Exclusivo: há dois Eduardos Cunhas
Ganha um navio-sonda quem adivinhar qual é a versão verdadeira do presidente da Câmara: político incendiário ou parlamentar sereno?
Em seu dia de fúria, o deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara, duplicou-se: há um parlamentar para consumo externo e outro parlamentar que só existe longe dos holofotes.
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O dia de fúria foi ontem, sexta-feira. Acusado de extorquir pessoalmente 5 milhões de dólares do lobista Júlio Camargo, Cunha rompeu com o Palácio do Planalto e, para vingar-se do governo, a quem atribui a denúncia da extorsão, autorizou CPIs incômodas para o Palácio do Planalto e pediu atualização de pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Em conversas reservadas, não escondeu que podia se “ferrar”, mas levaria o governo junto. “Guerra é guerra”, disse.
O outro Cunha esteve em alta à noite, em pronunciamento de cinco minutos em cadeia nacional. Era outro deputado: ponderado, sensato. Disse: “Hoje o Brasil vive uma crise. Crise com a qual todos sofrem e que o governo busca enfrentar com medidas de ajuste”. Completou dizendo que a Câmara analisa as medidas “com critério” e “atenta à governabilidade, que é nosso dever assegurar”. Em sua versão ponderada, Cunha também já disse que os pedidos de impeachment contra Dilma eram coisa de “republiqueta de bananas”. Na versão aloprada, quer sobre sua mesa uma pilha de pedidos de impeachment devidamente atualizados por seus proponentes.
O eleitor informado pode escolher o Cunha que prefere: o político incendiário, que ameaça levar o governo junto com seu naufrágio, ou o parlamentar sereno cuja missão é assegurar a governabilidade. Ganha um navio-sonda quem adivinhar qual a versão verdadeira.