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Infiel, PMDB causa saia-justa para Dilma nos Estados

Mapa das coligações partidárias no Brasil mostra que PT e PMDB só se aliaram em um dos oito Estados com maior densidade eleitoral

Por Felipe Frazão 10 ago 2014, 07h27

Base de sustentação política do governo Dilma Rousseff, a união PT e PMDB, reeditada com a candidatura à reeleição da presidente e seu vice, Michel Temer, repete-se em dez disputas regionais neste ano – não necessariamente nas cabeças de chapa dos Estados. A quantidade é equivalente aos Estados em que o PMDB divide o palanque com o PSDB, do senador Aécio Neves – nove vezes. O PMDB aliou-se ainda ao PSB, do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em oito Estados. Apesar da igualdade numérica de palanques, os dez Estados em que PMDB e PT se coligaram concentram somente um quarto (25,6%) do eleitorado nacional. As nove unidades da federação onde há aliança PMDB-PSDB reúnem 30,1% dos votos.

A situação é inversa à da disputa de 2010. Naquele ano, PMDB e PT estiveram na órbita do mesmo candidato em catorze Estados – o dobro de vezes que o PMDB apoiou candidatos tucanos. Na ocasião, aqueles Estados representavam 46,3% do eleitorado, ao passo que a dobradinha PSDB-PMDB concentrava 32,2% do eleitorado.

Um infográfico interativo mostra quais partidos estão na órbita de cada candidato à Presidência da República e aos governos estaduais neste ano. O mapa das coligações também permite, por meio de combinações de siglas, que se descubra quem apoia quem nos Estados e no Distrito Federal. Além da barganha por tempo de TV durante o horário eleitoral gratuito, as coligações locais indicam por qual candidato à Presidência da República os partidos e seus candidatos pedirão votos regionalmente – ao menos de forma oficial.

O cientista político Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pondera, no entanto, que a influência dos palanques regionais no desempenho dos candidatos à Presidência só poderá ser medida durante a campanha. “Num país federativo e grande, muitas vezes se assume que o candidato a governador será uma espécie de cabo eleitoral do candidato a presidente, que tem de se preocupar em buscar voto em todo o país. Mas, de maneira geral, o grau de contribuição fica muito aquém do esperado. Em muitos lugares, o presidente é quem tem de contribuir para o candidato a governador”, diz Tavares Maluf. “De antemão, muito é difícil prever se essas diferenças nas coligações dos Estados em relação à União afetarão o desempenho dos candidatos à Presidência. Por enquanto é um elemento coadjuvante, que poderá assumir maior ou menor importância, dependendo de como a campanha se desenvolverá nos Estados e como cada candidato vai explorar os pontos fracos do adversário.”

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Segundo Tavares Maluf, o fato de o PMDB ter se aliado à situação quase a mesma quantidade de vezes que se aliou à oposição aponta a falta de identidade programática e ideológica do partido: “O PMDB é um partido dividido, uma somatória de caciques, apesar da marca forte. Depois da morte de seu timoneiro, Ulisses Guimarães, e da saída do grupo que fundou o PSDB, o partido passou a ser uma reprodução das suas seções estaduais, que praticamente só se unem pelo exercício do poder”.

Convenção – O racha interno no PMDB que fragmentou o apoio a Dilma ficou mais do que explícito na convenção nacional do partido, quando a repetição da chapa Dilma-Temer foi aprovada por apenas 59% dos peemedebistas – 41% eram contra. Em 2010, a composição entre os partidos teve aprovação de 85% do PMDB. A resistência nos comandos regionais do PMDB é fruto de uma série de dissabores dos caciques do partido com o governo Dilma, sobretudo no Congresso Nacional.

Há casos de peemedebistas em campanha dupla, como no Rio de Janeiro, onde o candidato do PMDB, Luiz Fernando Pezão, promete ceder espaço em seu palanque tanto para Dilma quanto para Aécio – o PSDB integra a chapa do governador. O PT lançou a candidatura própria do senador Lindbergh Farias, apoiado pelo PSB, do presidenciável Eduardo Campos. O cenário já foi classificado como um “bacanal eleitoral” e uma “orgia partidária” por políticos do Estado. As rusgas com o PMDB também prejudicaram a aliança na Bahia, o Estado com maior eleitorado do Nordeste. Depois de cogitar uma candidatura própria, o peemedebista Geddel Vieira Lima decidiu disputar o Senado na chapa do ex-governador Paulo Souto (DEM), palanque de Aécio Neves. Segundo pesquisa Ibope, Souto lidera a corrida. A união entre peemedebistas, democratas e tucanos prejudicou a candidatura petista de Rui Costa, o escolhido pelo governador Jaques Wagner. A Bahia é apenas um exemplo de “infidelidade” do PMDB com o PT nos principais palanques do país.

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Estados-chave – Nos oito Estados que tiveram maior peso para decidir as eleições de 2010 (também os maiores colégios eleitorais do Brasil), o PMDB alinhou-se da mesma maneira que o PSDB quatro vezes: Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e Pernambuco – que somam 24,4% do atual eleitorado brasileiro. O PT, por sua vez, só conseguiu se ficar ao lado do PMDB em Minas Gerais, o segundo Estado mais importante em participação nas urnas, com 10,6% dos eleitores. O maior colégio eleitoral do país, São Paulo (22,4%) e Paraná (5,5%) são exceções: PMDB, PT e PSDB têm candidatos próprios.

No Rio Grande do Sul, o candidato do PMDB, José Ivo Sartori, ganhou apoio do PSB, para disputar com o governador petista Tarso Genro e a senadora Ana Amélia (PP), apoiada pelos tucanos. Em Pernambuco, o PT apoia o candidato Arnaldo Monteiro (PTB), contra a aliança de Paulo Câmara, candidato do PSB escolhido por Eduardo Campos, mas que agregou o PMDB e PSDB em sua coligação. Os partidos de Campos e Aécio também somaram forças em mais dez palanques.

Tabu – O infográfico também expõe alianças do PT com siglas de oposição a Dilma – o que o partido tentou vetar neste ano. Em março, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, publicou norma que proibia os diretórios estaduais petistas de celebrarem “coligações majoritárias ou proporcionais com PSDB, DEM e PPS”. No entanto, as alianças com os oposicionistas foram avalizadas pelo comando do partido – e a regra, na prática, só valeu para evitar parcerias com o PSDB. Neste ano, petistas e tucanos não compartilham a mesma coligação em nenhum Estado, tampouco no Distrito Federal.

Em prol de candidaturas próprias de seu “parceiro preferencial”, o PMDB, o PT aceitou se alinhar na mesma órbita que partidos de oposição em quatro Estados: ao DEM no Maranhão e no Pará; e ao PPS no Amazonas. PT e DEM também apoiam uma candidatura própria do PSB na Paraíba. Apesar de não ter sido incluído na norma petista, o Solidariedade, partido recém-criado como um satélite da oposição sindical a Dilma, aparece na órbita de dois candidatos próprios do PT: Wellington Dias, no Piauí, e Camilo Santana, no Ceará.

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