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No limite, Agripino dá ultimato a Demóstenes

Reunião com integrantes do DEM, nesta segunda, vai traçar destino de senador, em situação delicada por causa de sua ligação com Cachoeira

Por Luciana Marques
2 abr 2012, 13h28

Se depender do humor de integrantes do Democratas, o senador Demóstenes Torres (GO) pode ser expulso do partido ainda nesta segunda-feira. A cúpula da legenda avalia que as gravações reveladas por VEJA no sábado complicam ainda mais a situação do parlamentar. E será difícil mantê-lo filiado ao DEM por muito tempo. Os áudios mostram negócios entre Demóstenes e Carlos Cachoeira, chefe da máfia de caça-níqueis em Goiás.

O presidente do DEM, José Agripino Maia (DEM-RN), está indignado com a postura de Demóstenes. Em tom ríspido, Agripino reclamou que o senador até agora não deu explicações ao partido sobre as denúncias que pesam contra ele. “Não tenho contato com Demóstenes”, disse. “Ele não está se manifestando, então, nós precisamos ter uma conversa com ele hoje, que será uma conversa definitiva.”

Por meio de interlocutores, o senador enviou um recado ao presidente do DEM: está pronto para dar explicações ao partido. Também devem participar da reunião que vai selar o destino de Demóstenes os deputados ACM Neto (BA), líder do DEM na Câmara, e Ronaldo Caiado (DEM-GO). O encontro deve ocorrer na casa de Demóstenes, em Brasília, no fim do dia. Os parlamentares aguardam apenas a chegada de ACM à capital, prevista para 18h.

Indícios – A situação de Demóstenes Torres complicou-se ainda mais neste final de semana, com novos indícios de sua relação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Gravações feitas com autorização da Justiça pela Polícia Federal – e obtidas com exclusividade por VEJA – demonstram que, entre Demóstenes e Cachoeira, existia uma sociedade de interesses mútuos – o contraventor dava presentes e dinheiro; o senador retribuía advogando em favor dos negócios do sócio.

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Se não apresentar explicações até a noite desta segunda, Demóstenes vai enfrentar um processo de expulsão do partido a partir de terça-feira. A expectativa no DEM é que o próprio senador peça seu desligamento da legenda. “O partido deu prazo até terça-feira, pela manhã, para ele apresentar argumentos contundentes, o que consideramos cada vez mais difícil, em função da quantidade de evidências que envolveram o senador. Se ele não apresentar uma defesa contundente e consistente, haverá abertura de processo de expulsão. A situação dele é muito difícil e, se ele não conseguir trazer elementos mais consistentes e contundentes, ficará insustentável”, afirmou ao jornal O Globo o deputado ACM Neto (DEM-BA).

Trasparência: Cachoeira, em gravação: ‘O Policarpo nunca vai ser nosso’

Demóstenes se reuniu na noite de domingo com seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. De acordo com a defesa, não há qualquer possibilidade do senador renunciar ao cargo. No domingo, o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, pediu a renúncia imediata de Demóstenes.

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Biografia – Pilhado em uma investigação da Polícia Federal que mapeou os negócios de Cachoeira, Demóstenes Torres viu sua biografia virar pó desde que começou a ser revelada a amplitude de suas relações com o contraventor. Descobriu-se que o senador – que em público tinha um comportamento reto, vigilante – possuía uma conduta bem diferente no ambiente privado. Conforme VEJA revelou em sua edição de 7 de março passado, Demóstenes gozava da intimidade do contraventor, com quem falava em média duas vezes por dia, e dele recebeu de presente uma geladeira e um fogão importados avaliados em 30 000 reais.

Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal abriu inquérito para investigar Demóstenes. “Meu cliente é vítima de uma investigação ilegal”, afirma o advogado do senador. A investigação promete causar danos também em outras frentes. Os grampos telefônicos põem na cena da máfia os governos de Brasília, comandado por Agnelo Queiroz (PT), e de Goiás, controlado por Marconi Perillo (PSDB). Em Brasília, as escutas indicam que o grupo tinha acesso ao gabinete de Agnelo. Inclusive para fazer indicações políticas. Carlinhos Cachoeira está preso desde o dia 29 de fevereiro. Outros seis parlamentares estão envolvidos em negociações com o contraventor.

Leia no blog de Reinaldo Azevedo:

Ainda que a defesa do senador Demótenes Torres (DEM-GO) consiga anular em juízo as evidências colhidas contra ele pela Polícia Federal – já que só poderia ter sido investigado com autorização do STF -, dificilmente conseguirá manter o mandato. Se não renunciar, a chance de que venha a ser cassado é gigantesca. O conteúdo de suas conversas com Carlinhos Cachoeira, que vieram a público, é incompatível com sua função, e ele certamente sabe disso. Até porque é quem é e construiu uma reputação no Senado de inimigo da corrupção – e também porque é um dos nomes mais visíveis da oposição -, o “caso pegou”. Não há como ele encontrar uma explicação virtuosa para o que se ouviu e se leu até agora. É evidente que não deixa de ser irônico, quase um escárnio, ver um José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado, a afirmar que a situação do colega é muito difícil. Mas assim são as coisas.

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