O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentou despolitizar nesta sexta-feira a violação em série do sigilo fiscal de tucanos e garantiu a permanência do secretário Otacílio Cartaxo à frente da Receita Federal. Ele lembrou que a quebra de sigilos – cerca de 140 conhecidas – não envolveu apenas pessoas ligadas ao PSDB e alegou que “não há sistema inviolável”.
O ministro, a quem a Receita é subordinada, disse que o órgão está trabalhando exaustivamente para apurar os fatos. “Eu não cogito substituir o secretário Cartaxo”, disse, em São Paulo, em entrevista coletiva concedida na sede da Caixa Econômica Federal, por ocasião da divulgação dos resultados da economia brasileira no segundo semestre.
Mantega garantiu não ter mais informações além das que já circulam na imprensa. “Ninguém está encarando essa questão com mais seriedade do que nós”, afirmou. “Até poucos dias se compravam disquetes em São Paulo com informação da Receita, e eu já dei orientações para que a Receita mude o sistema de segurança sempre que houver vazamentos”.
Investigação – As declarações de Mantega ocorrem em meio às revelações de que o comando da Receita suspeitou de fraude na violação do sigilo fiscal da filha do candidato do PSDB, José Serra, à Presidência da República. Integrantes do governo e a cúpula do Fisco, contudo, tomaram a decisão de abafar o escândalo e evitar o impacto político na campanha da candidata petista, Dilma Rousseff. Cartaxo e o governo, portanto, já sabiam que a procuração usada para violar os dados de Verônica Serra poderia ser falsa. Mesmo assim, sustentarm a versão de que havia um esquema de venda de dados da Receita.
Documentos obtidos pelo jornal O Estado de São Paulo mostram ainda que a Receita já trabalhava desde o dia 20 de agosto na investigação que apontava para uma violação político-eleitoral do sigilo fiscal de Verônica Serra e de outros quatro tucanos.
Em vez de demitir Cartaxo – decisão que foi reafirmada hoje pelo ministro Mantega -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ordenou ontem ao ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, que a Polícia Federal assuma integralmente as investigações sobre a quebra do sigilo fiscal da filha de Serra e dos tucanos. A Receita ficará apenas com o processo disciplinar do caso. Em conversas reservadas, ministros admitem que a demissão de Cartaxo colocaria mais ‘lenha na fogueira’, o que poderia beneficiar a campanha de Serra. A avaliação é compartilhada pelo comitê de Dilma, que já chama o caso de ‘golpe eleitoral’.
(com Agência Estado)