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Mendes Ribeiro: “Ser bonzinho é fácil. O difícil é ser justo”

Após pressão de parlamentares por emendas, líder do governo sai em defesa de Dilma. Mas admite que fala pouco com a presidente - que anda 'ocupada'

Por Luciana Marques
18 jul 2011, 16h39

Menos de duas semanas depois de ser escolhido líder do governo no Congresso Nacional, o deputado federal Mendes Ribeiro (PMDB-RS) teve que passar por seu primeiro teste de fogo: a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2012. O texto foi aprovado em tempo recorde: às 15 horas de quarta-feira. Isso porque Mendes Ribeiro conseguiu acordo para votação do texto, ainda que alguns itens aprovados não retratem a posição do Planalto.

O peemedebista usou a seguinte tática: acolheu a maioria dos pontos questionados pela oposição, mas anunciou na tribuna que a presidente Dilma irá vetar alguns deles. Assim, tentou não desagradar nenhum dos lados. “Estou desconfiado, ele está aceitando tudo!”, disse um tucano durante as negociações. Os oposicionistas ameaçavam obstruir a votação do texto e, em consequência, o recesso parlamentar seria suspenso.

“Sou amigo da oposição”, disse Mendes Ribeiro em entrevista ao site de VEJA. Ele exerce o quinto mandato consecutivo na Câmara dos Deputados e se orgulha ao dizer que tem bom trânsito com todos os partidos da Casa. “Até rouco estou”, afirmou, insinuando que perdeu a voz depois de longas conversas com os deputados nos últimos dias.

O líder reconhece que terá se desdobrar para agradar seu partido e o Planalto. Ele diz que a presidente Dilma não está distante dos parlamentares, mas admite que não tem conversado com ela diretamente porque está muito “ocupada”. Mendes afirma ainda que o casamento entre PT e PMDB precisa de adaptações.

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O Planalto está muito distante do Congresso, como reclamam parlamentares da base? Não vejo o Planalto separado, fechado. Existe uma imagem que muitas vezes algumas pessoas tentam passar. Durante seis meses a base votou todas as matérias e não se falou em emenda parlamentar. Falou-se em buscar instrumentos que terminassem de uma vez por todas com isso, mas não em pagamento de emendas. Não foi liberado absolutamente nada até agora. Mas ninguém pode julgar o governo quando só o governo passa por situações que as pessoas desconhecem. Quem tem que decidir está lá e ninguém decide de acordo com o que não é bom. Ser bonzinho é fácil, o difícil é ser justo.

O senhor tem conversado com a presidente Dilma? Conheço a presidente Dilma há muito tempo, é uma pessoa de espírito público notável, uma gerente extraordinariamente competente. Alguém com uma vontade de dar inveja. Ela começa a mostrar seu perfil no governo, acho que será uma grande presidente. Mas está muito ocupada.

Como será sua atuação como líder do governo? Depende do governo. Alguns entendem que o líder do governo no Congresso deve apenas se reportar quando o Congresso se reúne, ou seja, para votação do orçamento, como a LDO. Outros entendem que é necessário se dirigir a tudo aquilo que faz parte do Congresso: Medidas Provisórias, vetos. Outros acreditam que deve ficar como um grande articulador, sem a função específica de plenário. Não importa o tamanho do que a presidente me serve, tenho muito orgulho de ser líder da presidente da forma que ela entende que ela deva ser. Vou trabalhar sempre para desarmar espíritos, aproximar ideias, buscar soluções.

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Como anda o casamento entre PT e PMDB? O governo está se encontrando, começando. Criar uma relação entre PT e PMDB demora. Você pode ter um entusiasmo que impressiona, mas depois começa a conviver com o casamento. Você quer ver um canal de televisão e seu companheiro quer ver outro, começam as discussões e o casal começa a se adaptar. PT e PMDB estão se adaptando no governo. Isso é natural, tudo acontece dentro de um tempo. O PMDB é governo e eu estou agindo como se governo fosse.

Como o senhor avalia a atuação do vice-presidente, Michel Temer, no governo? Ele sempre será um articulador político, mesmo se não quiser. Muitas demandas são levadas para ele, as pessoas querem chegar ao Michel Temer. No Rio Grande do Sul, por exemplo, eu preciso fazer um apelo: por favor, poupem o Michel.

Como o senhor fará para conciliar as posições partidárias com as do Planalto? Uma coisa é a posição de governo, de estado. Outra coisa é a posição pessoal ou de partido. Salário mínimo é uma posição de estado, por exemplo. Não cabe ao Mendes Ribeiro opinar. Já o Código Florestal é posição de partido. A emenda do PMDB era o que nós tínhamos para dar tranquilidade ao setor. O importante é que a gente converse. Vou ficar rouco como estou hoje de tanto conversar. Se estou rouco, é sinal de que falei muito, buscando o entendimento. E consegui, aprovei por unanimidade a LDO.

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O senhor ficou satisfeito com a votação da LDO? A votação foi a possível diante do pouco tempo que tínhamos. A oposição tinha algumas reivindicações que foram atendidas, a base teve outras que também foram atendidas. E o mais importante: foi aprovada por unanimidade e sem destaques. Não vejo o texto da LDO como definitivo no que diz respeito às emendas parlamentares, não vejo que ali está a solução que o Parlamento deseja. O governo quer acertar o valor que realmente possa ser pago. O orçamento tem que deixar de ser peça de ficção e cada vez mais deve ficar próximo da realidade.

O governo perdeu na votação da LDO? O governo ganha sempre no momento em que os espíritos estão desarmados e as questões estão sendo discutidas abertamente. A oposição faz o discurso e a base governa. O que não pode é a base querer fazer discurso e a oposição governar. O governo vai vetar o déficit primário, que, inclusive, é contraditório com o próprio texto. Estamos vivendo um momento de crise, o governo tem que ter todos os instrumentos disponíveis para agir quando for necessário.

O senhor manteve conversas com a Presidência sobre o tema? Foi minha primeira negociação como líder do governo e tive diversas conversas com o Planalto. Conversei muitas vezes com a ministra do Planejamento, Míriam Belchior, e com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. O diálogo é sempre ponto de partida para qualquer entendimento. Recebia a missão de votar a LDO em cinco dias, o que não foi fácil.

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Qual a sua relação com a oposição? Converso muito com os parlamentares, é minha forma de trabalhar. Sempre fui muito bem acolhido, vou completar vinte anos na Casa. Tenho relação ótima com todos da oposição.

Quais assuntos devem dominar o debate no segundo semestre no Congresso Nacional? No semestre que vem temos uma pauta extremamente rica no que diz respeito aos municípios. Poderia citar: royalties, dívida do INSS para os municípios, novo percentual do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), Emenda 29. Quem sabe aí entram as emendas parlamentares, que são recursos para o município. É um dinheiro que os deputados buscam no orçamento para as coisas acontecerem lá na ponta.

O senhor é a favor da Emenda 29, que fixa orçamento para a saúde? Defendo a Emenda 29, mas a incluo na grande pauta municipal. O que não pode é o município pagar tudo sozinho. Não necessariamente o governo será contra a proposta. Não existe posição contrária, nem a favor, mas precisamos de recursos.

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A reforma política será votada a tempo de valer para as eleições de 2012? Estou apelando para todos os líderes que não façamos reforma política para 2012. Os municípios não merecem que, em cima de uma eleição, haja reforma. Os municípios mereciam reforma tributária, isso sim, receber mais dinheiro para a multiplicação dos pães. Muitos municípios vivem uma situação caótica.

PT e PMDB estudam mixar as propostas do distritão e da lista fechada. Eu sou a favor do distritão e sou contra a lista fechada. Mas se o PMDB achar que o acordo é a melhor solução, tudo bem. O importante é que nós tenhamos clareza de que o povo vai compreender, isso é fundamental.

O Henrique Eduardo Alves é o candidato do PMDB para a Presidência da Câmara dos Deputados no próximo biênio? O Henrique tem um reconhecimento muito grande da Casa, é o candidato natural.

E se o PT decidir lançar candidato, rompendo o acordo que fez com o PMDB? Intrigas não são bem-vindas. Boatos muito menos. As coisas estão difíceis e ainda sendo adaptadas no relacionamento, não pode haver crise de ciúme.

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