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Meire Poza, o chantagista e a mala de dinheiro

Em depoimento à CPI da Petrobras, a contadora da quadrilha do doleiro Alberto Youssef confirmou que o PT pagou com dólares o mensaleiro Enivaldo Quadrado, e que o esquema de seu patrão movimentava grandes quantias de dinheiro – inclusive em malas

Por Robson Bonin e Adriano Ceolin
8 out 2014, 22h55

Meire Poza, a ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, revelou nesta quarta-feira à CPI da Petrobras que foi três vezes, em maio, junho e julho deste ano, pegar dinheiro com um militante do PT a pedido de Enivaldo Quadrado, um dos condenados no escândalo do mensalão. Em duas ocasiões, recebeu um pacote de reais. Em outra, dólares.

No mês passado, VEJA revelou que o mensaleiro Enivaldo Quadrado estava chantageando o PT. Ele ameaçava revelar que, em 2004, o partido comprara por 6 milhões de reais o silêncio do empresário Ronan Maria Pinto, que – em outra chantagem – ameaçava envolver o ex-presidente Lula, o ministro Gilberto Carvalho e o ex-ministro José Dirceu no assassinato do prefeito Celso Daniel, de Santa André.

O que assustava os petistas era a possibilidade de Enivaldo desvendar para a Polícia Federal todo o significado de um documento apreendido no escritório do doleiro – um contrato mostrando que os tais 6 milhões de reais exigidos em troca do silêncio foram efetivamente transferidos para Ronan Maria Pinto em 2004.

Meire Poza contou que foi três vezes à casa do jornalista Breno Altman, militante do PT e amigo do também mensaleiro José Dirceu, buscar “parcelas” equivalentes a 15.000 reais mensais. O dinheiro, de acordo com o depoimento prestado nesta quarta pela contadora, teria sido usado por Quadrado para quitar a multa imposta pela Justiça pelo seu envolvimento no escândalo do mensalão.

Dólares entregues pelo PT a Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, para que ela os encaminhasse ao mensaleiro Enivaldo Quadrado
Dólares entregues pelo PT a Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, para que ela os encaminhasse ao mensaleiro Enivaldo Quadrado (VEJA)
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A VEJA, no entanto, Meire Poza disse que Enivaldo Quadrado, seu amigo e parceiro de negócios, revelou que o contrato dos 6 milhões “era seu seguro de vida contra o PT”. Quando a polícia desencadeou a operação Lava Jato e apreendeu o documento com Alberto Youssef, ele viu a chance de ganhar um pouco mais com seu silêncio. A foto do maço de dólares (veja ao lado), dinheiro entregue por Breno Altman a Meire Poza no último encontro entre os dois, foi tirada por um dos envolvidos na transação como garantia de que o compromisso fora de fato cumprido.

O tesoureiro do PT, João Vaccari, segundo a contadora, era o encarregado de administra o silêncio de Enivaldo Quadrado.

Na primeira vez que esteve na casa de Breno Altman, Meire Poza conta que nem chegou a entrar. O envelope com dinheiro foi repassado ainda no portão. Depois, no segundo encontro, o próprio Breno recebeu a contadora na sala da casa dele para fazer o pagamento. A conversa, segundo a contadora, foi gravada. Nela, preocupado, Breno disse que seria preciso encontrar uma forma de forjar uma operação financeira para esquentar os pagamentos. A sugestão do petista foi simular a venda de um carro. Enivaldo Quadrado tem uma revenda de veículos em Assis (SP).

As chantagens assombram o PT há tempos. Em 2012, o publicitário Marcos Valério prestou um depoimento à Procuradoria da República, em que revelou que Ronan Maria Pinto chantageou a cúpula do PT. Ele queria, segundo Valério, 6 milhões de reais para não comprometer Lula, o ministro Gilberto Carvalho e José Dirceu na morte do ex-prefeito de Santo André. Valério, então operador do mensalão, contou que foi procurado pelos petistas para providenciar o dinheiro.

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O contrato apreendido com Youssef em 2014 mostra que Marcos Valério ajudou a levantar a quantia – e dá veracidade às informações prestadas por ele aos procuradores dois anos antes.

Malas – Meire Poza também falou sobre o esquema montado pelo doleiro para recolher dinheiro das empreiteiras que tinham contratos com a Petrobras e distribuir a políticos. Na entrevista a VEJA, ela deu detalhes de como funcionava a engrenagem de corrupção. Foram horas de conversas, entrevistas gravadas e mensagens trocadas, nas quais ela confirma que malas e malas de dinheiro circulavam nas mãos de Youssef.

Indagada por parlamentares sobre essa intensa movimentação de dinheiro, primeiro ela disse que não havia falado isso. Na sequência, porém, confirmou a circulação de grandes quantias e o repasse aos políticos, exatamente como estava descrito na entrevista – e em malas.

A contadora relatou um episódio em que Youssef a convidou para fazer uma entrega: “Virei para olhar e tinha uma mala no banco do carro.” Na entrevista a VEJA, a contadora calculou que havia algo entre 2 e 3 milhões de reais dentro do carro.

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A contadora disse que o doleiro guardava grandes quantidades de dinheiro em seu escritório, em São Paulo. Relatou, ainda, que aos deputados André Vargas, ex-PT, e Luiz Argôlo, SDD, receberam pagamentos do esquema. Ambos estão respondendo a processo de cassação de mandato na Câmara.

A seguir, a transcrição do trecho do depoimento de Meire Poza que fala da traficância de dinheiro em malas:

O SR. MARCO MAIA (PT – RS) – A revista Veja atribuiu a seguinte frase à senhora: “O Beto lavava o dinheiro para as empreiteiras e repassava depois aos políticos e aos partidos. Era mala de dinheiro para lá e para cá o tempo todo”. A senhora disse isso?

A SRª MEIRE BONFIM DA SILVA POZA – Não.

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O SR. MARCO MAIA (PT – RS) – Se sim, quem eram os políticos envolvidos, quais eram as empreiteiras e de onde viriam os recursos repassados?

A SRª MEIRE BONFIM DA SILVA POZA – Talvez exista um exagero de colocação na frase. Isso não foi dito. Algumas situações que vi,que presenciei foram, por exemplo, numa determinada situação… Eu sei precisar a data porque existe outro fato ligado a isso, que foi em janeiro de 2014, eu estava indo para a GFD quando o Sr. Alberto estava saindo da empresa de carro e me pediu para que o acompanhasse. Ele falou: “Eu vou só até ali”. Eu falei: “Está bom”. Entrei no carro e falei: “Até ali aonde?” Ele falou: “Vou até ali, na Avenida Angélica”. Nós estávamos no Itaim Bibi, eu falei: “Poxa”. E eu tinha outro compromisso, que é realmente o que me faz recordar disso. Aí falei: “Não, mas não posso ir lá com você. Você vai demorar?” Ele falou: “Não, só vou entregar isso aqui”. Virei para olhar e tinha uma mala no banco do carro. Falei: “O que que é isso?” Ele falou: “É um dinheiro que tenho que levar na OAS, mas é rapidinho. Só vou entrar, entregar o dinheiro e sair”. Na ocasião, não fui com ele, pedi para que ele me deixasse no Conjunto Nacional, na Rua Augusta, em São Paulo, resolvi os meus problemas, ele foi até lá, na volta ele me pegou na Rua Haddock Lobo e retornei com ele. Então, isso é fato. Eu via muita movimentação de dinheiro a partir de 2013, que é quando ele se mudou para a GFD. Antes disso, não. Então, existia movimentação de dinheiro lá dentro da GFD. Era dinheiro que chegava e era colocado no cofre, era dinheiro que saía…

Duas chantagens – e o elo entre a Lava Jato e o menslão

Em 2012, Marcos Valério, o operador do mensalão, prestou um depoimento em que revelou que o PT usou a Petrobras para levantar 6 milhões de reais para pagar a um empresário que ameaçava envolver o presidente Lula, o ministro Gilberto Carvalho e o mensaleiro José Dirceu no caso do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel. Dois anos depois, a Polícia Federal apreendeu o contrato de empréstimo que corrobora a informação.

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A CHANTAGEM DE 2014: O contrato de empréstimo foi apreendido no escritório do doleiro Alberto Youssef. Ele prova que a operação clandestina narrada por Valério de fato ocorreu. Enivaldo Quadrado ameaçava ajudar a PF a ligar esses pontos. Para evitar que isso acontecesse, o PT cedeu à sua chantagem.

A CHANTAGEM DE 2004: No depoimento prestado ao Ministério Público, Marcos Valério contou que, em 2004, foi chamado por Silvio Pereira, então dirigente do PT, para organizar uma operação clandestina: levantar dinheiro para pagar a Ronan Maria Pinto, que ameaçava o presidente da República

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