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Psiquiatra defende Internação forçada para viciados em crack

Segundo especialista, usuário perde a noção sobre o que é bom para si mesmo

Por Carolina Freitas
25 abr 2011, 19h43

Um avô conseguiu na Justiça o direito de internar a neta viciada em crack, mesmo contra a vontade da jovem. No entendimento do juiz Ricardo Coimbra Barcellos, da 13ª Vara da Fazenda Pública do Rio, a mulher estaria com a liberdade restrita por conta da droga, o que permitiria à família decidir por ela. Novidade nos tribunais, a decisão pela internação forçada é comum nas clínicas especializadas. E, nos casos graves, a única porta de saída da dependência. “Quando o sujeito está numa repetição de uso de uma substância de ação curta e intensa como o crack, ele tem pouca chance de fazer escolhas em prol da saúde”, explica o psiquiatra Carlos Salgado, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead). “Ele passa dias numa roda viva em busca de droga. A capacidade de julgar atos como assaltar ou machucar alguém fica quase nula.” A droga compromete o discernimento mesmo nos intervalos entre as jornadas de consumo da substância. Por isso, fica ainda mais difícil que o usuário procure ajuda por si próprio. “Nos intervalos, o indivíduo está extenuado, deprimido. Logo em seguida já começa a sentir falta da droga. Ele segue com a vida voltada para o uso da substância. O juízo crítico fica alterado às vezes por meses, mesmo com a interrupção do consumo”, diz Salgado. Estudos mostram um resultado muito semelhante para tratamentos iniciados voluntaria e involuntariamente. O paciente que vai à clínica por vontade própria começa alguns passos adiante, pela motivação em se tratar, mas está tão sujeito a recaídas quanto os demais. Com um agravante: quando o ingresso é voluntário, o paciente pode interromper o tratamento quando quiser. Para conter as desistências, as clínicas costumam solicitar que um familiar do dependente também assine o pedido de internação, dividindo a responsabilidade com o paciente. “A vontade do dependente de ficar internado flutua ao longo do tratamento. Em função do desejo pela droga, na fissura, ele pode pedir sua alta”, diz o psiquiatra. O combate à dependência de crack costuma exigir sucessivas internações involuntárias até que o usuário consiga controlar a fissura pela droga e aderir ao tratamento. “Para interromper o ciclo do vício, a família ou o estado podem contribuir com a proteção inicial do indivíduo. A partir de uma internação o sujeito, desintoxicado, tem a chance de ser motivado para a mudança”, explica Salgado. Por que internar – A internação é recomendada em casos graves e depende da avaliação da família e do médico. Faltam no país leitos especializados para o tratamento para dependentes químicos. “Só são internados casos de prioridade máxima”, diz Carlos Salgado. “Há uma grande demanda e uma grande escassez de leitos.” A primeira providência após a internação é ensinar o paciente a lidar com a compulsão pela droga. Algumas vezes são necessários sedativos, para ajudar o usuário a lidar com a fissura, que pode trazer agressividade e até a fuga da clínica. “Ele precisa aprender a reconhecer a fissura e entender que ela dá e passa. Se o paciente não usar droga ela vai ficando mais suave”, explica o psiquiatra. O paciente passa também por uma avaliação de seu quadro geral de saúde. O usuário de crack costuma estar desnutrido e exposto a doenças sexualmente transmissíveis. Segue-se uma análise do quadro psiquiátrico, para verificar se ele sofre de outras doenças, como depressão ou transtornos de comportamento. O psiquiatra Carlos Salgado compara a atitude do avô que foi à Justiça para internar a neta com a de um neto que vê seu avô definhando na cama e se negando a procurar tratamento médico. “É só imaginar um avô nosso, desnutrido, deprimido, recusando aceitar sua condição. O que a gente faz? Junta da cama e leva para o médico. Interna involuntariamente”, diz. “Por que não fazer o mesmo com um jovem envolvido em uma conduta de risco?”

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