No jornal mexicano ‘La Jornada’, Dilma encontra alguém que acredita em seu governo
Às vésperas de sua viagem ao México, a presidente defende a retomada da união comercial entre os dois países, que teria sido interrompida com o apoio do presidente Vincent Fox ao ALCA. Brincando, ela batizou o vínculo de "tequila e caipirinha"
Finalmente surgiu quem acredite no governo de Dilma Rousseff. Às vésperas de sua visita ao México, o matutino de esquerda La Jornada publicou uma entrevista – bem camarada, diga-se – com a presidente brasileira. Segundo o matutino, Dilma e o ex-presidente Lula seriam vítimas de “intrigas desestabilizadoras” promovidas pelo PSDB e pelas Organizações Globo.
O artigo do La Jornada ressalta ainda que “as elites políticas e midiáticas sonham com o retorno do neoliberalismo em detrimento a todos os programas sociais criados nos doze anos do PT no poder, com a privatilização da Petrobrás e com o retormo de uma relação diplomática mais íntima dos Estados Unidos”.
A conversa de Dilma Rousseff com o La Jornada foi bastante amistosa. Em nenhum momento se contestaram as respostas da presidente ao escândalo da Petrobras. Dilma parafraseou o escritor Nelson Rodrigues, que certa vez escreveu que a seleção brasileira é a pátria de chuteiras. “A Petrobras é o Brasil com as mãos sujas de óleo”, declarou. Está lá registrado: “mãos sujas”.
Em trecho da entrevista não publicado na versão online do jornal mexicano, mas reproduzido no portal da Presidência, Dilma disse não crer num processo de impeachment porque este não teria base real. Para a ela, o pedido de impeachment “tem um caráter muito mais de luta política”.
Os casos de corrupção na Petrobrás, disse ela, teriam sido obra de poucos funcionários em meio aos 90.000 empregados da estatal. O fato de esses “poucos funcionários” serem ligados a partidos da base de apoio do governo não foi mencionado. Assim como não foi mencionado o uso de dinheiro da estatal para financiar o PT, e talvez até mesmo a campanha presidentical de Dilma em 2010.
Dilma ressaltou a importantância da aproximação do Brasil com as nações africanas e da América Latina (“por causa de nossa identidade cultural”, disse). Em relação ao México, essa aproximação teria sido prejudicada pelo apoio do ex-presidente mexicano Vincent Fox à ALCA (Àrea Livre de Comércio das Américas), uma proposta criada pelo governo americano em 1994 que visaria eliminar as barreiras alfandegárias dos 34 países americanos. A ideia foi engavetada em 2005.
Dilma citou como auspicioso o namoro entre a empresa petroquímica brasileira Braskem com a sua similar mexicana Idesa para criar um polo petroquímico. A presidente fez votos também por uma parceria das empresas petrolíferas Petrobras e Pemex. O repórter camarada assiscou que seria uma união “mariachi e bossa nova”. Dilma, discípula de Lula, preferiu batizá-la de “tequila e caipirinha”.
Dilma disse coisas importantes na entrevista. Por exemplo: “Eu acho o nome das avenidas no México fantástico.”