, operação prende policiais que roubavam bandidos

Ministério Público, Secretaria de Segurança, Polícia Militar e PF desmontam quadrilha de PMs que recebia propina de traficantes de Duque de Caxias e sequestrava criminosos quando o pagamento atrasava. Grupo de 65 policiais deve ser expulso dentro de 30 dias

Por Cecília Ritto e João Marcello Erthal, do Rio de Janeiro
4 dez 2012, 13h32

A Operação Purificação, deflagrada na manhã desta terça-feira no Rio de Janeiro, desarticulou uma quadrilha que misturava traficantes e policiais, numa canhestra simbiose de papéis que resultava na perpetuação do comércio de drogas, armas e de outros crimes. A rede de propina investigada ao longo de um ano pela Secretaria de Segurança e pelo Ministério Público, com apoio da Polícia Militar e da Polícia Federal, estava de tal forma consolidada ao redor do 15º BPM (Duque de Caxias) que era difícil divisar onde terminava a atuação dos bandidos e começava a dos militares corruptos.

Se a denúncia resultar na condenação dos 65 PMs acusados de corrupção, não será exagero afirmar também que, em Duque de Caxias, os policiais nada mais eram que bandidos roubando bandidos. Uma das práticas descobertas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), unidade do MP que investiga crimes com a participação de policiais, eram os sequestros de criminosos e seus parentes, além do recolhimento de bens, como automóveis, para exigir o pagamento de resgate.

“Os PMs davam blindagem para manter o esquema dos traficantes na favela Vai Quem Quer. Quando o pagamento não era efetuado no prazo, ocorria o sequestro do traficante ou de um familiar dele. Desencadeamos a operação a partir de uma verificação dos índices de criminalidade em Duque de Caxias. Fomos buscar causa e efeito e verificamos grande quantidade de desvios de conduta”, explicou o subsecretário de Inteligência da Secretaria de Estado de Segurança Pública, Fábio Galvão.

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Os sequestros de foragidos da Justiça e parentes de criminosos por policiais tornaram-se um problema para a PM fluminense. E uma fonte de renda para os maus policiais, como mostrou reportagem do site de VEJA em outubro.

A estrutura montada pelo grupo denunciado na Operação Purificação descobriu que cada equipe – os GATs, ou grupos de ação tática, formados por oito PMs – de policiais lucrava cerca de 5.000 reais por plantão. O dinheiro era o pagamento para “não trabalhar”, ou seja, não coibir o tráfico de drogas em 13 favelas daquele município. O centro do ciclo de propina, alvo principal da investigação, é a favela Vai Quem Quer. Mas há outras, entre elas a favela Beira-Mar, reduto do traficante mais conhecido do Brasil, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.

A Vai Quem Quer e outras favelas foram um “presente” de Beira-Mar ao traficante Carlos Braz Vitor da Silva, conhecido como “Paizão” ou “Fiote”. Ele ‘herdou’ o comando por ter ajudado Beira-Mar na rebelião no presídio de Bangu 1 que, em 2002, que resultou na morte do traficante Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê.

Segundo o MP, de dentro da Penitenciária Vicente Piragibe, no Complexo de Bangu, ele mantinha contatos frequentes com seus comandados na quadrilha. Paizão decidiria detalhes da operação, inclusive valores a serem pagos como “arrego” – como é chamada a propina paga pelos traficantes – aos policiais.

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A confiança na impunidade era tão grande que, segundo a denúncia, um dos policiais acusados deixou com um colega o número de sua conta corrente, para que o “arrego” fosse depositado, durante suas férias.

O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, e o comandante-geral da PM, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, falam sobre a Operação Purificação, que tenta prender 65 policiais envolvidos com o tráfico de drogas
O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, e o comandante-geral da PM, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, falam sobre a Operação Purificação, que tenta prender 65 policiais envolvidos com o tráfico de drogas (VEJA)

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que “não há outro caminho” para os policiais denunciados, senão a expulsão. “O problema da corrupção é mundial. Temos um problema sério de corrupção no país todo. Nós temos é que procurar as respostas e a transparência no resultado”, disse.

A previsão é que em até 30 dias os denunciados sejam expulsos da corporação. Até o início da tarde, 59 dos 65 mandados de prisão tinham sido cumpridos – um PM que não estava denunciado foi preso em flagrante, com uma arma sem registro. Além deles, há 18 mandados de prisão expedidos contra traficantes, cinco deles já na cadeia, entre eles o bandido “Fiote”. Os policiais foram levados para o presídio de Bangu 8.

Na investigação, ficou clara a conexão da quadrilha de “Fiote” com traficantes da capital do estado, das favelas do Complexo do Lins, Parque União e Favela Nova Holanda, na Zona Norte, que também são alvo da operação.

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O comandante do 15º BPM, coronel Claudio de Lucas Lima, também perdeu o cargo. Ele foi exonerado da função e encaminhado para o Diretoria Geral de Pessoal (DGP), conhecido como a “geladeira” da PM. Não há acusação contra o oficial, mas o entendimento é de que ele falhou em seu papel de fiscalizar os policiais. “A PM está buscando limpar a instituição. os PMs que não seguirem essa orientação serão excluídos”, afirmou o comandante-geral da PM, coronel Erir Ribeiro da Costa Filho.

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