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Decretada prisão de traficantes que executaram guarda com 300 tiros

William Mendes de Oliveira foi morto após os criminosos descobrirem que ele era informante do Bope. Vítima filmou traficantes fantasiados de heróis na Maré

Por Leslie Leitão Atualizado em 10 dez 2018, 10h24 - Publicado em 11 dez 2014, 06h48

Eram 8h32 da manhã do Dia das Crianças de 2013 quando o guarda municipal William Mendes de Oliveira, de 37 anos, flagrou um desfile de super-heróis pelas ruas do Complexo da Maré. Informante do Exército e do Batalhão de Operações Especiais (Bope), ele filmou, com uma microcâmera, uma prática comumente utilizada por bandidos: o assistencialismo. Para angariar a simpatia dos moradores das favelas que dominam e na base do terror, traficantes usam datas festivas para fazer um agrado a quem vive oprimido. Naquele 12 de outubro, em cima da caçamba de uma picape preta, criminosos sanguinários trajavam roupas de personagens que habitam o imaginário das crianças como Batman, Hulk, Homem de Ferro, Capitão América e até o Ursinho Pooh. Uma semana mais tarde, William foi capturado por Marcelo Santos das Dores, o Menor P, chefe do tráfico da maioria das favelas da região. Na frente da família ele foi torturado, espancado e teve seu corpo destruído por tiros de fuzil. O caso foi revelado por VEJA na véspera da entrada das Forças Armadas para ocupação do território, em abril. Esta semana, a Justiça decretou a prisão de dez homens que, de acordo com as investigações da 21ª DP (Bonsucesso), participaram da sessão de barbárie.

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Os relatos dos momentos finais da vida de William são assustadores. Para começar, a família e a própria polícia estão convictas de que o guarda municipal foi traído. Um policial militar teria recebido 50.000 reais para dizer quem era o homem que abastecia o Bope e o Exército com as imagens. Pouco depois das 20h do dia 19 de outubro, ele acabou capturado pelos criminosos. Levado para uma obra, começou a ser torturado. Um irmão, a irmã e a mãe foram levados até o local onde acontecia o julgamento do ‘Tribunal do Tráfico’. Lá, o viram confessar: “Eu sou X-9 (alcaguete), mãe, me perdoa”. Em seguida, os criminosos retiraram a mãe e a irmã com a promessa de que ele ficaria vivo e seria apenas expulso da favela. Era mentira. Logo depois, Menor P chegou ao local escoltado por dois seguranças. Com um relógio em mãos (que fora usado para filmar), levantou as mãos para o céu e gritou: “Obrigado, meu Deus”. Alguns minutos depois recebeu a informação de que parentes do guarda municipal estavam se reunindo para um protesto numa das ruas da Maré. E avisou a um dos irmãos de William: “Se criarem tumulto vou matar a primeira, a segunda, a terceira e a quarta gerações da sua família”.

Vídeo: traficantes desfilam fantasiados de personagens infantis

https://www.youtube.com/watch?v=J7HnjojmfqA

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Exatamente às 21h24, Menor P, também conhecido como Astronauta, entrou na obra novamente, pegou um fuzil AK-47 (o mesmo modelo que ficou famoso nas mãos do terrorista Osama Bin Laden) e começou a atirar. Uma das testemunhas do processo relatou que o criminoso ‘gritava como o Rambo’ enquanto atirava. Em seguida, outros criminosos também fizeram disparos: a polícia acredita que foram mais de 300 tiros. Os restos mortais de William foram carregados num carrinho de obra e incendiado à beira do Canal do Cunha.

William dava aulas de educação física na favela e gostava de incentivar jovens a praticar esportes. Segundo um parente que prestou depoimento, ele estava chateado em virtude de o tráfico ter acabado com uma pista de corridas que existia dentro da Vila dos Pinheiros, que integra o Complexo da Maré. Horas antes de ser capturado, ele chegou a ser avisado que os bandidos procuravam o homem que presenteara Menor P com uma camisa de futebol. Era ele. Mas William decidiu não ir embora. Enviou um email para um policial do Bope e informou que já havia comunicado a um integrante do Setor de Inteligência do Comando Militar do Leste (CML) sobre a possibilidade de ter sido descoberto.

Responsáveis – A investigação concluída pelo delegado Delmir Gouveia mostra que, dos dez criminosos identificados, cinco estão presos: o próprio Menor P (capturado pela Polícia Federal num apartamento em Jacarepaguá), seu irmão Fabiano Santos de Jesus, o Zangado, além de Marcos Vinícius Mesquita Pereira, o Monfai, Cilmar Sales Leite, o Relâmpago e André França Gama, o Descaído. Outros cinco continuam foragidos. São eles Valdinei Sabino dos Santos, o Dinho, Bruno Gonçalves da Silva, o Soldado, Ronaldo do Nascimento Lopes, o Boquinha, Rodrigo do Nascimento Oliveira, o Tiazinha e Thiago da Silva Folly, o TH. Este último é apontado pela Polícia Civil como o novo gerente geral do tráfico nas favelas da Maré dominadas pela facção Terceiro Comando Puro (TCP).

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Nas duas últimas semanas, a quadrilha mostrou sua ousadia mesmo com a região ocupada por 3.000 homens das Forças Armadas. No dia 28 de novembro, um tiroteio resultou na morte do soldado Michel Mikami, de 21 anos. No último sábado, os criminosos atacaram na principal via de acesso à cidade do Rio de Janeiro. Na Linha Vermelha, fecharam o trânsito e, armados com fuzis e pistolas, atacaram um ônibus lotado de turistas que haviam desembarcado no Aeroporto Internacional Tom Jobim. Pelo menos 24 médicos italianos que vieram para um congresso internacional foram assaltados. Três deles chegaram a reagir e foram agredidos. O caso está sendo investigado pela Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat).

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