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O milagre da transformação de Guaratiba

Bairro de 110.000 moradores na Zona Oeste do Rio passou a receber atenção a partir do anúncio da visita do papa. População, no entanto, ainda tem noção do tamanho do evento, que deve levar 1,5 milhão de pessoas à região

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 Maio 2013, 07h25

Quem não acredita que a fé move montanhas precisa conhecer Guaratiba. Esquecido pelo poder público até o ano passado, o bairro a 60 quilômetros do Rio, separado do resto da cidade pela Serra da Grota Funda, é atualmente um vai-e-vem de operários e caminhões digno de véspera de eleição. Sem querer, o argentino Jorge Mario Bergoglio, agora papa Francisco, ajudou a mudar a vida de outros dois “Jorges”. Próximo à área escolhida para receber o Campus Fidei, local da vigília e da missa que vai encerrar a Jornada Mundial da Juventude, em 27 e 28 de julho, moram Jorge Machado, 67 anos, e o filho de mesmo nome, de 44. Depois de mais de um ano pedindo à prefeitura o asfaltamento da Estrada Capoeira Grande, os dois finalmente viram a cor do asfalto. “Você é a única pessoa que mora nessa rua?”, ouviu o filho, em uma das negativas para a pavimentação da via por onde passará boa parte do público estimado em 1,5 milhão de pessoas que assistirão à última missa da JMJ.

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O pai e o filho, agora ajudados pelo Espírito Santo, assistiam, na última terça-feira, ao milagre da transformação do matagal em terra batida, nos 3,5 milhões de metros quadrados das fazendas escolhidas para receber a vigília comandada pelo papa. “Eu vou estar aqui, né. Vou ter que ver”, diz, nada fervoroso, Jorge pai, que é evangélico. A região tem duas dezenas de templos pentecostais, e só duas igrejas católicas. Jorge filho lamenta não ter sabido com antecedência da visita do papa. Assim, conta, teria tentado alugar o terreno da família durante a JMJ. “Se a gente soubesse disso antes, teria uma estrutura para alugar. Mas agora não tem como”, diz Jorge filho, na silenciosa oficina que, assim como quase tudo em Guaratiba, parece em câmera lenta.

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Se a Igreja católica e o governo têm dificuldade de mensurar o tamanho da Jornada Mundial da Juventude, a pequena Guaratiba não tem nem noção do que está por vir. O bairro, apesar de ser o décimo em população da cidade do Rio de Janeiro, com 110.000 moradores, ainda guarda características interioranas, e certamente nunca assistiu a uma invasão como a que se anuncia para daqui a dois meses. Trocando em miúdos, a “ficha não caiu”.

Na terça-feira desta semana, no Bar do Povo, numa das principais vias de Guaratiba, a Estrada da Matriz, conversavam sobre a movimentação para a Jornada. Mas a julgar pelo dono do estabelecimento, a expectativa, por enquanto, não é das mais altas. “Não sei o que pode acontecer. Aqui é um lugar tão pacato”, diz Fernando Pereira, 56 anos, cético em relação à propalada invasão de católicos e desconfiado de que, apesar do anúncio de tanta gente, não vá vender mais do que o normal. “Talvez compre um pouco mais de água e refrigerante”, cogita.

A poucos metros dali, em uma lan house (que também vende bebidas e salgados), o dono sequer sabe a data correta da Jornada. Marcos Moura, 25 anos, que comanda a casa, também não é exatamente um exemplo de ‘fé no comércio’. “Posso colocar umas cadeiras do lado de fora e um aviso de que aqui tem internet, mas só isso”, afirma Marcos Moura, de 25 anos, que fatura com um problema de Guaratiba. “Aqui no bairro o acesso à internet é muito ruim”, explica Marcos. Uma hora de uso dos computadores com acesso à rede custa um real e cinquenta centavos.

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Os problemas de Guaratiba não passam apenas pela dificuldade de acessar a web. De outubro de 2012 a abril deste ano, a falta d’água foi recorrente. E, em janeiro, moradores de algumas áreas caminharam com água pelos joelhos em um dos temporais típicos do verão. Pelas ruas, vazamentos dificultam a passagem dos pedestres. As calçadas são raras e o asfalto existe apenas no entorno das duas fazendas que receberão o papa. A movimentação de funcionários e operários se dá exatamente nos caminhos por onde passará a multidão que quer ver o papa, uma prova inequívoca de que Guaratiba só entrou para o mapa graças ao argentino Jorge Mario Bergoglio.

As obras são, invariavelmente, de maquiagem. E o trabalho será longo. “Aqui é meio roça”, afirma Rui Cabo, de 50 anos, um dos frequentadores do Bar do Povo. Em Guaratiba, as placas da prefeitura por todos os lados ainda se misturam às de “animais na pista”. Chegar ao bairro não é das tarefas mais fáceis em dias normais, o que aumenta a preocupação da prefeitura para o transporte dos peregrinos pelos cerca de 60 quilômetros até a área da vigília – com os últimos 13 quilômetros percorridos a pé.

Francisco Suisso, de 71 anos, mora na Barra da Tijuca e viaja diariamente ao seu sítio em Guaratiba, que fica exatamente em frente ao terreno onde o papa rezará a missa final. Ver o primeiro papa argentino, no entanto, não está nos planos de Suisso. “Falei com o pessoal da obra. Disseram que eu não teria como me movimentar aqui”, afirma. A campanha da Arquidiocese do Rio, e da Igreja Católica para todas as jornadas, reforça pedidos para que os moradores das cidades escolhidas acolham os peregrinos. Mas, para Suisso, a visita do argentino não é para fazer caridade. No momento, ele está à procura de quem queira alugar o terreno durante a passagem do papa pelo Brasil. O proprietário vai pintar a casa para atrair turistas e, no fim do mês, colocará o aviso do aluguel na internet.

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