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‘Não vou me sujeitar à execração pública’, diz Azeredo

Réu no Supremo Tribunal Federal, deputado tucano renunciou ao mandato nesta quarta-feira para evitar desgaste ao PSDB em ano eleitoral

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 fev 2014, 13h58

Na carta de renúncia entregue nesta quarta-feira à Câmara dos Deputados, o tucano Eduardo Azeredo afirmou ser inocente das acusações do Ministério Público Federal de participar do valerioduto mineiro e disse ter abandonado o cargo para evitar a “execração pública” em ano eleitoral.

O documento foi levado a Brasília pelo filho Renato Azeredo e lido em plenário pelo deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE).

Em um ataque direto ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que pediu sua prisão pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro, o tucano afirmou que as acusações foram baseadas em “documentos e testemunhos falsos”. Com a renúncia, o processo de Azeredo poderá ser remetido para a primeira instância em Minas Gerais.

O tucano voltou a afirmar que, no comando do governo de Minas Gerais, delegou funções a subordinados. “O governador de Minas Gerais, com 20 milhões de habitantes e mais de 500.000 funcionários ativos e inativos, não governa sem descentralizar, sem delegar”, disse.

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“Não vou me sujeitar à execração pública por ser um membro da Câmara dos Deputados e estar sujeito a pressões políticas. Esta sanha não quer que prevaleça a ponderação da justiça. Mas sim ver pendurado e balançando no cadafalso o corpo de alguém exemplado para satisfazer os mais baixos apetites em ano de eleição”, escreveu na carta de renúncia. “Não aceito que o meu nome continue sendo enxovalhado, que meus eleitores sejam vítimas, como eu, de mais decepções, e que sejam atingidos o meu amado Estado de Minas Gerais e o meu partido, o PSDB.”

Alvo político – O tucano disse ser um “alvo político” e que paga por irregularidades cometidas por outras pessoas. Ele ainda se eximiu de culpa por ter tido as agências de publicidade SMP&B e DNA, do empresário Marcos Valério de Souza, como contratadas. As duas empresas também atuaram no escândalo do mensalão, responsável por levar à condenação 25 empresários e políticos, entre eles a antiga cúpula do PT e o homem-forte do governo José Dirceu.

“A infeliz coincidência de uma agência de publicidade, contratada antes mesmo de meu governo ter se envolvido em rumoroso episódio de negociações suspeitas para fins políticos a nível federal, fez de mim um cúmplice que não fui e nunca seria em ações de que nunca participei nem participaria”, disse.

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O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse que recebeu um telefonema de Azeredo para comunicar o afastamento. De acordo com Alves, ele revelou “muita indignação com a forma com o que o processo foi conduzido”. “Tenho de lamentar. É sempre constrangedor quando um episódio [o afastamento de um deputado] acontece dessa forma. Mas eu tenho de cumprir o meu dever”, disse o presidente da Câmara.

PSDB – Após a renúncia, o presidente nacional do PSDB e pré-candidato à presidência da República, Aécio Neves, afirmou que a decisão do deputado Eduardo Azeredo de renunciar ao mandato era uma “questão de foro íntimo” e deveria ser respeitada pelos correligionários. “Decisão de foro íntimo que tem de ser respeitada. Ele vai se dedicar a agora sua defesa. Eduardo é conhecido e reconhecido em Minas Gerais como um homem de bem”, afirmou.

Nos bastidores, porém, o tucano estava isolado no partido e havia sido aconselhado a permanecer em silêncio para evitar impacto no cenário eleitoral deste ano.

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Leia a íntegra da carta de Azeredo:

Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores Deputados,

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Quem assume a atividade política se sujeita a, repentinamente, encarar situações dramáticas e até impensáveis, ditadas pelas mudanças de conjuntura e por ataques, pressões e interesses de adversários. As versões dadas aos fatos, sem cerimônia, estraçalham a vida pessoal como num atropelamento inesperado na travessia de uma rua. Não importa o que a pessoa é e o que já fez em favor da sociedade e dos ideais que escolheu servir. É assim que me sinto hoje! Uma tragédia desabou sobre mim e a minha família, arrasando o meu nome e a minha reputação, construídos com zelo permanente a partir do legado exemplar que recebi dos meus saudosos pais, Renato e Ruth Azeredo – eles próprios pessoas que também sempre dedicaram à vida pública e ao bem de Minas Gerais e do nosso país.

As acusações de que fui alvo pela procuradoria-geral da República, com base em testemunhos e documentos falsos, não me pouparam. De cidadão, que deveria ter assegurado o sagrado direito de defesa, fui transformado em mero alvo de político destinado a sofrer ataques para compensar delitos cometidos por outros.

A infeliz coincidência de uma agência de publicidade contratada antes mesmo de meu governo ter se envolvido em rumoroso episódio de negociações suspeitas para fins políticos a nível federal fez de mim um cúmplice que não fui e nunca seria em ações de que nunca participei nem participaria. As alegações injustas, agressivas, radicais e desumanas da PGR formaram a tormenta que me condena a priori e configuram mais uma antiga e hedionda denúncia de inquisição do que uma peça acusatória do Ministério Público.

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O governador de Minas Gerais, com 20 milhões de habitantes e mais de 500 mil funcionários entre ativos e inativos, não governa sem descentralizar, sem delegar! Insisto em que as responsabilidades de um governador são semelhantes e proporcionais às de um presidente da República! Mas de que adianta mais eu alegar que não sou culpado? O que posso é reafirmar que estou pronto e responder em qualquer foro às acusações que me fazem. Não vou, porém, me sujeitar à execração pública por ser um membro da Câmara dos Deputados e estar sujeito a pressões políticas. Esta sanha não quer que prevaleça a ponderação da Justiça, mas, sim, ver, pendurado e balançando no cadafalso, o corpo de alguém exemplado para satisfazer os mais baixos apetites em ano de eleição.

Minhas forças já se exaurem, com sério risco para a minha saúde e para a integridade de minha família. Não aceito que o meu nome continue sendo enxovalhado, que meus eleitores sejam vítimas, como eu, de mais decepções, e que sejam atingidos o meu amado Estado de Minas Gerais e o meu partido, o PSDB.

Assim, comunico a esta Casa do Congresso Nacional e à opinião pública que, neste ano, renuncio ao mandato de deputado federal que me foi conferido por milhares de eleitores mineiros. Deixo o Parlamento para dedicar todos os meus dias à defesa de minha honra e de minha liberdade. Sem o mandato público, aguardarei o meu julgamento, certo de que, na serenidade que deve presidir os veredictos, fique definitivamente comprovado que não tenho culpa pelas acusações que sofri.

Peço, senhor Presidente, que esta comunicação seja lida em plenário, inscrita nos Anais desta Câmara e publicado.

Brasília, DF, 19 de fevereiro de 2014

Eduardo Brandão de Azeredo

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