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Minas: o campo de batalha que pode decidir a eleição

Site de VEJA visitou cidades onde Dilma e Aécio obtiveram mais de 80% dos votos para conhecer os motivos da polarização eleitoral no Estado

Por Gabriel Castro, de Minas Gerais
25 out 2014, 10h02

A eleição de 2014 vai ficar marcada como uma disputa intensa e imprevisível do começo ao fim. Na reta final da campanha, a última batalha será travada em Minas Gerais. O Estado, hoje, é um território dividido: em nenhum outro lugar do Brasil houve votações tão discrepantes: em alguns municípios do norte mineiro, Dilma obteve mais de 80% dos votos. Em outros, mais ao sul, Aécio foi quem ultrapassou essa marca.

Os dois candidatos escolheram Minas Gerais para encerrar a campanha, neste sábado, porque sabem o que está em jogo. O Estado tem o segundo maior colégio eleitoral do país, possui um número considerável de eleitores “conquistáveis” por ambos os lados e apresenta, uma configuração demográfica e econômica comparável à do próprio Brasil.

A presidente da República venceu no primeiro turno no Estado de forma surpreendente. Os 3,7 pontos porcentuais de vantagem sobre Aécio serviram de arma eleitoral na segunda parte da campanha: se o tucano perde na terra que governou, não há algo de errado com ele? Depois, o PT passou a explorar ao máximo os pontos fracos do tucano à frente do governo mineiro – verdadeiras ou não, as afirmações parecem ter convencido parte do eleitorado.

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Agora, a campanha de Aécio conta com uma vitória no Estado no segundo turno por causa da ofensiva do tucano em Minas e pela transferência dos votos que eram de Marina Silva. Mas as pesquisas continuam mostrando uma situação de equilíbrio.

O campo onde será travada essa batalha decisiva tem idiossincrasias. No mapa eleitoral, a região norte do Estado é predominantemente vermelha. O sul tem as cores do PSDB. O site de VEJA esteve em duas cidades-símbolos dessa polarização. Albertina, onde Aécio Neves teve 81,6% dos votos, e Pedras de Maria da Cruz, onde Dilma venceu com 85,4%. Conclusão: a petista é reverenciada por seus eleitores graças aos programas de inclusão social enquanto o voto no ex-governador é fruto da aprovação dele como gestor – e da rejeição ao PT.

Território azul – Albertina fica na divisa com São Paulo e tem pouco mais de 3.000 habitantes. A produção de café, especialmente nos morros que rodeiam a cidade, é a principal atividade econômica local. Opções de lazer praticamente inexistem – a exceção é o lago artificial em cujas margens muitos moradores se reúnem nos fins de semana.

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A vantagem de Aécio Neves na cidade se deve, pelo menos em parte, a uma obra concreta entregue pelo governo tucano em Minas: o asfaltamento da estrada de 15 quilômetros que leva à vizinha Jacutinga (MG). A pista é essencial porque uma grande parcela dos moradores de Albertina trabalha ou estuda na cidade vizinha. A pavimentação foi concluída já na gestão de Antonio Anastasia (PSDB), eleito senador neste ano, e consolidou a popularidade do grupo político do PSDB na cidade.

Mas esse não é o único motivo. Albertina tem um histórico de votações favoráveis ao PSDB nos planos nacional e estadual. Em 1994 e 1998, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso também teve mais de 80% dos votos contra Luiz Inácio Lula da Silva. Na cidade, o PT não tem palanque. Os nove vereadores apoiam Aécio e pertencem a poucos partidos pouco identificados com a esquerda: PP, PRTB, PTB, PTN e PSD. Assim como o prefeito Rovilson Ferreira, do PTB, que faz campanha para o tucano. Albertina é a típica cidade onde o PT ainda não conseguiu ganhar força. Em 2012, o diretório municipal do partido se aliou ao DEM e ao PSDB para apoiar o candidato PP à prefeitura, que acabou derrotado.

Há poucos indecisos nas ruas de Albertina: “Tenho mais confiança no Aécio e e as propostas dele são bem melhores. Lula e Dilma não fizeram nada”, diz a farmacêutica Cristiane Mascarelo. O aposentado Benedito Celestino também apoia o tucano: “O Aécio tem postura de estadista, passa confiança. E a Dilma, antes de ajudar Cuba ou outro país, primeiro tinha que se preocupar com o Brasil”.

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Território vermelho – Mais de mil quilômetros ao norte de Albertina, a cidade de Pedras de Maria da Cruz surge como uma clareira às margens do São Francisco. Apesar de ser banhada pelo rio, a cidade está no semiárido e tem clima e vegetação semelhante aos do sertão nordestino. A economia é movida pela atividade de pequenas áreas de plantio e criação de gado. A pesca nas águas do São Francisco também garante alimento e uma fonte mínima de renda a muitos habitantes.

Rua sem pavimentação em Pedras de Maria da Cruz, onde Dilma Rousseff teve mais de 85% dos votos no primeiro turno.
Rua sem pavimentação em Pedras de Maria da Cruz, onde Dilma Rousseff teve mais de 85% dos votos no primeiro turno. (VEJA)

Entre os eleitores de Dilma ouvidos pelo site de VEJA na cidade, uma frase era recorrente: “Pelo menos ela a gente conhece”. Apesar de Aécio Neves ter governado Minas Gerais, o eleitorado se sente mais seguro com a permanência do governo atual. Josias da Silva, por exemplo, comprou sua primeira motocicleta há uma semana. Recebendo salário mínimo, ele conseguiu pagar à vista a maior parte dos 5.500 reais necessários para adquirir o produto. E atribui melhoria de vida que teve nos últimos anos ao governo do PT.

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Josias é beneficiado pelos 190 reais mensais que ele e a esposa recebem de Bolsa Família. A situação é comum na cidade: formal ou informalmente, a maior parte da população trabalha mas permanece recebendo o benefício federal. O aposentado diz que não gosta de Aécio: ”O que o Aécio vai fazer é tirar dos pobres e por para os ricos. Ele vai tirar o Bolsa Família”. A dona de casa Vanusa Lopes, também beneficiária do programa federal de transferência de renda, diz que a presidente tem feito um bom trabalho: “A maioria da nossa população é carente. Pelo que a gente vê no jornal, dizem que o PSDB apoia mais as pessoas que têm mais condições”.

“É um cálculo racional e político e ele deve ser considerado legítimo. O eleitor pensa a partir de sua própria condição de vida”, avalia o professor Robson Sávio, cientista político da PUC mineira.

Explicação – Os números da eleição em Pedras de Maria da Cruz podem dar a impressão de que a cidade é historicamente simpática ao PT. Mas uma análise nos resultados das últimas eleições resolve a charada. Pedras da Cruz de Maria não é um território petista: é, isso sim, governista. Nas eleições de 1998, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso teve 77% dos votos no município. Mesmo em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva venceu de Norte a Sul do país, quem obteve mais votos na cidade foi o tucano José Serra: ele era visto como a opção mais segura para manter os avanços do governo Fernando Henrique Cardoso.

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O discurso de guerra de classes fomentado pelo PT continua funcionando. Por isso, as diferentes votações de Aécio e Dilma em Minas Gerais tem pouco a ver com a geografia. “A divisão é muito mais socioeconômica do que geográfica. Nos estados do Sul ou do Sudeste, Dilma está mais bem votada entre os de menor faixa salarial”, diz o cientista político Carlos Ranulfo, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os números comprovam a tese. Dos dez municípios mineiros com maior Índice de Desenvolvimento Humano, oito deram vitória a Aécio Neves. Entres dez menores índices, nove optaram por Dilma Roussseff.

Na cidade de Albertina, apenas 9% da população recebem o Bolsa Família e 3% estão abaixo da linha da pobreza. Já em Pedras de Maria da Cruz, um terço dos moradores são considerados pobres e mais de 60% recebem o Bolsa Família. Isso reforça a tese de que Aécio tem um desempenho superior nas cidades com menos dependência de programas federais. A comerciária Fabíola Parmezani, moradora de Albertina, explica: “A cidade não tem nem muitos ricos nem muitos pobres. E, quando alguém necessita, sempre tem quem ajuda com alimento, roupa. As pessoas dependem menos do bendito Bolsa Família”.

O vencedor das eleições deste domingo precisará de um bom desempenho em Minas Gerais. Seja qual for o candidato eleito para a Presidência, já é possível saber quem terá a maioria dos votos em Albertina em Pedras de Maria da Cruz. Por isso, a cidade mineira que mais representa a polarização do segundo turno é outra: Inhaúma, onde os dois empataram na primeira etapa da votação. Dilma e Aécio tiveram, cada um, 1.571 votos. Não por acaso, o município fica no centro do Estado, no meio do caminho entre as fortalezas eleitorais de Dilma e Aécio.

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