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Ex-funcionário acusa pastor Marcos Pereira de tramar rebeliões de presos

Homem que trabalhou na Assembleia de Deus dos Últimos Dias afirma que líder religioso ordenava motins para aparecer como pacificador e ganhar poder

Por Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
Atualizado em 10 dez 2018, 10h02 - Publicado em 9 Maio 2013, 19h34

Os depoimentos que compõem a investigação da Polícia Civil contra o pastor Marcos Pereira desmontam uma farsa de grandes proporções. Entre as vítimas de estupros e ameaças, destaca-se o relato de um ex-funcionário da Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADUD) que abandonou o pastor em 2009 e, em 2012, decidiu por iniciativa própria denunciar os crimes que testemunhou. Segundo conta, era Marcos Pereira quem ordenava rebeliões em presídios para, em seguida, aparecer em público como conciliador, evitando mortes e operando a rendição de bandidos. A lista de encenações inclui a mais famosa delas, em 2004, quando o pastor foi chamado pelo então secretário de Segurança, Anthony Garotinho, hoje deputado federal pelo PR, para conter um motim na Casa de Custódia de Benfica, na Zona Norte. Na ocasião, morreram 34 detentos de facções inimigas do Comando Vermelho – com o qual Pereira mantinha contato próximo. O ex-funcionário acusa Pereira de ter tramado a rebelião com Silvana Santos da Silva, irmã do traficante Márcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP.

Em dois depoimentos que somam dez páginas, prestados nos dias 7 e 9 de março de 2012, o ex-seguidor de Marcos Pereira afirma que em 2006 o pastor e Silvana deram ordens para que bandidos do Comando Vermelho perpetrassem os ataques que aterrorizaram o Rio na noite de 28 de dezembro – episódio que ficou conhecido como “Rio de Sangue” e deixou 20 pessoas mortas em explosões e alvejamento de carros e cabines da PM, além de incêndios de ônibus.

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Ainda segundo o ex-funcionário, “os ataques criminosos ocorridos em 28 de dezembro de 2006 no Rio de Janeiro foram orquestrados pelo pastor”, a partir de uma intermediação feita por Silvana com o irmão, preso. Como fogo e gasolina, a receita do plano era a seguinte: reunir criminosos soltos, e que precisavam de dinheiro, para ir às ruas atacar em pontos distintos da cidade, queimando carros, ônibus e atacando delegacias e cabines policiais. “Cada ônibus incendiado rendia de 1.500 a 2.000 reais”, disse ele à polícia. Os criminosos sentiram-se motivados a atacar a partir de declarações do governador Sérgio Cabral de que a repressão ao tráfico de drogas seria intensificada. O pastor operou, então, uma trégua verdadeira, mas entre os traficantes: facções que guerreavam há anos, Comando Vermelho, Amigos dos Amigos e Terceiro Comando passaram a deixar de lado as diferenças para enfrentar a polícia.

Outra testemunha, que estava presa em Benfica quando ocorreu a rebelião, afirmou que “era comum ouvir entre os presos que Marcos tinha grande influência junto às lideranças do crime organizado do Rio de Janeiro” e que a ordem na Casa de Custódia era que a rebelião não poderia ter fim até que o pastor Marcos chegasse. O objetivo do pastor era se promover como um interlocutor capaz de frear a barbárie. O ex-funcionário também acusa Pereira e uma lista de políticos de tramar um ataque na madrugada das eleições de 2010. A ideia era evitar a reeleição do governador Sérgio Cabral, franco favorito e reeleito em primeiro turno.

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https://www.youtube.com/watch?v=cckgo09-CsE

UPPs – O ex-funcionário dedica uma parte de seu relato às UPPs. Diz ele que, a partir das Unidades de Polícia Pacificadora, criadas em 2008, o pastor começou a perder poder e receita nas favelas antes ocupadas pelo tráfico. Nesses locais, a ADUD recebia entre 25.000 e 35.000 reais por culto, pagos pelo tráfico.

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Os depoimentos destacam a forma como o pastor usa, ora o nome de Deus, ora o nome de bandidos para manter sua influência. O nome de Marcinho VP, por exemplo, servia para intimidar inimigos do pastor, o que acabava rendendo ao traficante a autoria de crimes que, na verdade, foram pensados pelo pastor e por Silvana. Em outros momentos, como para persuadir suas seguidoras a fazer sexo, Pereira usava o nome de Deus.

Nos arredores da sede da ADUD, são conhecidas as imagens de mulheres que se vestem completamente cobertas e são privadas de ter acesso a meios de comunicação – rádio, TV, computador e internet são proibidos nos limites da igreja de Marcos Pereira. O que a polícia descobre, agora, é uma rede de exploração a serviço das taras do líder supremo do grupo.

Os mais de 20 depoimentos contêm detalhes arrepiantes dos abusos cometidos contra menores – entre eles um grupo de três irmãs e um irmão que moravam no prédio, com idades entre 6 e 13 anos. Filhos de um presidiário preso em Bangu, os menores apanhavam e eram ameaçados com as palavras repetidas pelo pastor em muitas outras circunstâncias: vocês estão com o demônio no corpo e estão mentindo. Foi isso o que ouviu a menina de 6 anos ao ameaçar que denunciaria a uma tia o fato de as irmãs terem feito sexo anal com Pereira. Os detalhes desta cena estão no depoimento de um ex-funcionário da igreja. Ele contou à polícia, em março de 2012, que Marcos Pereira, ao tomar ciência das intenções da menina de 6 anos, surrou a criança e enfiou sua cabeça em um vaso sanitário, para depois aplicar chutes e dizer que ela estava mentindo e com “o diabo no corpo”.

Nas dez páginas de seu relato à polícia, a testemunha afirma que o líder da Assembleia de Deus dos Últimos Dias “fez sexo com diversas irmãs ao mesmo tempo em motéis” e que o pastor contratava “prostitutas, garotos de programa e travestis” para participarem das orgias. O ex-colaborador diz ainda que “aproximadamente 120 mulheres que frequentavam ou frequentam” a igreja de Pereira foram vítimas dos abusos. “E que o pastor Marcos gosta de ver várias mulheres fazendo sexo grupal”.

O relato minucioso indica que Marcos Pereira praticava, na vida pessoal, outro ato considerado abominável pela doutrina evangélica: o aborto. A rotina de abortos seria tão frequente que Marcos Pereira teria, segundo o ex-funcionário, um médico contratado para a prática ilegal.

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