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Haitianos vindos do Acre superlotam abrigo em São Paulo

Cerca de 450 imigrantes passaram nos últimos dez dias pelo Centro Pastoral dos Migrantes, que tem capacidade para pouco mais de cem pessoas

Por Mariana Zylberkan
24 abr 2014, 01h13

Uma fila de imigrantes haitianos se formou na entrada do Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes, ao lado da igreja Nossa Senhora da Paz, no bairro do Glicério, no centro de São Paulo, no fim da tarde desta quarta-feira. O local é destinado a abrigar imigrantes desde 1939, mas os últimos dez dias têm sido atípicos desde que se tornou rota de haitianos que rumaram à capital paulista. Pelo menos 400 imigrantes do Haiti desembarcaram na rodoviária paulistana desde o fechamento do abrigo em Brasileia, no Acre. O local no Norte, enquanto permaneceu funcionando, chegou a receber 15.000 haitianos ao longo de três anos e encerrou as atividades pelo estado deplorável das instalações, desgastadas após trabalharem durante esse tempo todo bem acima da capacidade de abrigar 400 pessoas – a lotação raramente ficava abaixo de 2.500. A situação piorou há pouco mais de um mês, quando a cheia do Rio Madeira praticamente isolou a região. A fila de haitianos ao lado da igreja Nossa Senhora da Paz foi organizada para distribuir refeição aos mais de duzentos imigrantes que ainda não encontraram casa ou emprego e permanecem no abrigo. A alimentação foi garantida às pressas em um bar da região, após a igreja receber a doação de 1.500 reais. “Hoje vamos conseguir alimentá-los, mas não sabemos como serão os próximos dias”, diz o padre Paolo Parise, um dos responsáveis pela Pastoral.

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Com capacidade para atender 110 imigrantes por dia, o Centro Pastoral é ocupado atualmente por cerca de 210 haitianos, fora a centena de pessoas vindas de outros países, que lota o lugar, como Colômbia e Congo. Sem espaço no abrigo, o auditório da instituição serve de dormitório. O pátio em frente à igreja e separado da rua por um portão fica repleto de haitianos à espera de emprego. Só a conta de água da instituição, que não passa de 7.000 reais por mês, deverá chegar a 9.000 reais até o fim de abril. Para esta quinta-feira é esperada a visita de sete empresas que irão ao abrigo recrutar mão de obra para atuar na cidade de São Paulo.

Há alguns dias, padre Paolo tem feito recorrentes pedidos de ajuda à prefeitura de São Paulo para ceder um espaço apropriado para abrigar a leva de imigrantes, mas sem sucesso. “Eles dizem que a prioridade é atender brasileiros”, relata. O padre conta que um grupo de haitianos foi encaminhado para um abrigo da prefeitura, mas acabou voltando para a igreja Nossa Senhora da Paz.

Procurada pela reportagem do site de VEJA, a secretaria municipal de direitos humanos não se pronunciou sobre o assunto.

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Trajeto – Grande parte dos haitianos abrigados no centro de São Paulo viajou de avião fretado pelo governo do Acre de Brasileia até Porto Velho. Da capital de Rondônia, seguiram de ônibus até São Paulo em viagem de mais de 3.000 quilômetros. A princípio, o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, pediu ajuda para o Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes para intermediar a chegada dos imigrantes a São Paulo, já que a maioria seguiria para cidades do Sul do país.

Apesar das condições adversas do abrigo, os haitianos estão felizes por ter saído de Brasileia. Para eles, a cidade São Paulo tem mais oportunidades e, por isso, muitos desistiram de seguir viagem até o Sul do país, como estava previsto. “Aqui é uma capital, há mais chances de conseguir um bom emprego”, diz Fener Duploisi, de 27 anos, que está há uma semana no Brasil e há três dias em São Paulo.

Nos arredores da Igreja Nossa Senhora da Paz, a influência da imigração haitiana começa a aparecer: uma pensão na rua dos Estudantes está com todos os quartos ocupados por haitianos, que “dividem” músicas em francês com quem passa pela calçada. Os pequenos mercados da região têm vendido mais caldo de galinha pronto, frango e fubá, ingredientes recorrentes na culinária haitiana. Em frente à pensão, um grupo de dez haitianos ocupava o balcão de um bar para assistir a partida entre o Real Madrid e o Bayern de Munique, pela semifinal da Liga dos Campeões. Segundo o dono do bar, apenas partidas de futebol europeu costumam atrair a atenção dos novos moradores da vizinhança. “Eles não dão bola para os times brasileiros.” Para eles, o Brasil só está em baixa no futebol.

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