Fiel a seu estilo, Dilma faz discurso protocolar na Turquia
Presidente abre visita ao país com elogios à saudável política econômica turca
Em sua passagem pela Turquia, há dois anos, Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, alegremente, à plateia de um seminário para empresários que o Brasil dispõe de “17 milhões de quilômetros de fronteiras terrestres”, e os informou de que, no país, “qualquer vendedor de rua é chamado de turco”. Fiel a seu estilo, a presidente Dilma Rousseff evitou os improvisos e, diante de plateia semelhante, que reunia representantes de cerca de 1100 empresas turcas e de empresas brasileiras como Odebrecht, Metalfrio, Petrobras e Vale do Rio Doce, apresentou nesta sexta-feira, primeiro dia de sua visita oficial à Turquia, um discurso protocolar.
Como fez repetidamente em seu giro pelo exterior, ela criticou a politica econômica dos países europeus que hoje apresentam dívidas soberanas elevadas. Também os Estados Unidos foram criticados por promover “uma espécie de guerra cambial” – ou seja, emitir moeda para manter o valor do dólar artificialmente baixo, o que encarece as divisas de países como Brasil e Turquia e prejudica a competitividade de seus produtos no mercado internacional.
“Neste momento, Brasil e Turquia contam com economias saudáveis, por apostar no desenvolvimento do seu mercado interno, investir em políticas sociais e contar com uma coordenação macroeconômica robusta”, disse a presidente. Ela afirmou que Brasil e Turquia estão em estágios semelhantes de desenvolvimento e têm “afinidades de visão de mundo”, por isso devem unir esforços para reformar as instituições financeiras internacionais.
“No próximo encontro de cúpula do G20, em Cannes, os dois países devem pressionar contra a imobilidade das nações ricas”, disse ela. A presidente observou ainda que o volume de comércio entre Brasil e Turquia, que neste ano deve ficar em torno de 2,7 bilhões de dólares, é irrisório em relação às respectivas balanças comerciais, e celebrou os esforços para incrementá-lo. Entre as iniciativas de colaboração destacadas pela presidente, estiveram a compra de aeronaves da Embraer pela Turquia e a participação turca na fabricação do avião de carga militar KC 390.
O dia da presidente em Ancara, a capital turca, começou com uma visita ao gigantesco memorial de Mustafa Kemal Atatürk, o militar-estadista que, ao termino da I Guerra Mundial, forjou o estado turco a partir dos escombros do Império Otomano. Dilma depositou flores diante do túmulo e deixou uma inscrição no livro do cerimonial: “Em nome de todos os brasileiros, e em meu nome como presidente do Brasil, estou aqui para homenagear o grande líder Mustafa Kemal Atatürk, fundador da Turquia moderna e um dos grandes líderes do século XX”.
Durante a tarde, a presidente e sua comitiva se reúnem e participam de almoço com o presidente turco Abdullah Gül. No regime turco, o presidente tem funções em larga medida cerimoniais. Gül, no entanto, é uma figura central na política turca. Ele é um dos líderes do partido que desde 2002 ocupa o poder, o AK Parti, que costuma ser descrito como de inclinação “islâmica moderada”. Ex-chanceler, ele é um dos formuladores da política externa turca e foi um dos artífices da aproximação entre Brasil e Turquia observada na última década.
Dilma deveria se encontrar na manhã de sábado, em Istambul, com o primeiro ministro Recep Tayyip Erdogan, um dos políticos mais populares do Oriente Médio na atualidade. A morte da mãe de Erdogan na manhã desta sexta-feira, no entanto, causou o cancelamento do encontro. Com isso, a volta da presidente ao Brasil, antes marcada para a noite de sábado, pode ser antecipada.