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Importante aliado do PT, PSB cresce e sonha com voo solo

Nestas eleições, o partido ganhou espaço no Congresso e no Nordeste e planeja se consolidar no Sudeste antes de chegar à Presidência

Por Adriana Caitano
31 out 2010, 13h50

Ao barrar a candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República nas eleições de 2010, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) fez uma conta singela de custo e benefício. Em vez de bancar a egotrip do deputado cearence, que teria uma campanha cara e com chances ínfimas de triunfar, o partido optou por um arranjo eleitoral com o PT de Lula e de sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff. Dessa maneira, a legenda agora aproveita sua condição de satélite da estrela petista. O resultado das urnas comprova o acerto do cálculo. Com a votação do dia 3 de outubro, a legenda passou de 27 para 35 parlamentares – foi a que mais aumentou proporcionalmente sua bancada na Câmara dos Deputados. Com a ajuda de Lula nos palanques, conquistou, já no primeiro turno, o governo de dois grandes estados do Nordeste – Pernambuco e Ceará – e o do Espírito Santo. No segundo turno, abocanhou outros três governos – Piauí, Paraíba e Amapá. Com esse aumento de envergadura, o PSB já planeja os próximos passos. Quer conquistar o Sudeste. E seus líderes garantem: o partido tem, sim, a pretensão de chegar à Presidência da República. A decisão de não lançar candidatura própria deixou Ciro Gomes magoado, mas foi necessária para sacramentar rapidamente a coligação com o PT. “Sem essa coligação não teríamos tantos votos para seis governadores”, avalia o vice-presidente do partido, Roberto Amaral. Em troca, os petistas conquistaram espaço em palanques estaduais muito importantes para Dilma Rousseff. “Os dois lados saíram ganhando”, diz o líder do governo na Câmara, deputado federal reeleito Cândido Vaccarezza (PT-SP). “O PSB cresceu junto com o PT, só quem perdeu foi a oposição.” Segundo Vaccarezza, o PSB é um aliado estratégico do governo e apóia Lula desde a campanha de 1989 – apesar de ter lançado candidatura à Presidência em 2002, com Anthony Garotinho (hoje no PR). Isso seria uma prova de que a sigla é coerente, e um dos motivos de seu crescimento ao longo dos anos. No entanto, nos oito anos de governo petista, somente três socialistas comandaram alguma pasta importante: Ciro Gomes, que foi ministro da Integração Nacional, Roberto Amaral e Eduardo Campos, que se sucederam na Ciência e Tecnologia. Os integrantes do partido evitam falar em novos cargos num governo Dilma, mas não escondem acreditar que um espaço maior seria merecido. “Em respeito à população, não vamos antecipar essa discussão, mas, falando em tese, o fortalecimento do partido com certeza enseja maior participação no plano nacional, até porque o PSB terá grande expressão no Nordeste”, diz Rodrigo Rollemberg, senador recém-eleito por Brasília e atual líder do partido na Câmara. Semelhanças – O momento vivido pelo Partido Socialista Brasileiro permite a comparação com a trajetória do PFL, que transformou-se em DEM em 2007. A diferença básica é o lado de que está cada uma das legendas: enquanto PSB é aliado da esquerda e sempre apoiou o governo Lula, o DEM é da direita liberal e, via de regra, aliado do PSDB, que comandou o país por 8 anos pelas mãos de Fernando Henrique Cardoso. O líder tucano na Câmara dos Deputados, deputado João Almeida, acredita que o fortalecimento regional dos socialistas, principalmente no Nordeste, é o maior ponto de semelhança entre o PSB e o antigo PFL. “O Nordeste é o melhor pasto para o fisiologismo, que está enraizado por lá há muitos anos”, comenta. Para ele, o PSB não é muito diferente das demais legendas que “se alojam” no poder e se alimentam do fisiologismo que caracteriza o sistema partidário brasileiro. “É mais um partido utilitário que está sempre disputando espaço dentro do governo, emenda, cargo, diretoria de empresa. A ideologia está só no nome”, diz Almeida. Rodrigo Rollemberg diz que não é bem assim: “A luta por cargos nunca foi tradição nem foi importante para o nosso partido”. Histórico – O PSB foi criado em 1947 e ressurgiu em 1985, com a abertura política após o regime militar. Todos os ideais do partido mantêm-se idênticos aos originais, juram seus dirigentes. Mas questões como a implantação do socialismo no Brasil já não podem ser levadas assim, digamos, a sério. “Ele é nosso ideal, mas sabemos que não é possível implantá-lo de vez no Brasil, então o adaptamos à realidade daqui, com uma social democracia de esquerda, liberdade e distribuição de renda, sem abrir mão da soberania e do crescimento do país, tendo o estado como indutor do desenvolvimento”, explica o vice-presidente da legenda, Roberto Amaral. Projeções – Apesar das propostas socialistas, o PSB tem planos bem convencionais para o futuro. “Temos pretensão nacional, mas fazemos política com condições objetivas e vamos nos preparar para chegar lá mais fortes. Só vamos considerar o partido consolidado quando nos fortalecemos no triângulo das bermudas: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro”, diz Amaral, referindo-se aos três estados mais populosos do país. Não se pode negar que o partido dê passos reais na direção apontada. Nestas eleições, a legenda conquistou a terceira maior bancada na Câmara dos Deputados paulista e teve o segundo deputado federal mais votado no estado, o polivalente Gabriel Chalita, que é político, educador, escritor, autor dos versos imortais “Nadem os golfinhos/Gritem os macaquinhos” e amigão do peito do padre-cantor Fábio de Melo. Em Minas, o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, conseguiu o cargo em 2008 com o apoio tanto do PT quanto do PSDB – e acabou com 16 anos de poder dos petistas na cidade. Em terras fluminenses, o partido ainda não vai tão bem. O jogador Romário, eleito deputado federal, ficou em sexto lugar na votação e, por enquanto, é o único nome de destaque do PSB no Rio, sem nunca ter ocupado um cargo político na vida. Enquanto não conquista o “triângulo das bermudas”, o PSB aposta em seu líder mais popular atualmente para ganhar espaço nacional: o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, neto de um dos nomes históricos do partido, Miguel Arraes, que governou o mesmo estado,. Campos é o atual presidente da legenda e queridinho de Lula. Acaba de ser reeleito como o governador proporcionalmente mais bem votado do país, com 82,84% dos votos válidos. Para completar, sua mulher, Ana Arraes, foi eleita a deputada federal mais bem votada do estado. É certo que muita coisa pode acontecer até lá, mas, em 2014, Eduardo Campos poderá ter criado asas suficientes para levar o partido para voo solo. Certo, Ciro?

Crescimento do PSB:

Governadores

2006 – 3

2010 – 3 eleitos (PE, CE e ES) e 3 em primeiro lugar nas pesquisas do segundo turno (AP, PI, PB)

Vagas no Senado

2006 – 2

2010 – 4

Vagas na Câmara Federal

2006 – 27

2010 – 35 (aumento de 29,6%)

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Deputados estaduais

2006 – 60

2010 – 73

Principais nomes:

  • Eduardo Campos – presidente do partido e reeleito governador de Pernambuco
  • Ciro Gomes (ex-PMDB, PSDB e PPS) – deputado federal, ex-ministro da Integração Nacional, sem mandato em 2011
  • Luiza Erundina (ex-PT) – deputada federal reeleita por São Paulo, ex-prefeita da capital paulista
  • Gabriel Chalita (ex-PSDB) – vereador de São Paulo, nestas eleições foi eleito deputado federal com o segundo maior número de votos do país
  • Renato Casagrande – foi deputado federal e senador pelo Espírito Santo, acaba de se eleger governador do estado
  • Márcio França – presidente do partido em São Paulo, é deputado federal, líder do PSB na Câmara e foi reeleito nestas eleições
  • Márcio Lacerda – prefeito de Belo Horizonte, eleito com o apoio de Fernado Pimentel (PT) e o ex-governador do estado Aécio Neves (PSDB)
  • Romário – jogador de futebol, recém-eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro. Não tem poder político, mas foi um grande puxador de votos da legenda
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