Ex-diretor da Odebrecht enviou R$ 11,4 milhões para o exterior, diz Moro
Repasses de dinheiro foram utilizados pelo juiz como argumento para afirmar haver risco de fuga do executivo Márcio Faria, preso na 14ª fase da Lava Jato
O ex-diretor da Odebrecht Márcio Faria, preso na Operação Lava Jato, enviou 11,4 milhões de reais para o exterior depois do início das investigações sobre o escândalo do petrolão. Os repasses, realizados em quatro cotas entre agosto e setembro do ano passado, foram utilizados nesta terça-feira pelo juiz federal Sergio Moro como indício de que o executivo poderia fugir do país ou continuar a praticar crimes se tivesse a prisão preventiva revogada. Na avaliação do magistrado, “há prova, em cognição sumária, de que a Odebrecht utiliza-se, para a prática dos crimes, de empresas e contas de fachada, movendo-se no mundo das sombras”.
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Em um ofício encaminhado ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Sergio Moro afirmou que o fato de Márcio Faria ter se afastado dos quadros da Odebrecht e de ter entregado os passaportes às autoridades não é suficiente para minimizar o risco de fuga ou as chances de ele destruir provas do esquema criminoso. O juiz lembrou que Faria também tem nacionalidade suíça e não poderia ser extraditado caso fosse condenado no Brasil e se refugiasse no país europeu. Ele citou como exemplo o episódio envolvendo o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que foi condenado no julgamento do mensalão, fugiu do Brasil e ainda aguarda para ser extraditado da Itália.
Nas explicações remetidas ao TRF 4ª Região, tribunal que vai analisar o mérito de um pedido de habeas corpus do executivo, o juiz voltou a rejeitar a interpretação de que as prisões na Lava Jato serviriam para forçar confissões e disse que a custódia dos suspeitos é necessária “para interromper o ciclo delitivo e a sangria aos cofres públicos”. “Quer sejam crimes violentos ou crimes graves de corrupção, ajuste de licitações e lavagem, como é o caso, a prisão cautelar justifica-se para interrompê-los, já que reiterados e sistematizados, e para proteger a sociedade e outros indivíduos de sua renovação”, afirmou.
Para o juiz responsável pela Lava Jato, as provas contra o executivo Márcio Faria não se resumem às delações premiadas de colaboradores como o doleiro Alberto Youssef ou o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Existem, segundo ele, documentos de contas no exterior, recibos de depósitos atribuídos à Odebrecht, tabelas com referência à empresa como integrante do clube do bilhão e registros em um celular apreendido com o doleiro Alberto Youssef de mensagens eletrônicas, telefones e e-mails de executivos da companhia.