Manobra governista blinda Palocci na Câmara

Presidente da Comissão de Fiscalização Financeira cancela reunião sem necessidade e adia votação de requerimento para a convocação de ministro

Por Gabriel Castro e Luciana Marques
18 Maio 2011, 11h14

Uma manobra explícita da base governista impediu a votação de um requerimento pedindo a convocação do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, para prestar esclarecimentos sobre o crescimento de seu patrimônio. A oposição já havia anunciado que iria apresentar o requerimento na sessão desta quarta-feira da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. Para evitar a exposição, o presidente da comissão, Sérgio Britto (PSC-BA), simplesmente cancelou o encontro, que estava marcado para as 9h30.

O argumento: como também havia uma sessão do plenário agendada para a manhã desta quarta, a comissão não poderia se funcionar. A explicação não se sustenta. O regimento da casa veta apenas que as comissões deliberem enquanto a ordem do dia está em andamento. Em situações como a desta quarta-feira, as comissões iniciam os trabalhos e seguem em reunião até que a ordem do dia se inicie – o que geralmente acontece com grande atraso.

Nesta terça-feira, a presidente em exercício da casa, Rose de Freitas (PMDB-ES), convocou uma sessão extraordinária para as 9 horas desta quarta, o que permitiu a manobra dos aliados para blindar Palocci. Em pauta, está o requerimento da oposição que pede a votação imediata do Código Florestal.

Outras comissões também foram canceladas em cadeia, como a de Finanças e Tributação e a de Constituição e Justiça. Militantes e parlamentares do PSDB tentaram colar cartazes no corredor das comissões. As mensagens dizem “Blindagem ao Palocci”. Alguns cartazes foram arrancados pela segurança da Câmara.

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Diante da manobra, a oposição correu para a Comissão de Agricultura e conseguiu quórum para abertura dos trabalhos. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) apresentou, então, um requerimento para convocação de Palocci. No entanto, a comissão foi suspensa novamente pelos governistas e houve muito bate-boca. Dois cartazes com a expressão “Blindagem ao Palocci” foram fixadas na parede que fica atrás da mesa principal da sala.

“Estão impedindo que o todo-poderoso venha aqui prestar esclarescimento por causa de seu enriquecimento fabuloso. O que ele tem a esconder? Por que nao pode mostrar ao Brasil as empresas que contrataram sua consultoria quando era deputado federal? O governo quer colocar mordaça na oposição”, criticou o líder do DEM na Câmara, deputado ACM Neto (BA). Ele apresentará ainda hoje um requerimento no Plenário da Casa para convocação do ministro da Casa Civil.

Denúncia – O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, multiplicou por 20 o patrimônio nos quatro anos em que esteve como deputado federal, antes de assumir o atual posto. O jornal Folha de S. Paulo revelou que Palocci declarou um patrimônio de 375 mil reais em 2006, e hoje acumula um patrimônio de mais de 7 milhões de reais.