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Milicianos atacavam casas e comércio para vender segurança clandestina na zona norte do Rio

Bando preso nesta quinta-feira participação de oito policiais militares. Quadrilha explorava serviços e venda de gás e é suspeita de homicídios e ameaças

Por Rafael Lemos, do Rio de Janeiro
23 set 2010, 18h56

Investigações partiram de denúncias dos próprios moradores, que, cansados da tirania dos milicianos, pediram socorro à polícia

Para vender seus serviços de segurança, milicianos que atuavam na zona norte promoviam assaltos a residências e ataques a estabelecimentos comerciais. A quadrilha presa nesta quinta-feira, na Operação Todos os Santos, tinha, entre os 15 integrantes presos, oito policiais militares – um deles apontado pelos investigadores como chefe do bando. Para o chefe da Polícia Civil do Rio, Allan Turnowski, a descoberta do modo de atuação dos bandidos mostra que a milícia é tão ou mais nociva que os traficantes. “Os dois cometem homicídio. Os dois fazem toque de recolher. Os dois constrangem moradores. Matam às vezes só porque querem a namorada de alguém. Não há diferença: bandido é bandido”, afirmou, na apresentação dos acusados.

Entre os presos, estão o PM Wellington Alves, conhecido como Nan, e Marcos de Faria Pereira, o Marcos Cabeça, apontados como os chefes do bando que atuava em favelas do Complexo de Água Santa, na Zona Oeste da cidade. Os outros sete PMs detidos na ação coordenada pela de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) são: Fabio Henrique Moura Paraíso, Fabio Zanini de Oliveira, Marcos Gileno Alves Pereira, Renato Moura dos Santos, Ronaldo Ribeiro Fernandes, Sérgio da Rocha Neves e Luis Eduardo Oliveira Teixeira.

As investigações partiram de denúncias dos próprios moradores, que, cansados da tirania dos milicianos, pediram socorro à polícia. A iniciativa da população local foi considerada um avanço, já que muitas vezes esses grupos paramilitares eram vistos como saída para a opressão promovida pelo tráfico. “Eles ofereciam segurança aos moradores e faziam assaltos a residências e ao comércio para justificar a necessidade de pagarem por esse serviço”, explicou o delegado Cláudio Ferraz, titular da Draco.

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A polícia também estourou uma central clandestina de TV a cabo, que funcionava na região. Também foram apreendidos pelo menos três fuzis, uma espingarda, uma submetralhadora, quatro pistolas, farta munição, binóculos, carregadores, uma granada e celulares. Os supostos milicianos, classificados pela polícia como uma “organização criminosa extremamente violenta”, são suspeitos de praticarem crimes como homicídios, tortura, extorsão, ameaças e crimes sexuais. Estima-se que cerca de uma centena das 500 favelas cariocas sejam controladas por milícias.

O grupo preso nesta quinta-feira controlava até a distribuição de água em uma das favelas da região, o Morro do 18. Um morador montou um sistema de encanamento para recolher a água de uma nascente e cobrava uma taxa de manutenção para que outros pudessem usufruir. “Este senhor foi eliminado pelo grupo, que passou a cobrar pela água”, afirmou Ferraz.

Envolvimento com políticos – A força das milícias transcende o ambiente das favelas, historicamente relegado pelo poder público. Os tentáculos dessas organizações abraçaram a política e penetraram na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj). Um dos expoentes dessa infiltração do crime organizado é o ex-deputado estadual Natalino Guimarães (ex-DEM), preso em 2008 acusado de comandar a milícia Liga da Justiça, na Zona Oeste, com o irmão, o ex-vereador Jerominho Guimarães (PMDB).

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Na semana passada, outro ex-deputado miliciano foi condenado. Jorge Babu (PTN) pegou sete anos de reclusão por formação de quadrilha e foi demitido da Polícia Civil.

Os milicianos tomaram o Complexo de Água Santa em 2007, até então dominado por traficantes. De acordo com a polícia, na ocasião eles contaram com o apoio do grupo miliciano Liga da Justiça e do ex-PM Fabrício Fernandes Mirra. Nesses três anos, já houve diversas trocas de comando. Estima-se que 30 pessoas tenham morrido durante a tomada. Os corpos estariam em um cemitério clandestino ainda não identificado.

A operação desta quinta-feira contou com cerca de 150 policiais civis, divididos em 45 equipes, que tinham a missão de cumprir 40 mandados de prisão – sendo 13 contra PMS -, além de 66 mandados de busca e apreensão, dos quais 27 tinham como destino a casa de PMs. Assim como o tráfico de drogas, os milicianos são organizações que controlam localidades pobres e lá exercem um poder paralelo ao Estado. Formados, principalmente, por policiais, ex-policiais e bombeiros, esses grupos faturam com o transporte alternativo e a cobrança de taxas de comerciantes da área e moradores, além de oferecerem serviços piratas de Internet e televisão a cabo.

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