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Beltrame transforma favela em vitrine mundial do Rio

As bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro estão hasteadas na Rocinha, coroando uma operação em que estratégias minuciosas de polícia e de propaganda repetem a repercussão positiva do Alemão - agora sem improvisos.

Por João Marcello Erthal e Cecília Ritto
13 nov 2011, 10h49

“Podemos ter, sem dúvida, bandidos foragidos. O ideal seria podermos devolver o território com todos os presos e todas as armas apreendidas. Nós focamos o território, para permitir que o estado possa cumprir o seu papel. Esse foco foi atingido”, afirmou Beltrame

Ocupar uma das maiores favelas do mundo sem atirar – e sem receber tiros – é um feito memorável. Executar o plano à risca, em uma área cercada de condomínios de classe média alta, ao alcance da janela de dois hotéis e um shopping de luxo, só aumenta a visibilidade do feito. O resultado surpreendente da ocupação das favelas da Rocinha e do Vidigal, que incluiu a ainda minúscula Chácara do Céu, foi uma espécie de renovação de uma rara onda positiva para a polícia do Rio, só comparável à tomada do Complexo do Alemão, em novembro o ano passado. A repercussão positiva vem potencializada pela localização privilegiada e por um planejamento que incluiu das questões táticas ao cronograma de divulgação das ações. O governador Sérgio Cabral e seu homem de frente na segurança pública, José Mariano Beltrame, transformaram assim, mais uma vez, uma favela em vitrine internacional para o Rio de Janeiro – e eles próprios, não sem méritos. Às 12h30m as bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro foram hasteadas em frente à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na Rocinha, por policiais femininas e sem a presença de autoridades do governo estadual. O secretário Beltrame justificou: “Este é o momento desses homens que estão há noites sem dormir para libertar a população da Rocinha.”

Sérgio Cabral chegou sorridente ao 23º BPM (Leblon), unidade da PM a algumas centenas de metros de seu apartamento no mesmo bairro. Cabral destacou a importância da união de forças entre as esferas de governo e se disse feliz por ter cumprido um compromisso de campanha. “Em 2006, prometi ali que libertaria a comunidade do tráfico. Hoje é um dia histórico, é mais um capítulo da paz no Rio. Os marginais estão presos, ou serão presos os que estão foragidos”, disse, sobre a quantidade ainda pequena de capturados.

Confira a cobertura completa:

A cronologia da ocupação policial

Rio: Com blindados, começa a ocupação

Beltrame transforma favela em vitrine

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Começa o desmonte do Arsenal da Rocinha

Galeria de imagens:

A prisão do traficante Nem

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A ocupação da Rocinha pelas forças de paz

Preparativos: saída da Rocinha é vigiada

O governador conversou pela manhã com a presidente Dilma Rousseff e com o ex-presidente Lula. E pôde, pela Rocinha, relembrar o compromisso com o governo federal que, recentemente, com o silêncio de Dilma sobre os royalties, parecia esquecido. “A voz do ‘presidente Lula’ (sic) está ótima”, disse.

O secretário de Segurança, cauteloso, destacou que a ocupação da Rocinha tem “apenas algumas horas”, e que os agentes de segurança estão tomando conhecimento de um local que “os marginais” conhecem há 30 anos. “Apreender armas, drogas, isso é muito importante. Mas devolver a dignidade, livrar uma população do jugo do fuzil, isso também é muita coisa”, disse, também respondendo a ainda pequena quantidade de traficantes detidos. “Podemos ter, sem dúvida, bandidos foragidos. O ideal seria podermos devolver o território com todos os presos e todas as armas apreendidas. Nós focamos o território, para permitir que o estado possa cumprir o seu papel. Esse foco foi atingido”, afirmou.

A ação na Rocinha e no Vidigal, batizada de “Choque de Paz”, não teve espaço para o improviso e a correria de um ano atrás, no Complexo do Alemão. Em vez disso, foi minuciosamente arquitetada para minimizar os riscos em uma área nobre da cidade. A prisão do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, foi uma prova disso. Mas o planejamento esteve também fora da alçada da segurança.

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Na véspera da operação, a Marinha deu demonstrações de algo que não é o seu forte: transparência. Chamou a imprensa para apresentar os 18 blindados que subiriam, horas depois, as favelas na zona sul, com tempo reservado para fotos e imagens para televisão. Em vez do atendimento improvisado, rente ao muro de um batalhão, a divulgação dos resultados da operação deste domingo se deu em uma área previamente preparada, com direito a sistema de som eficiente e aparelhos de TV que repetiam a cobertura das emissoras.

Modelo – É provável, e desejável, que a Rocinha e o Vidigal passem a ser o modelo de ocupação para criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). O projeto tem objetivos nobres e avanços indiscutíveis para o Rio. Mas há disparidades que, se não forem corrigidas, porão em risco até a cirúrgica ação na Rocinha. Nos morros do Fallet e Fogueteiro, o processo está longe de ser consolidado. Traficantes ainda circulam na região e, recentemente, foram afastados oficiais da PM que recebiam mesada da quadrilha.

A primeira UPP, instalada no Morro Santa Marta, em Botafogo, também na zona sul, conseguiu transformar o lugar em ponto de turismo e lazer da classe média. Mas os serviços ainda chegam devagar. No Alemã, como admite Cabral, a dificuldade de efetivo mantém, de forma irregular, militares do Exército em um prolongado papel de polícia.

De todas as UPPs, a da Rocinha – que deve ser inaugurada ainda antes da unidade do Alemão – deve se tornar a mais badalada, mais comentada internacionalmente. A favela tem, segundo estimativa do próprio governador, algo como 100 mil habitantes – os números serão conhecidos com a divulgação do último Censo do IBGE. Do alto daquele morro e do Vidigal a vista para o mar é incomparável, e nas duas áreas, mesmo com tráfico, o turismo persistia. O potencial econômico de áreas com essas características ainda é inimaginável, e o interesse da mídia internacional é proporcional a ele.

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Cabral gaba-se de ter fechado dois ciclos com as UPPs: o primeiro, há duas semanas, foi a conclusão de um anel de favelas ‘pacificadas’ ao redor do palco da final da Copa de 2014, o Maracanã; agora, o projeto cerca a zona sul. A política de segurança do governador consegue, neste domingo, mais uma vez suplantar o noticiário negativo com um evento que monopoliza as atenções. Há três semanas, uma pesquisa do IPEA mostrava que as taxas de homicídio no Rio foram maquiadas durante o governo Cabral. O Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão que produz os dados oficiais, ainda não explicou as distorções que desapareceram com mais de 3 mil vítimas de assassinato em 2009. Por um bom tempo, ninguém vai lembrar delas.

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